Capítulo 6 - Que coincidência é o amor.

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- Rio de Janeiro, 09:15h da manhã.

Por algum motivo aquela manhã parecia não acabar nunca, as horas pareciam passar lentamente e aquele clima nada agradável não ajudava em nada. Wagner tentava não fazer tanto contato visual com Sandra, que agora era sua ex esposa definitivamente. Os papéis do divórcio haviam sido assinados, foi uma decisão de ambos de qualquer forma mas ainda doía.

Doía como se aquilo estivesse sendo o fim do mundo, por fora ele mantinha naturalidade mas por dentro estava mais do que despedaçado em mil pedacinhos. Sandra parecia da mesma forma, desde que saíram da sala de audiência ela não trocou uma palavra se quer.

- Pai, pode dar uma parada na casa da Emanuela?- A voz de Bem fez a mente de Wagner voltar a realidade, dando uma olhada rápida no filho através do espelho retrovisor interno do carro. - Claro, filho, sem problemas.- Wagner respondeu de volta, ainda com a atenção na direção.

Sandra estava sentada no banco do passageiro na frente, seu olhar preso nas ruas que passavam. Wagner entendia seu silêncio e respeitava aquilo, gostaria que ela fosse feliz, mesmo que seja sozinha ou até mesmo acompanhada de outra pessoa.

No meio ao silêncio do carro, Wagner afastou uma das mãos do volante apenas para ligar o rádio. A canção que encheu o carro parecia familiar, como um bom fã de mpb era impossível não reconhecer aquela voz.

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Parecia um choque de realidade e realmente era, aquele "para sempre" realmente havia acabado. No banco de trás estava a única coisa que havia sobrado daquele amor que foi tão único e especial em sua vida. Mesmo com a atenção no volante, Wagner não conseguiu deixar de engolir seco, tentando reprimir qualquer expressão de dor ou tristeza.

Sandra continuava na mesma posição desde que entrou no carro, os olhos presos nas ruas e o silêncio que parecia eterno. Mas na verdade aquela era sua defesa, Wagner ainda era o amor de sua vida, mas ambos não se completavam mais, haviam se perdido de uma maneira que jamais imaginou.

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Sandra reprimiu cada lágrima teimosa que insistia em querer escapar de seus olhos, a mesma já havia chorado tantas noites que não sabia mais como fazer aquilo. Ela se perguntava se um dia ainda iriam se encontrar novamente, como nos velhos tempos. A música que tocava no carro fazia sua alma se contorcer em dor e saudade, sua vontade era de abraçar Wagner e implorar por mais uma chance. Mas do que aquilo adiantaria? Sandra tinha consciência de que não poderia mudar as pessoas, além dela mesma.

A imagem daquele Wagner apaixonado nunca sairia de sua memória, cada olhar, cada toque e promessas que fizeram ao longo dos 23 anos que passaram juntos. Nunca se esquecerá de como foi feliz ao lado daquele homem, do quanto o amou verdadeiramente com todas as suas forças.

Eu protegi teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor (nunca)
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

"𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐄𝐒𝐓𝐀́ 𝐍𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐏𝐎𝐑𝐓𝐀." - 𝑊𝑎𝑔𝑛𝑒𝑟 𝑀𝑜𝑢𝑟𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora