AMANTES

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Mel
Duas semanas tinham se passado. Duas semanas dormindo no sofá de Malu tinham se passado. E quatro dias desde que tinha me formado.

- Acabou o pão - ela murmurou chegando na cozinha

- Bom dia - ela bocejou dizendo o mesmo

- E o estágio? - ela sentou na mesa com os olhos pesados

- Pedi pra sai - disse passando a mão pelo rosto, ainda estava incerta quanto a minha decisão, agi no impulso - Dona Sônia falou que eu podia tentar o emprego como professora na nova escola daqui

-  A fundada pelas mães dos meninos do tráfico?

- É, inclusive a entrevista é hoje a tarde

- O emprego é seu - ela apontou o garfo pra mim - vai ser a professora gostosa que todo menino sonha em ter - soltei uma risada sincera

- Da pra acreditar que acabei a faculdade e tenho uma entrevista de emprego

- É, você cresceu - ela levantou para apertar minhas bochechas

- Dor - dei uns tapinhas em sua mão - e o meu pai? - sentei a mesa e soltei um grito abafado pelos braços

- Acha que deu a hora?

- Acho, mas tenho medo de abrir aquela porta e encontrar ele do jeito que sempre encontro

- Espera pela entrevista, depois você se resolve quanto a isso

- Melhor - levantei novamente - vou na padaria reabastecer o pão e vou dar uma passadinha na dona Sônia

- Beleza

- Me liga qualquer coisa - tentava destrancar a porta

- Quero te ver antes de você ir pra entrevista - ela apontou ao longe e assenti com um sorriso no rosto

Cruzei a 200 com a 300 e entrei na padaria, que estava vazia. Peguei a porção dos pães frescos e segui para a casa de dona Sônia.
Bati algumas vezes na porta e Cabeleira a abriu, coçando os olhos

- Posso falar com a tua mãe? - quebrei o silêncio

- Pode não - novamente o silêncio reinou, até o rádio em sua cintura dar sinal, ele rapidamente o puxou e entrou de volta, o segui

Sentei no sofá aguardando dona Sônia;

- Filha - ela descia as escadas com dificuldade - por que não me disse que ela me esperava? - ela deu um tapa nas costas de Cabeleira, que a ajudava descer os degraus

- Tava ocupado - ele disse com a maior cara lavada

- Tudo bem, minha filha? - ela sentou ao meu lado

- Tudo e com a senhora? - ela assentiu

- Preparada pra se tornar uma professora

- Será - ri sem graça

- Melissa professora? - Cabeleira gargalhou da cozinha, a fazendo revirar os olhos