XVI

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Estaciono em frente à cabana que Liz descreveu, e memórias voltam à mente. Este era o lugar onde nos encontrávamos nos primeiros meses, quando Liz começou a trabalhar sozinha e precisávamos nos ver longe dos olhos de Marco. Respiro fundo, preparando-me mentalmente para o que pode vir a seguir, e caminho até a entrada da casa. A porta está fechada. Desfiro duas batidas e ouço silêncio.

— Bethany? — chamo pela mãe de Liz. — Sou Aaron Hotchner, chefe da Elizabeth.

Pela janela, não vejo ninguém, mas noto uma caneca e um copo na mesa de centro da sala, um pequeno prato com biscoitos comidos e um ursinho sobre o sofá.

— Por favor, não quero lhes fazer mal algum. Liz pediu para que eu viesse buscá-las.

A porta se abre e pego minha arma instintivamente. Não vejo ninguém, mas noto outra arma sendo apontada para mim. Entre o vão da porta, vejo a senhora mais velha, tremendo com as mãos nervosas.

— Mostre seu distintivo ou chamo a polícia.

Ela ordena, e eu guardo novamente minha arma. Com cautela, pego meu distintivo e mostro a ela, que relaxa e abaixa a arma.

— Me desculpe, Liz saiu e fiquei tão apavorada com a situação que imaginei que fosse Marco se passando por você.

Ela abre a porta completamente, me dando passagem para entrar.

— Fique tranquila, Bethany. Eu imagino o que vocês têm passado nas últimas horas. — Sorrio fraco.

— Onde está minha filha?

— Bem... Liz foi atrás de Stanton sozinha. Ela acabou levando um tiro, mas já está bem e se recuperando no hospital. Stanton está morto, sem volta dessa vez. — Explico brevemente. — Ela pediu para eu vir buscá-las e levá-las ao hospital. Liz quer ver Eliza.

— Ah, meu Deus, eu falei para Elizabeth não fazer isso, mas teimosa do jeito que é... — Ela passa a mão pelos cabelos, nervosa.

— Fique tranquila, Bethany. Como eu disse, ela já está bem, se recuperando, e quer ver vocês o mais breve possível.

Bethany me encarou por alguns breves segundos, como se procurasse uma forma de me perguntar algo, mas não soubesse como.

— Você sabe, não sabe? — Arqueio a sobrancelha em dúvida da sua pergunta. — Sobre Eliza? Sobre a paternidade dela?

— Eu sei... descobri de uma forma não tão agradável.

Bethany soltou um sorriso fraco.

— Sempre disse para a Liz que ela não poderia esconder isso para sempre. Que uma hora tudo iria desmoronar, porque mentiras não podem construir verdades.

— Eu espero que essa tenha sido a única mentira no momento. Ainda não sei como lidar com tudo isso.

— Bem, talvez Eliza te ajude.

Bethany sai e segue pelo extenso corredor da cabana. Depois de alguns minutos, ela volta segurando a mão de Eliza. Minha filha. Sinto meu coração desacelerar por um breve momento. Quanto mais perto Eliza chega, mais vejo Elizabeth nela, mas também me vejo nela, uma combinação perfeita de mim e da Liz. Seus cabelos, os olhos grandes e o jeito meigo são da mãe, mas a fisionomia inteira é minha.

— Eliza, esse é o Aaron, um amigo da sua mãe. Ele veio nos buscar, cumprimente-o, querida. — Bethany diz à garotinha, que fica tímida.

— Oi, Aaron, eu sou Eliza. — A voz baixa e suave como a de Liz.

Aproximo-me da menina e me abaixo à sua frente, encarando-a com ternura.

— Olá, Eliza, prazer em te conhecer. Sou Aaron. Sua mãe fala muito de você, sabia?

Seus olhinhos brilham e vejo o amor que ela tem pela mãe.

— Você viu minha mãe? Ela tá bem?

— Está sim, pequena. Ela teve um probleminha e está no hospital agora, mas estou aqui para levar você e sua avó para vê-la.

— Você ouviu, vovó? A mamãe está bem. — Ela sorri de ponta a ponta.

Me levanto.

— Acho que está na hora, meninas. Vamos?

Pergunto, e ambas concordam com a cabeça.

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Enquanto nos dirigimos para fora da cabana, noto que Bethany está visivelmente mais calma, mas ainda preocupada. Seguro a mão de Eliza com firmeza, sentindo a responsabilidade de protegê-la e de finalmente conhecê-la melhor.

— Você gosta de ursinhos, Eliza? — pergunto, tentando quebrar o gelo.

— Gosto sim, Aaron. Eu tenho vários em casa. — Ela responde com um sorriso tímido, mas confiante.

Entramos no carro, e eu ajudo Bethany e Eliza a se acomodarem nos bancos de trás. Durante o trajeto até o hospital, Eliza olha pela janela, fascinada com as paisagens que passam rapidamente. Bethany, sentada ao lado dela, permanece em silêncio, mas seu olhar revela uma mistura de alívio e ansiedade.

— Aaron, como Liz está realmente? — Bethany finalmente pergunta, sua voz tremendo um pouco.

— Ela está bem, Bethany. Os médicos disseram que ela vai se recuperar completamente. — Respondo, tentando transmitir calma. — Liz é forte. Vai sair dessa.

Eliza olha para mim, seus olhos cheios de curiosidade e preocupação.

— A mamãe vai ficar bem, não vai, Aaron? — ela pergunta, a inocência em sua voz me tocando profundamente. — Eu só queria ela agora.

— Vai sim, Eliza. Ela vai ficar ótima. — Digo, sorrindo para ela pelo retrovisor. — E ela vai ficar muito feliz em ver vocês duas.

Quando chegamos ao hospital, ajudo Bethany e Eliza a descerem do carro. Caminhamos pelos corredores até o quarto de Liz. Cada passo que dou parece aumentar a pressão no meu peito, mas a presença de Eliza ao meu lado me dá força.

Finalmente, chegamos ao quarto de Liz. Ela está acordada, com um curativo no ombro, mas seu rosto se ilumina ao nos ver. Eliza corre para o lado da cama, e Liz a abraça com cuidado, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Mamãe! — Eliza exclama, aninhando-se nos braços de Liz.

— Meu pequeno rubi, estou tão feliz em te ver. — Liz sussurra, acariciando o cabelo de Eliza.

Bethany se aproxima, e Liz segura sua mão, trocando um olhar cheio de compreensão e gratidão. Eu fico um pouco afastado, observando a cena com um nó na garganta.

— Aaron... — Liz chama, sua voz suave, mas firme. — Obrigada por trazer minha família para mim.

— Sempre estarei aqui para vocês, Liz. — Respondo, aproximando-me dela e de Eliza.

Liz olha para Eliza, depois para mim, e sorri. Talvez esse fosse um momento só delas, saio do quarto e deixo as três lá para terem um momento só delas.

Dusk Till Dawn - Criminal MindsOnde histórias criam vida. Descubra agora