Capítulo 2 - Abismo.

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- Wagner Moura, 01:36h.

Não sei ao certo quando exatamente isso começou, a verdade é que Sandra e eu já não éramos mais o mesmos. Já não conseguíamos nos ouvir e aos poucos o silêncio foi matando algo que eu jamais pensei que fosse acabar, eu amava Sandra, isso era fato. Mas também era ciente de que as vezes o amor não era o suficiente para manter um relacionamento.

Eu estava saindo daquele ciclo com as mãos vazias, pois eu dei tudo de mim para não chegar ao fim, mas infelizmente não dependia apenas de mim. Estava claro nos olhos dela o quanto ela estava infeliz ao meu lado, as risadas já não eram mais a melhor parte do meu dia, ou melhor, do nosso dia. A verdade é que havíamos nos perdido, isso estava claro tanto pra mim quanto pra ela.

Após a conversa definitiva, a qual eu estive fugindo desde que tudo começou a desmoronar, finalmente havíamos chegado a uma conclusão mútua: era hora de seguirmos caminhos diferentes. Aquilo parecia um pesadelo, depois de exatamente 23 anos ao lado daquela mulher que definitivamente era a minha luz no fim do túnel, eu ainda conseguia lembrar perfeitamente quando a vi pela primeira vez no corredor da faculdade e nunca mais me senti o mesmo desde aquele dia. E aparentemente havia ficado somente as lembranças de um amor inesquecível e o fruto dele, o Bem.

- Rio de Janeiro, 10:45h
Praia de Copacabana.

Era uma manhã de uma quarta feira, eu olhava as ondas batendo em minha frente. Me sentia fraco, derrotado e perdido, era como se meu mundo estivesse acabado bem na minha frente e eu só poderia ficar sentado assistindo. Antes de finalmente ter saído do hotel que estou hospedado, tentei ligar e mandar mensagens para Sandra, na esperança de que pudéssemos conversar e tentar darmos uma nova chance um ao outro. Mas como já esperado, eu não obtive retorno, apenas aquele maldito silêncio que estava corroendo a minha alma aos poucos. Eu não havia avisado ninguém ainda sobre a decisão tomada, ainda existia uma ponta de esperança falsa...uma parte de mim que estava implorando para que aquilo fosse apenas um pesadelo.

Ao meu lado, havia duas mulheres sentadas em lugares diferentes, ambas pareciam estar perdidas em seus próprios pensamentos enquanto encaravam o mar a frente. Após alguns minutos naquele silêncio, eu senti uma movimentação quase atrás de mim, mas a princípio apenas me mantive imerso a visão em minha frente. Nada mais importava aparentemente, eu estava em busca de uma saída que parecia não existir.

Me virando sutilmente para atrás, eu tive a visão de uma moça de aparência tranquila. Sua pele clara praticamente brilhava no sol, junto aos seus cabelos longos e escuros. Mas não foi exatamente isso que chamou a sua atenção, e sim o livro que a mesma estava lendo em suas mãos. De imediato, diversas lembranças surgiram em sua mente, as quais eu desejava intensamente deixar de lado para que não sentisse mais aquela dor no peito, ou até mesmo a saudade dolorida. "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, um clássico que havia lido graças a Sandra que tinha um gosto ótimo para livros. Eu me recordei de como estavam felizes aquele dia, deitados e aconchegados na cama compartilhada, ainda podia sentir o toque suave de seus lábios contra minha pele, a sua pele macia e os sussurros apaixonados que trocávamos.

Com um balanço leve de cabeça para afastar aqueles pensamentos dolorosos, finalmente tomei a iniciativa. - Vidas Secas, é realmente um clássico.- Murmurei calmamente, esperando a reação da moça a minha frente que após alguns instantes, finalmente ergueu os olhos com um sorriso leve.

- Ah, é...é um dos meus favoritos. - A moça me respondeu gentilmente. Um breve silêncio se estendeu, antes da mesma tomar a iniciativa de estender a mão como um cumprimento amigável. - Lia. - Ela murmurou. - Wagner. - Respondi de volta calmamente, sem deixar de olhar para seu rosto - O que te trás aqui hoje, Wagner? - A moça perguntou aparentemente curiosa, o que me fez sorrir pequeno, mas aparentemente triste. - Eu diria que a vida.- Respondi calmamente, antes de encontrar seus olhos. - A vida?- Ela logo respondeu de volta, com um pequeno riso.

"𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐄𝐒𝐓𝐀́ 𝐍𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀." - 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora