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Portuga
As duas vazaram e subi pra tomar banho. A cama, antes bagunçada, estava arrumada e o pano dobrado em cima da pia. Por que eu tinha feito tudo isso?

Tomei um banho frio, mas quando fechava os olhos, ela aparecia na minha frente, jogava água e sabão na minha cara, mas parecia que cada vez que tentava fazer com que ela sumisse, ela aparecia com mais intensidade

Meu rádio, do lado de fora do box, tocava sem parar, havia sido chamado por pelo menos umas cinco vezes. Puto, puxei a toalha, amarrei na cintura e o peguei

- Coe porra

- Ô Portuga nós pegou o arrombado que deu um pau na filha ontem. Dendê passo a ordem, mas não falou pá quem era, Cabeleira tá vindo, só que o Lobão disse que ele é teu

- É meu. Não deixa o Cabeça chegar perto dele, que to indo

- Falo. Vai fazer o que?

- Microondas

- Aí sim porra

Ouvi do outro lado da linha tiros e gargalhadas. A gente usa o microondas pros trairas, a morte é devagar e doida. São vários pneus empilhados no arrombado, que depois nós ateia fogo. Esse caso não chega nem perto de ser de microondas, mas to puro ódio com esse cara

Acendi um e segui pro mato, a fumaça assusta os moradores e o cheiro apavora

- Qual foi Portuga - Cabeleira se aproximava vermelho de ódio - a ordem era minha

- Não é mais - traguei

- Posso fazer um massagem nele, pelo menos?

- Qual é a sua? - ele me olhava confuso - qual teu interesse nesse verme?

- E o teu? Que porra de história é essa que depois da coça ela dormiu contigo?

- Cabeça volta pro teu ponto - puxei enquanto ria, fazendo-o fechar o punho

- Eu não vou sair daqui. Cresci com a filha dele e só eu sei o que ela passou na mão desse vagabundo

- Ai pessoal - fiz com que todos olhassem pra mim, quebrando o silencio dos meninos, que fumavam ou limpavam as armas em meio a discussão - quantas vezes eu tenho que falar que quando for passar alguém, não pode misturar com o pessoal

- Engraçado você dizer isso, Portuga. Microondas num caso desse me soa bem pessoal

- Alguém concorda com o Cabeça? - o silêncio permaneceu, os moleques não iam discordar de mim, muito menos perder a chance fazer o microondas - não fode, porra, e volta pro teu ponto

- Não vai me tirar a ordem

- Puta que me pariu - joguei o baseado longe - que que tu quer?

- Dar uma coça nele

- Pra que?

- Porra, olha o que ele fez. Minha mãe disse que ela tá com um roxo enorme na barriga e no olho

- É, a parada tá bem feia - sorri com malícia - o roxo tá ocupando metade da barriga dela

- Filho da puta - não contive o riso, o que fez ele me empurrar com força - tá transando com ela?

- Dar uma coça nele não vai fazer com que ela queira dar pra você - o silêncio, agora, era ocupado pelos "ai" dos meninos - se tivesse transando com uma mina, acha que mataria o pai dela de microondas?

- Então por que tá tão empenhado nisso?

- Não to transando com ela, e to prestes a passar o pai dela. To pouco me fudendo pro que ela pensa ou deixa de pensar sobre isso. Olha a vida que a gente leva, quer cruzar caminho com uma mina dessa? Acorda Cabeça e volta pro teu ponto logo - ele, enfim, saiu chutando pedras do chão

- Finalmente chefia - todos suspiraram e voltaram a demonstrar a empolgação

- Caralho - chutei um arbusto e fui em direção ao homem, que escondia o rosto nos braços atados

- Cadê o Dendê?

- Dendê o caralho - puxei seu rosto, o fazendo olhar nos meus olhos - quem manda nessa porra sou eu

- Eu tava bêbado, não sei por que to aqui

- Você tá sempre bêbado, porra - soquei seu nariz, o fazendo jorrar sangue - tu me da dor de cabeça há muito tempo. Todo dia fazia a civil ficar rondando aqui, batendo nos meus moradores e fudendo com o comércio dos meus moradores - o soquei mais uma vez, dessa vez na boca

-  Eu tenho família, Portuga - ele gemia - a Mel

- Cala a boca - dei um tapa em seu rosto - não fala o nome dela

- Ela é minha filhinha

- Eu mandei calar a boca - gritei o chutando na barriga - ela deixou de ser tua filha a muito tempo, muito tempo - dei mais um

- Eu não lembro de nada, cadê ela?

- Não lembra? - agachei, ficando em sua altura - você tentou passar tua filha, fez ela subir o morro porque tu é marcado aqui em cima, e sabe o que aconteceu? Tentaram traçar ela, porra - o soquei

- Mel

- Caralho - o socava sem parar, quanto mais sangue saia da cara dele, mais eu tinha vontade de continuar

-  Vai matar ele - Pirulito segurou meu punho, e logo apontou pros pneus - esqueceu chefe?

- Porra - o soquei mais uma vez e sai de cima dele - façam o que quiser, só sumam com esse verme

- Não vai querer assistir? - eles me olhavam em choque

- Não - agora, me olhavam confusos

Não sentia ódio assim desde a morte do meu pai, não sabia o que tava acontecendo e nem estava me reconhecendo naquele estado.

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⏰ Última atualização: Oct 23 ⏰

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