Capítulo dezesseis - Depois de você, cigarros não eram mais o meu vício.

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Bom, então vamos lá! Agora é mesmo o último. 

Vejo vocês nas notinhas finais. 

Espero que gostem, e tenham uma boa leitura! 


[...]

10 de outubro, 1992.

Minhas mãos agarravam o volante do meu carro com força, mas meus pés não se moviam parados no pedal. Não era capaz de pisar no acelerador, e de longe, escutava a voz de Jimin tentando me chamar, pedindo incansavelmente que eu descesse do carro. Eu não faria, mas também, não iria para qualquer outro lugar.

Não tinha mais para onde ir.

Era madrugada quando o telefone do meu apartamento tocou barulhento, e tudo que eu fiz foi correr até aquele corredor, relutante para pegar no aparelho. Pela primeira vez, eu não queria saber quem estava do outro lado da linha. Pela primeira vez, antes de dormir, num banho longo e quente, eu senti um gosto amargo subir do meu estômago até a minha boca. Pela primeira vez eu quis deixar a água cair no meu cabelo até qualquer cor que tinha nele se desfizesse, desbotando lentamente.

Não entendi por que, até me deitar na minha cama e manter meus olhos abertos o tempo inteiro. Não queria música, era apenas um desconforto confuso pra mim, eu não queria pensar também. Deixei que a ansiedade tomasse um pouco de conta de tudo, mas não era isso. 

Era intuição.

A voz dolorosa da minha mãe do outro lado da linha tentando dizer o que tinha acontecido com Tzui, rasgava o meu peito. Eu apertava o aparelho de telefone forte, quase o quebrando. Descia lentamente meu corpo até o chão, escorregando com a minha testa pela parede, negando com a cabeça inconsolavelmente, e apertava meu peito o arranhando por baixo das minhas roupas, com a minha outra mão.

Jimin estava ali do meu lado, e Yoongi já parecia organizar algumas coisas para sairmos, entendendo tudo, sem qualquer diálogo entre nós três. Lembro de o baterista acariciar meus fios depois de arrumar, no chão, e me fitar gentilmente, com lágrimas presas em seu pequenos olhos. Dizendo em silêncio, que estava ali.

Eu, no entanto, não consegui dizer um palavra desde que atendi aquela ligação.

Calava um choro que queimava toda a minha garganta. Um grito. Pedia socorro, silenciosamente. A sensação era de estar segurando meu próprio coração pelas minhas mãos, tentando o colocar de volta em meu peito em desespero. Mas ele sangrava, desfazendo-se. por entre meus dedos.

Jimin me ajudou no caminho até o meu carro, e lembro de dizer algumas vezes que eu não conseguia fazer isso, era tudo que saia da minha boca, ou pelo menos eu pensava que estava saindo. Eu chorava e tentava dizer, repetidamente. Algum dos dois falava sobre ligar para o pintor e eu só implorava para que não, eu só queria que tudo acabasse. Só queria nunca estar ali, queria que não fosse verdade.

Mas, é lógico que não.

É engraçado pensar que as memórias vão com o tempo, quase se desfazem. E, algumas podem não encontrar consolo, só alívio. Nas pequenas brechas de uma composição, pelas entrelinhas delas.

Tzui seria minha memória inconsolável. Feita de pedra e de sombra. E dela, tudo nasceria, e dançaria.

Quando assistimos ou vivemos a morte, pensamos que deveríamos mesmo ter feito mais, ter dito mais, ter abraçado mais. É estranho pensar que, talvez realmente nunca será o suficiente. Sempre haverá um "e se", sempre um "talvez eu pudesse salvar ela", ou, ser de fato o herói de uma de suas histórias de princesas e fadas. Será que eu poderia salvar a floresta, será que eu poderia fazer, qualquer coisa.

Entre Telas e Guitarras [KTH + JJK]Onde histórias criam vida. Descubra agora