Austin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício.
Mas toda essa parede...
Austin mergulhou no lago, sentindo a água fria arrepiar sua pele de imediato. Ele fechou os olhos e relaxou um pouco, permitindo que o mundo ao seu redor desaparecesse por um momento, enquanto afundava na imensidão do lago. A água pareceu envolvê-lo em um manto gelado e sombrio e ele se deixou levar, sentindo o corpo ser sustentado pela leveza da corrente.
Quando emergiu, viu Denise o observando de perto, o rosto dela a poucos metros. Ela sorriu, e ele retribuiu com um sorriso breve, quase automático. Passou a mão pelos cabelos molhados, afastando-os do rosto, enquanto desviava o olhar para o lado, evitando encará-la por mais tempo que o necessário.
Ela parecia tranquila e à vontade. Ele, por outro lado, por mais que tentasse relaxar, algo o impedia de estar cem por cento presente naquele momento.
— A água tá gelada, né? — Foi a única coisa que ela disse. Ele só acenou positivamente com a cabeça e sorriu.
Depois de alguns minutos, Austin decidiu sair da água. A garota o olhou com uma expressão confusa, mas ele evitou fazer contato visual. Enquanto caminhava em direção à margem, enxugando-se rapidamente, ele olhou ao redor, procurando por Atlas. Ele se sentia culpado por deixá-lo sozinho e as coisas não eram tão divertidas sem ele.
No entanto, ao chegar onde o tinha visto pela última vez, Atlas não estava mais lá. Austin olhou em todas as direções, esperando vê-lo sentado em algum lugar, mas não havia nenhum sinal dele. Até mesmo sua bicicleta, que estava encostada perto das árvores, havia desaparecido.
Atlas tinha ido embora, silenciosamente, sem se despedir.
E, por um momento, a sensação de que ele estava no lugar errado, fazendo a coisa errada, tomou conta dele. Ele não queria estar onde Atlas não estivesse.
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Na manhã de terça-feira, Austin finalmente viu Atlas de novo. Ele estava na cantina, na fila do lanche e Austin decidiu se aproximar. Enquanto Atlas se servia, o ruivo esticou o braço, pegando uma banana próxima a ele.
Seus olhares se encontraram por um instante, e eles trocaram sorrisos discretos.
— Oi — disse Austin, tentando soar descontraído, mas ainda com aquele incomôdo do outro dia preso na garganta.
— Oi — Atlas respondeu, enquanto pegava um suco de melancia.
— Pra onde você foi ontem? — Austin não perdeu tempo, ele havia pensado naquilo a noite inteira.
Atlas fez uma pausa, depois deu uma leve risada e fingiu uma tosse curta, colocando a mão na boca.
— Ah... minha gripe piorou, sabe? Achei melhor ir embora — Atlas respondeu, dando de ombros como se não fosse grande coisa, embora sua expressão mostrasse um leve desconforto. — Eu não queria atrapalhar.
Austin assentiu, mas ainda sentia que havia algo errado.
— Entendi...Atlas, você não atrapalha. Mas espero que esteja melhor agora.
