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Portuga
Ao invés de eu dar uma arma na mão de uma criança de brinquedo, eu prefiro dar uma bola, dar uma bicicleta, eu prefiro dar um bagulho, pra incentivar nunca dar tiro na polícia
Só que a própria polícia incentiva eles, sabe como? Entrando na casa de um menor de 10 anos e dando tiro na cara do pai deles, como é que ele vai crescer? Com amor no coração?

Nasci no morro, com dez anos dois vermes entraram na minha casa e deram um tiro na cara do meu pai. Cresci com sede de justiça e um ódio que me consome a cada dia mais. Nesse mesmo dia entrei pro crime, minha ascensão no tráfico foi rápida. Hoje sou gerente do morro.

- 01 -  levei o rádio a boca - comércio aberto

Cada ponto de tráfico e armas é numerado de 1 a 7 espalhados pelo complexo. Cada ponto, um gerente;

1 - Borracharia do Ze - ponto de tráfico - Portuga
2 - Salão da Dora - ponto de tráfico - Lobão
3 - Casa de show 1 - depósito drogas 1 - Americano
4 - Casa de show 2 - depósito droga 2 - Sorriso
5 - Tabacaria - depósito armas 1 - Noronha
6 - Mercadinho de dona Neide - ponto de tráfico - Cabeleira
7 - Deise costureira - depósito armas 2 - Tampa

São todos comércios fantasmas, pra não chamar atenção

- Filho - mãezinha vinha em minha direção, rapidamente pus o rádio dentro do short e cuspi o baseado, amassando com o pé

- Benção mãezinha

- Que Deus te abençoe - dei um beijo em sua mão

- Precisa de alguma coisa dona Maria?

- Não, vi você de longe, todo tatuado e bonitão desse jeito - ela piscava pros moleques, que riam ao longe - e vim ver se tá tudo bem

- Tudo sim, amo muito a senhora viu - dei um beijo em sua testa

- Amo você também, vou indo, que tenho que resolver algumas coisas - ela acenou pros meninos e deu de costas

Dona Maria. Minha mãezinha, meu bem mais precioso. Apesar dela saber a vida que eu levo, não gosto de demonstrar levá-la. Então evito ao máximo manter qualquer contato com o crime perto dela. Desde o dia em que meu pai foi morto, sua preocupação comigo dobrou, juntando de eu ser filho único e o único homem que restou na família.

- Ai Portuga olha quem apareceu - um dos moleques se aproximou com o cigano preso pelo colarinho

- Não acredito - dei uma risada, cigano tá devendo quatro carreiras, quando fomos cobrar, ele sumiu - cadê o meu dinheiro cigano

- Quero falar com o Dendê - ele disse em partes

- Dendê minha piroca, quem manda nesse ponto aqui sou eu - ele fechou os olhos, lamentando - pode deixar - o moleque o jogou no chão e voltou pra sua posição

Pisei em seu peito, o forçando ficar no chão

- Eu perguntei cadê o meu dinheiro

- Eu não tenho ainda, mas eu preciso de mais uma carreira

- De mais uma é? - ele assentiu - Não fode porra, cadê o dinheiro das outras quatro - dei um chute em sua barriga

- Não, não, não, eu vou pagar - ele se contorcia no chão

- E quando?

- Quando eu conseguir o dinheiro

- Você é inacreditável - ri olhando pra cima - Inacreditável - dei mais um chute

- Não é isso

- Sabe o que acontece com quem não paga e some - agachei olhando em seu olho

- Portuga por favor - agora ele chorava segurando minha perna

- Isso, implora - dei tapas em seu rosto - ninguém me faz de palhaço não, não no meu morro - puxei a glock atrás do short e disparei contra seu rosto - tira esse verme da minha frente, tá sujando minha rua

Rapidamente os meninos se movimentaram e limparam a bagunça. Fui pra dentro e acendi mais um

- O Portuga - Noronha sentou ao meu lado - qual foi? - ele gargalhava

- O que?

- Tu apagou o cigano no meio da rua - ele puxou o baseado da minha mão ainda rindo e deu um trago

- Porra, comigo não tem essa não - tragava olhando fixamente pra parede

- Relaxa porra - ele deu um tapa em minha nuca - relaxa que amanhã tem baile, já marcou com as tuas putas?

- De minha puta só tem tu - disse rindo

- Vou tá muito ocupado, marquei com cinco

- Caralho, tu não aguenta nem uma direito

- Não fode - ele socou meu braço - pô to com um carregamento dos bons

- É? - amassei o baseado com o pé

- É, chama uns moleques e vambora - ele levantou, ajeitando a calça

- Falô

- Não demora, tem que tá tudo guardado antes de escurecer

AMANTESOnde histórias criam vida. Descubra agora