O Águias marcou um gol no último minuto da partida, quando o jogo já parecia acabado, encerrando o placar em 1x0. O som do chute preciso ecoou pelo campo, e, em um instante, a bola balançou a rede. A torcida explodiu em um grito coletivo de euforia, alguns balançando bandeiras e erguendo cartazes, outros se abraçando em extase.
Atlas, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para Austin e exclamou, quase sem fôlego:
— Vamos lá parabenizar as meninas!
Sem esperar uma resposta, ele começou a descer a arquibancada com pressa, o rosto estampado com um sorriso largo.
Austin bufou como se precisasse fazer uma obrigação chata, como lavar louças após o almoço ou tirar o lixo.
Ele permaneceu parado por um momento, sentindo uma onda de nervosismo crescer em seu peito. A ideia de se aproximar de Denise o deixou ansioso, como se o simples fato de estar perto dela trouxesse à tona todas as emoções que ele estava tentando evitar. Ele respirou fundo e, com certa hesitação, começou a seguir Atlas, seus passos mais lentos, quase como se estivesse se arrastando.
Atlas chegou primeiro às meninas, e antes que Austin pudesse sequer tentar acelerar o passo, ele viu o moreno envolver algumas das jogadoras em um abraço vibrante e leu um "parabéns" entusiasmado em seus lábios.
Denise estava feliz como nunca e Austin sorriu observando de longe a interação dos dois, também contente.O ruivo respirou fundo se preparando para continuar e quando, finalmente, resolveu se aproximar de verdade, sentiu um toque firme em seu ombro. Ele se virou, surpreso, e deu de cara com Hugo.
— Então é esse o seu compromisso, hein? Ver a Denise jogar! Agora entendi porque você estava tão nervoso — um sorriso malicioso se formou nos lábios do amigo. — Por que não nos contou, cara?
Austin ficou sem palavras, sem saber como reagir. Sua mente estava em tela preta.
— Já estava estranhando, você não fala da Denise há um tempão. — Hugo continuou — Ah, não! Não acredito...você tá pegando ela finalmente? É isso que você tá escondendo da gente?
— Não, cara! Eu não tô ficando com a Denise. — Austin respondeu rápido e na defensiva, sua voz soando mais alta do que ele esperava.
— Então por que tá tão estranho? Eu não estou te entendendo, Austin. — insistiu.
Austin desviou o olhar como um péssimo mentiroso.
— Não tem o que entender, Hugo. Para de ficar achando que tem coisa errada, tá tudo normal, como sempre.
Hugo soltou uma risada curta, sem humor.
— Ah, claro! — disse com a voz carregada de ironia — Até ontem você colocava a vagina no pedestal e agora tá todo indiferente.
— Jesus... — Austin esfregou o rosto com as mãos, tentando evitar a troca de olhares.
— Você nem parece o cara que se apaixonou pela Denise por causa da droga de um sapato. E só Deus sabe o quanto nós torcemos para aquele tênis rasgar... — admitiu, com um riso incrédulo, sacudindo a cabeça ao lembrar — Você ia com ele pra todo canto na esperança de que ela elogiasse de novo e vocês pudessem conversar.
A lembrança fez Austin sorrir, aquela história parecia de outra vida, quando tudo era mais simples, e sua cabeça não estava tão confusa como agora. Ele riu baixinho, olhando para os próprios pés, como se ainda pudesse ver o velho tênis desgastado.
— Eu ainda guardo ele de souvenir em cima da estante. — Austin riu, enquanto pensava em como se agarrava a velharias – e pessoas – que ele tinha dificuldade de deixar para trás.

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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...