"𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐄𝐒𝐓𝐀́ 𝐍𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀." - 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.

Capítulo 4 - Inesperado.

"Meu coração é um Almirante louco
Que abandonou a profissão do mar."

- Ariano Suassuna.

- Wagner Moura, 14:05h da tarde.

Exatamente uma semana havia se passado desde que finalmente a decisão que mais parecia um pesadelo foi tomada. Era tudo tão estranho, claro que a saudade ainda se fazia presente em muitos momentos, mas não era mais como antes. Talvez meu coração já estivesse aceitando e se acostumando com a ausência de Sandra, já que agora seria definitiva.

Recentemente troquei algumas ligações com o meu filho, que se encontrava ao lado da mãe naquele momento. Eu sabia que ele entendia meu lado e principalmente o dela, aquilo era mais do que reconfortante porque a última coisa que eu queria era ver ou fazer mais alguém sofrer naquela história. Naquele momento eu só conseguia pensar no futuro, de como seria as coisas de agora em diante.

Lázaro, um grande amigo desde o meu começo de carreira no teatro, também me mandou mensagens de reconforto e apoio. Eu o considerava como mais do que um simples amigo, e sim um irmão que eu poderia contar em todas as horas.

Ao meu lado estava o meu celular, eu o encarei sem ânimo mas ao mesmo tempo curioso. Desde aquele dia na praia com aquela moça que até então só sabia seu nome e sobre sua avó já falecida, que aparentemente era uma das maiores fãs de meu trabalho como ator e diretor. Talvez fosse aquilo que ainda estava me dando forças para não recair de vez, só de pensar em quantas pessoas o admiravam e gostavam do meu trabalho, era reconfortante e ao mesmo tempo preenchia o vazio que nem eu mesmo sabia que existia.

Perdido em meus pensamentos, ouço o toque familiar do celular que estava ao meu lado. Pegando o aparelho, eu me deparo com o número de Lia, aparentemente já havia virado rotina aquela troca de ligações durante a tarde.

Ao atender a ligação, ouço um pequeno riso suave do outro lado da linha. - Oi...você tá ocupado? - A voz familiar doce e delicada do outro lado se manifestou.

- Oi, na verdade não, só estou aproveitando um momento de preguiça antes de realmente voltar a minha rotina de antes. - Respondi em um tom suave, antes de me espreguiçar na cama confortável em que me encontrava deitado. - Mas e você? O que uma moça tão desocupada como você faz agora? - Meu tom era brincalhão e provocativo ao mesmo tempo.

- Haha, muito engraçado, Wagner. - Lia respondeu com uma certa ironia, antes de soltar uma leve risada do outro lado. - Pra sua informação, eu estava trabalhando. Mas tive que sair mais cedo para resolver umas coisas, acho que eu te falei sobre o meu interesse na faculdade de psicologia né? -

- Ah sim, na verdade você me falou da sua vida inteirinha. - Um riso fraco escapa de meus lábios.

- Quer virar humorista também? Engraçadinho. - O tom de Lia era carregado de ironia. - Mas voltando ao assunto, eu acho que vou conseguir pagar a mensalidade todo mês. Aí...eu não vou mentir quer tô muito feliz, sabe? Eu quero muito me formar logo, começar na profissão e sair de casa. -

- Vai dar tudo certo, aliás, já deu tudo certo. Você é inteligente, esforçada e dedicada.- Respondo com calma, querendo lhe passar apoio e confiança. - Mas aproveitando que você quer tanto sair de casa, você tem algum compromisso hoje a noite?-

Minha pergunta provavelmente pegou Lia de surpresa, era possível perceber isso pelo breve silêncio do outro lado da linha. - Alô? Lia? Você ainda tá aí?-

- Tô...eu tô sim. Olha, Wagner...eu não quero que você me entenda mal, mas é que eu acho que não sei me comportar da forma certa nesses lugares, ainda mais no meio dessas pessoas.-