08

64 7 0
                                    

Mel
Acordei com uma ressaca das brabas e os olhos pesados. Sentei na beira da cama e passei a mão pelo rosto
Acabei me envolvendo com o menino dos penhores e ficamos juntos o resto do baile. Não vi mais Malu depois do rolo com a Nina, mas deve tá com uma ressaca tão ruim quanto a minha 

Tinha uns barulhos vindo da cozinha, pus o chinelo e fui até lá, crente que era ela. Era meu pai;

Meu pai.

Ele derrubou a panela no choque, fazendo o maior barulho

- Mel - ele repetia agachado no chão

Não sei o que aconteceu, naquele momento eu paralisei, não conseguia me mexer ou falar, pensei que estaria preparada pra esse momento, mas estava errada. Quando senti que tinha voltado pro mundo real, consegui apenas correr dali.
Fui pro meio da rua, de pijama. Pus a mão no peito e comecei a respirar fundo e rápido

- Filha - Dona Sônia me envolveu em seus braços

- Ele - não conseguia pensar direito, ou sequer completar a frase

- Eu sei, vamos pra minha casa - ela me guiou até lá

Abriu a porta com o pé e me colocou no sofá, Cabeleira estava sentado a mesa, comendo. Ele rapidamente levantou no susto

- Filho pega um copo d'água pra ela - Dona Sônia apontou pra jarra em cima da mesa, passando a mão por meu cabelo

Com o copo em mãos, ele ajoelhou, ficando em nossa altura e deu direto em minha boca. Ele olhava pra mim e pra ela confuso

- O que aconteceu? - ele pôs o copo no chão e passou as mãos por meus braços

- Meu pai - finalmente sentia meu corpo voltando ao normal

- Na tua casa?

- É - passei a mão por meu rosto - eu nem deixei ele falar nada, eu só parei e corri

Dona Sônia deu um beijo no topo da minha cabeça e segurou minhas mãos

- Mel, ficou longe dele por seis meses, tempo o suficiente pra se adaptar a outra rotina, ver ele, mesmo que preparada mentalmente, não seria fácil - ela acariciava minhas mãos

- Eu fiquei em choque, ele só repetia meu nome - eles se olharam sem saber o que dizer ou fazer - posso beber mais um copo d'água?

- Claro filha, quer que eu pegue? - neguei com a cabeça e fui até o filtro, Cabeleira me seguiu sem jeito

Seu rádio em cima da mesa deu sinal, começaram a falar uns códigos

- Já mandei desligar essa porra dentro dessa casa - seu pai gritou do andar de cima, fazendo nós três rirmos

- Vai voltar pra casa?

- Não por agora - dei um gole - acho que vou pra Malu

- Pode ficar, to de plantão hoje e meu pai vai pro boteco - ele se encostou na parede - fica aqui com mainha

- Não quero dar trabalho - ele franziu as sombracelhas e ficou me olhando esquisito, como se quisesse perguntar alguma coisa - pergunta

- O que?

- O que você quer perguntar

- Não, eu só queria saber o que aconteceu com a Alana ontem

-  Já entendi - revirei os olhos - ela foi bater o pé lá pra vocês, não foi?

- É

- Ela é uma maluca desesperada por atenção

- E ela fez o que pra te deixar desse jeito?

- Mais fácil perguntar o que ela não fez - me encostei na parede, ao lado dele - tu se lembra dela na municipal

- Eu lembro é de você metendo o pau nela

- E eu fiz isso por quê?

- Porque ela meteu o pau na Maria Luiza - cruzei os braços e arqueei as sobrancelhas

- É, e ontem tava sendo baixa como sempre, esculachando uma menina porque se envolveu com um de vocês

- O traveco?

- Ai Cabeleira sinceramente - empurrei seu peito e voltei pro sofá, ao lado de Dona Sônia

- Não era o traveco?

- Não é traveco - aumentei o tom - por que tá falando igual a ela?

- É o que então? - o ignorei, de braços cruzados - eu to falando com você porra

- Ou - Dona Sônia bateu em seu braço

- Deixa ele tia - revirei os olhos e peguei em sua mão - muito obrigada por tudo, a noite ou amanhã de manhã eu passo aqui

- Já vai filha? - assenti, levantando

- Vou - disse grossa, o olhando e o empurrando com o ombro

Fui até a casa da Malu, depois da minha mão quase cair de tanto bater, ela abriu a porta com a cara toda amassada

- Preciso falar com - rapidamente me calei ao ver Noronha deitado no sofá, a olhei, que arregalou os olhos

- Fala Mel - ele fez um joinha - menino Dom tava te macetando ontem 

- Meu deus - ele ria apertando a testa - eu volto outra hora

- Não - ela pôs a mão na cabeça - é que parece que minha cabeça vai cair

Fui em sua cozinha e peguei uma pílula na sua caixinha de remédios. Voltei com a pílula e com um copo d'água, Noronha já tinha se mandado

- Aqui

- Valeu

- Por que eu chego aqui e teu ex tá esparramado no seu sofá?

- Eu não sei

- Ele escorregou e veio parar aqui foi?

- Foi - ela se apoiou na mesa - disse que precisava falar comigo

- Meu pai tá lá em casa - neste momento seus olhos quase saltaram pra fora

- O francês tava certo - ela socou o ar

- É, e eu entrei em choque

- Ele falou alguma coisa?

- Não, só sabia repetir meu nome

- Vamo sentar - ela me guiou até o sofá - e como você tá se sentindo?

E ali ficamos conversando por cerca de uma hora.

AMANTESOnde histórias criam vida. Descubra agora