Atlas estava sentado na escada do colégio durante um horário vago, causado pela falta de um professor. Ele observava a chuva fina persistente que caía, refletindo o desânimo do dia em seu semblante cansado e encharcado.
Ao seu lado, Plínio reclamava do tempo chuvoso, sua voz cheia de frustração enquanto enfiava a mão, coberta de farelos de salgadinho, de volta no saco. Ele pegava mais um punhado e o levava à boca, continuando a resmungar sobre como a chuva havia estragado o dia deles. Ambos estavam completamente molhados, resultado de terem caminhado até o colégio a pé. No trajeto, um motorista desavisado havia passado por uma poça de água, lançando um manto de água suja sobre eles.
Justamente quando Atlas pensava que o dia não poderia ficar pior, Austin apareceu. Com seu jeito irreprimível e um sorriso exagerado, ele parecia pronto para adicionar mais um toque de desconforto ao dia já arruinado de Atlas.
— Oi, amigão. — Abraçou o moreno apertando-o fortemente, deixando o garoto surpreso com a atitude repentina. - Cara, você tá péssimo! - Soltou-o dando uma boa examinada.
— Meu carro tá na oficina, tive que vir andando.
— Por que não disse? Eu poderia te dar uma carona. — O garoto disse de forma solicita. Logo Austin Grandy querendo ajudar alguém? Ele devia querer muito ganhar a sua confiança.
E por que ele diria algo logo pra ele, afinal?
— E você tem carro? — Atlas perguntou, arqueando uma sobrancelha. Nunca havia visto o ruivo dirigir na vida.
— Não. Mas o Hugo me traz todos os dias, ele pode te dar carona também. Eu ainda estou tirando a minha carteira.
— Reprovou no psicotecnico? — Atlas provocou, com um sorriso malicioso no rosto. Ele estava começando a entrar na brincadeira que Austin o metera.
Já que estava no comando, poderia tirar um pouco com a cara do garoto. Em qual outra circunstância ele teria uma chance grandiosa dessas?
— Atlas Boyle, você pode ser bem cruel às vezes. — Austin sorriu claramente se divertindo com a pequena provocação, enquanto passava a mão no cabelo de Atlas e o bagunçava de forma descontraída, criando um visual desleixado.
Austin não parecia se incomodar facilmente. Precisaria de muito para irritá-lo a ponto de conseguir afastá-lo totalmente.
— Se você está aqui é porque ainda não desistiu daquela ideia idiota, né?
— Eu nunca desisto do que eu quero, Atlas. — Sorriu determinado. — Se isso fosse um filme clichê, eu poderia te dar algo que você queira. Tipo te ajudar em espanhol, porque eu sou bom em espanhol. Mas você é boliviano, então não faz sentido. — Ele riu, acompanhando Atlas que gargalhava. — Você não facilita pra mim!
— Então por isso você tá bancando o perseguidor? — Sorriu de maneira irônica, os lábios curvados em um gesto que misturava desdém e diversão, os olhos cintilando com uma provocação calculada.
— Cada um usa o que tem. — Austin respondeu com um sorriso atrevido, dando um leve encolhimento de ombros.
Ele não cedia aos zombamentos.
— Se você usasse essa tática pra conquistar a Denise ela já teria ligado pra polícia. — Atlas zombou, rindo levemente e balançando a cabeça, imaginando a situação.
— É por isso que preciso da sua ajuda. — Austin respondeu, com um olhar sincero e um tom de súplica. - Eu preciso de um pouco de orientação para acertar as coisas e não parecer um total idiota.
— Eu não sei, Austin. — Atlas respondeu, sua expressão mudando para um olhar distante e hesitante. — Eu realmente não gosto de me meter na vida dos outros. Além disso, tenho que ir para a próxima aula. — Ele fez uma pausa, dando uma última olhada para Austin antes de se levantar. — Até mais. — Atlas se afastou, começando a caminhar para a sala de aula, enquanto Austin observava, um pouco desanimado, mas não dado por vencido.

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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...