Austin e Atlas saíram da aula de culinária juntos, com o cheiro de temperos ainda impregnado em suas roupas. O corredor estava vazio, exceto por eles, e os sons abafados das conversas nas outras salas eram quase inexistentes. Austin segurava um avental manchado de molho, enquanto Atlas, ajustava a alça da mochila no ombro.
— Fico muito feliz que esteja ajudando — Disse Austin, quebrando o silêncio enquanto lançava um olhar agradecido para Atlas.
Atlas parou, virando-se para ele com um olhar cansado, mas sem perder a compostura.
— Austin, você praticamente me obrigou a isso — Respondeu com um tom sério, mas sem qualquer dureza, como se quisesse deixar claro que não estava ali por escolha própria.
Austin riu baixinho, sem deixar a leveza desaparecer de seu rosto.
A paz havia reinado por pouco tempo.
— Mesmo assim, você é o meu herói, saiba disso — Disse, em tom brincalhão, mas com um brilho genuíno nos olhos.
Atlas bufou, revirando os olhos de modo exagerado, como se tentasse resistir à leve provocação, mas não pôde evitar uma pequena curva no canto dos lábios, mesmo que por um breve segundo.
O ruivo tinha uma habilidade única de deixá-lo completamente desajeitado. A sensação de inadequação que tomava conta dele sempre que o garoto estava por perto era desconcertante e estranha. Cada palavra e gesto de Austin pareciam cuidadosamente calculados para deixá-lo fora de equilíbrio, como se estivesse constantemente tentando encontrar o seu lugar em um terreno instável.
— Que seja, Austin. Eu não ligo — Respondeu, voltando a andar. — Só vamos logo com isso. Quanto antes você conseguir o que quer, mais rápido tudo isso acaba e eu vou poder ficar em paz de novo.
Diante dessas situações, a sua única reação era a negação, como se rejeitar a realidade pudesse de alguma forma restaurar a ordem em sua mente.
Austin seguiu ao lado do moreno, um sorriso sutil surgindo enquanto escutava os remungos do colega. Ele não se incomodava com o temperamento reativo dele, consciente de que era apenas uma tentativa exagerada, carregada de relutância, para não ceder.
Embora Atlas não estivesse particularmente entusiasmado com a situação, Austin sabia que, no fundo, ele não o abandonaria. E mesmo que o garoto tentasse esconder, o ruivo sentia que essa ajuda forçada significava mais do que Atlas estava disposto a admitir.— Olha, aí está o Atlas rabugento de novo.
— Como é que é? — Atlas parou abruptamente, sua postura tensa revelando que a observação do sardento havia atingido um ponto sensível.
— Agora pouco você estava lá de amores comigo.
— Eu-eu só estava tentando te ajudar! — O moreno gaguejou, sua voz saindo trêmula enquanto sentia o calor subir pelo rosto, tingindo suas bochechas de um vermelho intenso.
Ao ver o rosto corado de Atlas, Austin não conseguiu conter uma risada alta, divertindo-se com a sua reação desconcertada.
— Certo, se você diz. — Concordou entre risos, hesitando antes de continuar, quase como se estivesse reconsiderando sua própria ideia. — Você não estaria a fim de ir na minha casa hoje para jogar War? — Sua voz ficou um pouco mais baixa, como se estivesse testando o terreno. — Eu poderia chamar os outros caras, mas eles não curtem muito e, sei lá...eu achei que talvez você pudesse gostar. E bom, eu comprei o jogo há um tempo, mas nunca tive a chance de jogar...e é meio impossível jogar sozinho...então... — Terminou, lançando um olhar tímido para Atlas, esperando por uma resposta positiva.
— Ah...Eu... — O garoto hesitou ainda processando a proposta repentina. Ele não sabia o que pensar, aquilo havia pegado-o totalmente desprevenido.
Na verdade, a sua razão clamava que ele deveria recusar. Mas o restante do seu corpo dizia...
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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...