Capítulo 3

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Atlas estava sentado na escada do colégio durante um horário vago, causado pela falta de um professor. Ele observava a chuva fina persistente que caía, refletindo o desânimo do dia em seu semblante cansado e encharcado.

Ao seu lado, Plínio reclamava do tempo chuvoso, sua voz cheia de frustração enquanto enfiava a mão, coberta de farelos de salgadinho, de volta no saco. Ele pegava mais um punhado e o levava à boca, continuando a resmungar sobre como a chuva havia estragado o dia deles. Ambos estavam completamente molhados, resultado de terem caminhado até o colégio a pé. No trajeto, um motorista desavisado havia passado por uma poça de água, lançando um manto de água suja sobre eles.

Justamente quando Atlas pensava que o dia não poderia ficar pior, Austin apareceu. Com seu jeito irreprimível e um sorriso exagerado, ele parecia pronto para adicionar mais um toque de desconforto ao dia já arruinado de Atlas.

— Oi, amigão. — Abraçou o moreno apertando-o fortemente, deixando o garoto surpreso com a atitude repentina. - Cara, você tá péssimo! - Soltou-o dando uma boa examinada.

— Meu carro tá na oficina, tive que vir andando.

— Por que não disse? Eu poderia te dar uma carona. — O garoto disse de forma solicita. Logo Austin Grandy querendo ajudar alguém? Ele devia querer muito ganhar a sua confiança.

E por que ele diria algo logo pra ele, afinal?

— E você tem carro? — Atlas perguntou, arqueando uma sobrancelha. Nunca havia visto o ruivo dirigir na vida.

— Não. Mas o Hugo me traz todos os dias, ele pode te dar carona também. Eu ainda estou tirando a minha carteira.

— Reprovou no psicotecnico? — Atlas provocou, com um sorriso malicioso no rosto. Ele estava começando a entrar na brincadeira que Austin o metera.

Já que estava no comando, poderia tirar um pouco com a cara do garoto. Em qual outra circunstância ele teria uma chance grandiosa dessas?

— Atlas Boyle, você pode ser bem cruel às vezes. — Austin sorriu claramente se divertindo com a pequena provocação, enquanto passava a mão no cabelo de Atlas e o bagunçava de forma descontraída, criando um visual desleixado.

Austin não parecia se incomodar facilmente. Precisaria de muito para irritá-lo a ponto de conseguir afastá-lo totalmente.

— Se você está aqui é porque ainda não desistiu daquela ideia idiota, né?

— Eu nunca desisto do que eu quero, Atlas. — Sorriu determinado. — Se isso fosse um filme clichê, eu poderia te dar algo que você queira. Tipo te ajudar em espanhol, porque eu sou bom em espanhol. Mas você é boliviano, então não faz sentido. — Ele riu, acompanhando Atlas que gargalhava. — Você não facilita pra mim!

— Então por isso você tá bancando o perseguidor? — Sorriu de maneira irônica, os lábios curvados em um gesto que misturava desdém e diversão, os olhos cintilando com uma provocação calculada.

— Cada um usa o que tem. — Austin respondeu com um sorriso atrevido, dando um leve encolhimento de ombros.

Ele não cedia aos zombamentos.

— Se você usasse essa tática pra conquistar a Denise ela já teria ligado pra polícia. — Atlas zombou, rindo levemente e balançando a cabeça, imaginando a situação.

— É por isso que preciso da sua ajuda. — Austin respondeu, com um olhar sincero e um tom de súplica. - Eu preciso de um pouco de orientação para acertar as coisas e não parecer um total idiota.

— Eu não sei, Austin. — Atlas respondeu, sua expressão mudando para um olhar distante e hesitante. — Eu realmente não gosto de me meter na vida dos outros. Além disso, tenho que ir para a próxima aula. — Ele fez uma pausa, dando uma última olhada para Austin antes de se levantar. — Até mais. — Atlas se afastou, começando a caminhar para a sala de aula, enquanto Austin observava, um pouco desanimado, mas não dado por vencido.

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