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Mel
Subi as dezenas de degraus com cautela e cheguei num longo corredor. Primeira porta a direita, pus minha mão na maçaneta, mas ela rapidamente se abriu;
Era o Portuga, e só de toalha na cintura
Ele tinha tatuagens por todo o corpo, que estava molhado, e que corpo
Eu não conseguia parar de olhar

- Tá fazendo o que aqui? - pisquei algumas vezes, voltando pro mundo real

- Que? - ainda estava desnorteada, como eu nunca tinha reparado

- Eu perguntei o que você tá fazendo aqui

- Eu a chamei - dona Maria pôs suas mãos sobre meus ombros

- Chamou é - ele disse desconfiado me olhando de cima a baixo, enquanto passava a mão por sua barriga

- Chamei - ela apertou meus ombros - e tira a mão dai - ela pegou uma toalha no banheiro e deu em sua mão, que estava por dentro da toalha, ele rapidamente correu e se fechou num quarto

- Desculpa - disse entre gaguejos

- Eu é quem te peço desculpas - ela passou a mão pela testa - pensei que ele já tinha ido embora

- Seu filho? - descíamos as escadas lado a lado

- É - ela arqueou as sobrancelhas e apertou os lábios - vocês se conhecem?

- Não não. Apenas ouço falar, o vi apenas uma vez

- Queria que ele não tivesse escolhido o caminho mais fácil - ela suspirou e se apoiou na porta

- Isso não anula o que sente por ele, você o ama por quem ele é e não pela vida que ele leva - fui para o lado de fora

- É verdade - ela abriu um sorriso novamente - foi um prazer imenso

- O prazer foi todo meu - retribui o sorriso - desculpa de novo

- Que nada amor, nos vemos em breve

- Fiquem com Deus

- Igualmente

Malu tinha ido pro estágio, e eu me sentia pronta pra conversar com meu pai. Enquanto caminhava rumo a minha casa pensava no que ia dizer pra ele, estava com medo, mas não podia deixar que este receio me dominasse, não naquele momento

Suspirei e abri a porta, a casa estava em ordem e aparentava estar vazia. E realmente estava. Fui para a bancada da cozinha e um estalo percorreu meu corpo, tinham muitas garrafas espalhadas pela mesa e pelo chão, de vodka, cerveja, cachaça. Aquela sensação percorreu meu corpo, estava prestes a vomitar quando o estalo de uma garrafa quebrando surgiu atrás de mim. Me virei lentamente, e lá estava ele, da mesma forma

- Voltou só agora vagabunda - ele quebrou mais uma garrafa, desta vez em meu pés

- Para - gritei e fui pra trás do sofá

- Sua vadiazinha de merda

- Não - supliquei

- Não criei filha minha pra subir morro, vaca - ele pegou meu vaso de plantas e quebrou na parede - se formou em que Melissa?

- Eu não sei, no que eu me formei pai? - dei ênfase no pai

- Em como ser marmita de bandido, sua puta suja

- Tá falando do que? - gritei com as mãos na cabeça, que doíam de tanto chorar

- Do que - ele ria, enquanto meu medo aumentava - no bar falaram que tu subiu o morro pá dar pra traficante - ele socou a parede - traficante

- É mentira - minha voz falhou e senti minhas forças desaparecendo

- Sua mãe deve estar com vergonha da piranha que tu se tornou

- Para - berrei caindo de joelhos

- Pergunta pra ela - ouvi seus passos cada vez mais perto - pergunta merda

- Para por favor - ele estava de pé sobre mim

- Isso foi falta de coça - ele deu um soco em meu olho e um chute em minha barriga, me fazendo cair gemendo de dor

Gritos do lado de fora o assustaram, que correu pra fora de casa. Não enxergava mais nada, apenas ouvia os gritos

- Minha nossa senhora tenha piedade de nós - pude ouvir duas vozes, que me levantaram e me apoiaram no sofá - pega um pano molhado

Uma delas passou o pano devagar e com cuidado pelo meu olho, que pouco a pouco abria novamente

- Isso é obra de uma mente diabólica - a outra dizia com a mão cobrindo a boca - esse verme tinha mais era que continuar atrás das grades

Após algumas tentativas falhas consegui abrir meu olho por inteiro, pela cara das duas, não estava tudo bem. Mas a essa altura não sentia dor, minha única vontade era deitar no chão e chorar feito uma bebê, a espera de minha mãe me envolver em seus braços.

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