Capítulo 15 - Zac

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Ouvi Madison sair batendo a porta, irritá-la era divertido. Ela não conseguia se controlar e sempre caia na provocação. Enquanto aguardava ela retornar das compras, aproveitei para fazer alguns trabalhos. Fui procurado por um cliente antigo que queria que eu fizesse algo grande que certamente tornaria minha ficha policial um pouco mais extensa, porém me renderia muitas cripto moedas.

Dessa vez, ele queria acesso a informações dos sistemas de e-mails corporativos de uma grande empresa de computadores que desenvolve, fabrica, licencia e vende softwares de computador, produtos eletrônicos, para acessar "alguns dos repositórios de código-fonte e sistemas internos da empresa"

Esse código-fonte é cobiçado pelas corporações e pelos espiões que tentam violá-lo porque contém elementos secretos de um programa de software que o fazem funcionar. Já eu, com acesso ao código-fonte, poderia usá-lo para realizar ataques subsequentes a outros sistemas.

Procurava não me inteirar muito sobre as motivações dos clientes. Desde que eles me pagassem o combinado, o resto não me interessava muito, até porque descrição era o lema do meu negócio.

Coloquei meus fones de ouvido e mergulhei no universo de sistemas e códigos. Preciso admitir que a adrenalina e o barato que aquilo me dava eram melhores que muita bebida ou droga que já experimentara. Entenda, nunca fui nenhum alcoólatra ou drogado, mas já tive algumas experiências e aquilo era a minha droga.

Já estava na metade do processo de hackear o site da empresa quando meu celular acendeu, indicando novas mensagens. Era Madison.

"Pode me ajudar a levar as compras para dentro?" — Vi naquela mensagem mais uma oportunidade de provocá-la.

"Não posso." — respondi.

"Minhas áreas permitidas são apenas: porão, cozinha e banheiro social" — Certeza ela estaria me xingando agora. Levantei, tirando os fones e seguindo para fora do porão quando chegou mais uma mensagem dela.

Cheguei na garagem e Madison estava em pé próxima a umas caixas de ferramentas, enrolava um cachinho entre os dedos enquanto mexia no celular. Morria de vontade de enterrar meus dedos nas curvas daqueles cabelos. Afastei o pensamento, melhor focar nas compras.

— Conseguiu comprar tudo da lista, cachi... — Ela se assustou com a minha chegada, se sobressaltando e indo para trás, tropeçando na caixa de ferramentas atrás dela. Corri até ela e consegui segurá-la, evitando que Madison se espatifasse no chão pela segunda vez em menos de 24h.

Madison me encarava com uma expressão assustada, com aqueles olhos castanhos profundos e expressivos com um brilho indecifrável. Pude sentir o calor do seu corpo enquanto meus braços envolviam sua cintura numa espécie de abraço e nossos corpos estavam parcialmente colados. O cheiro dos seus cabelos invadiu minhas narinas e a vontade de tocá-los invadiu-me novamente.

Precisava me afastar dela se não quisesse terminar batendo uma como de manhã. Percebi que ela me observava atentamente e revolvi provocá-la mais um pouco.

— Já terminou a inspeção? — Ela pareceu despertar de um transe.

— Não seja ridículo! — disse se desvencilhando de mim, arrumando a postura. — Descarrega o carro, eu vou entrar. — Saiu da garagem, batendo os pés, o que me fez segurar uma gargalhada.

Levei tudo para a cozinha em uma viagem só e ela estava lá parada, encostada em um dos balcões com um copo d'água nas mãos.

— Conseguiu mais alguma coisa enquanto eu estava fora? — perguntou.

— Você já leu todos os arquivos que te passei? — questionei enquanto tirava as compras das sacolas.

— Ainda não. — deu mais um gole na água. — Mas você só tem mais dois dias aqui, então acho bom correr.

— Touché — disse, levantando uma sobrancelha.

Ela tinha razão, meu tempo ali estava se esgotando, mas eu já tinha tudo que ela queria, só estava esperando o momento certo para entregar.

Coloquei as sacolas em cima do balcão e a vi despejar o restante da água na pia e foi em direção à sala.

— Onde você pensa que vai? — Perguntei, fazendo-a dar a volta nos calcanhares para me olhar.

— Para meu quarto. — Disse, apontando com o polegar em direção às escadas.

— Não, não. Você vai me auxiliar a preparar o almoço. — Ela me olhava como se eu tivesse acabado de falar que o menu de hoje seria filhotinho de cachorro ensopado.

— Até onde me lembro, o combinado seria que você faria todas as refeições. — Cruzou os braços — Agora quer me colocar para cozinhar? Eu devia saber que aquele papo de trabalhar em restaurante era furada. Escuta aqui, eu não...

— Meu Deus, por que você está sempre na defensiva? — Ela arfou.

— Será porque eu não te conheço, ou será porque você é um cara estranho que, por acaso, é um criminoso e também um invasor? — Passei a mão no rosto.

— Bom, as últimas coisas eu não posso mudar, mas que tal você ficar aqui e me ajudar? Posso aproveitar para te falar tudo que você quer saber sobre mim. — Propus.

— Eu não quero te conhecer — respondeu ríspida. Só quero que você cumpra sua parte do combinado e dê o fora daqui. — Caralho, eu estava tentando ser legal com essa garota, por tudo que ela passou, mas já estava cansando.

— Eu só queria te ajudar, considerando que, com essa cara de mimadinha que você tem, não sabe nem ferver água, por isso Betty tinha de vir para cá doente cozinhar para você. — Vociferei. As narinas de Madison se projetaram para fora e ela fechou os punhos nas laterais do corpo enquanto me encarava.

— Você não sabe nada sobre mim e nunca mais ouse falar no nome da Betty, seu babaca.

— Madison, me desculpa eu... — Ela se virou e saiu pisando firme. — Droga!

Ela tinha razão, eu era um babaca. Não tinha a intenção de ofendê-la, pelo contrário, queria ajudá-la, ensiná-la a cozinhar para que, quando eu não estivesse por aqui, pelo menos ela não voltasse a sobreviver com barrinhas de cereais e isotônicos, mas Madison não confiava em mim e nem tinha motivos para confiar.

Eu já havia arrumado toda a compra e daria início aos preparativos do nosso almoço. Fiz dois sanduíches com pão de centeio, abacate, rúcula e sementes de gergelim. Depois de tudo pronto, tirei uma foto dos nossos sanduíches e enviei uma mensagem para Madison.

"Nosso almoço está pronto."

"Me desculpe por mais cedo. 🙁"

Ela não respondeu às mensagens e nem desceu para comer. Espero realmente que o que aconteceu há pouco não faça Madison mudar de ideia em relação à minha permanência aqui.

I'll Stand By YouOnde histórias criam vida. Descubra agora