Atlas estava encostado no armário, tentando prestar atenção em Plínio, que descrevia com entusiasmo uma festa que aconteceria no Dia de Ação de Graças. Mas, por mais que tentasse, Atlas não conseguia se concentrar. Seus olhos se desviavam, atraídos para o fim do corredor, onde Austin mexia no próprio armário.
O ruivo estava com um sorriso bobo nos lábios, e seu jeito desajeitado ao pegar os materiais fazia Atlas morder o canto da boca para conter um sorriso. Era evidente que Austin estava fingindo que a tarefa levava mais tempo do que realmente precisava, cada movimento lento e calculado apenas para prolongar os olhares que trocavam à distância.
A ideia de se aproximar de Atlas e falar com ele o fazia querer morrer de vergonha, especialmente depois da noite anterior, que não saia de sua mente. Mas, mesmo hesitante, Austin sabia que, em algum momento, teria que ir até ele.
— Caramba, você nem tá ouvindo. — Plínio resmungou.
— Eu tô sim... — O moreno tentou voltar sua atenção à conversa — Na minha casa não celebramos a Ação de Graças. Mas essa data não é pra ser comemorada em família? Tipo, quem faz uma festa num dia assim?
— É...mas os pais da Hailey Johnson não ligam muito pra ela, a ponto de viajarem no dia de Ação de Graças para renovarem os votos de casamento sem a própria filha, então...eu acho que ela é o tipo de pessoa que dá uma festa num dia assim.
— Que horrível.
— Cara, você não tem noção! — Plínio abriu um sorriso largo, os olhos brilhando de euforia. — Eu vi uma galera confirmando presença! Parece que tem um monte de gente com mommy e daddy issues! O que, convenhamos, é simplesmente... incrível, claro, pra não flopar, né?
— Incrível? Tá...Mas você tem uma ótima relação com seus pais.
— Não tô dizendo que eu não tenho, mas eu quero ir. Você sabe, eu sou tipo o filho de Sara e Abraão, meus pais são velhos, cara. Tudo lá em casa acaba muito cedo. Às 20h todo mundo já tá dormindo e eu fico acordado sozinho. É super chato. — Plínio revirou os olhos — E a minha irmã nem vai estar lá esse ano.
— É, eu sei. Você quer que eu vá com você? Eu vou. Pra minha mãe é um dia comum mesmo.
— Sabia que meu mexicano favorito não ia decepcionar!
— Cara, eu já te disse mil vezes que eu sou boliviano.
— No fundo é tudo a mesma coisa, né? — Plínio deu duas batidinhas no ombro de Atlas, como se tivesse total certeza do que estava falando, mesmo que o amigo tivesse insistido que não, não era a mesma coisa. — E você pode até levar um acompanhante se quiser, não ligo de ficar de vela. — Ele lançou um olhar malicioso, atingindo o ombro de Atlas com mais tapas. Aquilo estava começando a arder.
— Acompanhante? — Atlas soltou uma risada irônica, desviando o olhar — Como se eu tivesse alguém pra levar.
— Aham, e o cara de cabelo ruivo?
— Você sabe...eu tô ajudando ele com aquele lance da Denise.
— Sei, mas essa ajuda é mesmo um manual de como conquistar a Denise ou é um manual de como conquistar o Atlas?
Atlas tossiu, sem graça, sentindo as bochechas esquentarem. Ele ia protestar, mas Plínio, ainda sorrindo, desviou o olhar para o fim do corredor.
— Bom, espero que seja o primeiro, porque ele tá bem ali falando com ela.
Atlas se virou instintivamente, o coração apertando ao ver Austin inclinado para Denise, dizendo algo que a fez rir. Uma onda de desapontamento subiu por ele, o deixando boquiaberto.
Ele, com certeza, preferia não ter visto aquilo.
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Desafeto
HumorAustin e Atlas nunca se falaram de verdade na vida. Atlas acredita que Austin nem ao menos tem consciência da sua existência. Austin acha que se ele sumisse hoje mesmo, Atlas agradeceria, talvez até soltasse fogos de artifício. Mas toda essa parede...