Intervalo | Aqui estamos

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Por Connie Ember

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São sete horas da noite, mas o jogo ainda não começou.

O ingresso para o camarote foi cortesia de uma marca de cosméticos, mas a decisão de última hora de comparecer à final do futebol feminino nas Olimpíadas foi cortesia de um pensamento impulsivo às duas da madrugada, regado a insônia, que resolvi levar a cabo. Quando aceitei o convite para vir até este camarote em específico, imaginei que teria por perto algumas colegas de time, ou ao menos conhecidas de outras seleções. Tenho certeza de que muitas delas estão em algum lugar das arquibancadas. No entanto, sou a única jogadora por aqui e estou cercada de membros da seleção inglesa masculina, entre eles Stephen Andrews. Faço o possível para ignorar sua existência enquanto dedico a minha atenção aos times em campo.

O jogo final é entre o Brasil e o Japão, dois times que não eram favoritos entre o público, mas que provaram seu valor desde o princípio.

Sinto o formigamento da ansiedade, minha antecipação crescendo a cada giro do ponteiro do meu relógio de pulso. Houve um atraso no início da partida, as equipes ainda não entraram em campo e os hinos não foram tocados porque precisaram fazer um reparo de última hora em uma região do gramado — algum dano causado por um torcedor que conseguiu pular para dentro da área horas mais cedo. Eu tomo gole após gole da minha cerveja, rolando os ombros para tentar relaxar.

Às sete e cinco, Andrews está rindo de alguma coisa, e preciso agarrar a minha coxa com uma das mãos, apertando com força o músculo para me lembrar de manter o foco. Rebeca já fez um ótimo trabalho em recuperar o controle da própria narrativa nos últimos dias, com a entrevista que deu a um canal esportivo da França, e Andrews está sendo feito de palhaço pela mídia. Se ele está aqui, assistindo ao jogo, deve ser apenas para projetar uma fachada de bom-moço, de alguém que apoia o futebol feminino mesmo quando é a ex-namorada dele em campo.

Tento me lembrar de que, assim como eu, ele tem o direito de estar aqui, mas a minha mente fica se rebelando contra essa ideia. No fundo, não acho que ele tem direito a porra nenhuma.

E, inferno, esta é a primeira vez que me deparo com ele depois de o segredo sobre a foto ter sido revelado. Depois de eu ver, no rosto de Rebeca, o quanto isso realmente a afetou. E, embora eu tenha enfrentado o meu papel nisso tudo e aceitado a culpa que vem junto, Andrews saiu ileso. Acho que lhe faltou um soco bem dado.

Por enquanto, ninguém está se voluntariando para remediar isso.

Terei que tomar as rédeas da situação.

Para me salvar de cometer uma burrada, as seleções entram em campo. Uma olhada no meu relógio de pulso revela que são sete e dez da noite. A nova campeã olímpica está prestes a ser definida e, por enquanto, a única coisa que sei é que eu não estarei no pódio. Ontem, Andrews subiu lá, junto do restante do time inglês do masculino. Vestiram a medalha de bronze sem sorrir, sem comemorar. Não sou uma pessoa violenta — pelo menos, nunca fui — mas, vendo aquilo da TV, eu tive vontade de fazê-lo engolir aquela medalha de merda.

Sete e vinte, bola no meio do campo, Rebeca chuta e o jogo começa.

Nos primeiros minutos, o Brasil domina a posse de bola, fazendo os passes fluírem. O problema é que, quando chega a hora de finalizar as jogadas, o Japão se fecha e puxa rápido o contra-ataque. Sinto o estômago pesado e estou cerrando os dentes de tensão, com a sensação incômoda e completamente errada de que, se eu estivesse em campo, saberia como controlar melhor a partida. Posse de bola não é nada contra o Japão. O Brasil precisa começar a marcar, e rápido. Uma vez que as jogadoras japonesas encontrarem a maneira de fazer o contra-ataque funcionar, vai ser difícil fazê-las perder o ritmo.

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