Conto - A lenda dos Zumpiros

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Quando a humanidade entrou em colapso, os vampiros dominaram o planeta conhecido por Terra. Aos poucos, cada pedaço de terra foi tomado por cadáveres pálidos e drenados. Pouco a pouco, tudo o que era conhecido deixou de existir: trabalho, passeios, família, sociedade. O mundo tingiu-se de vermelho, a sede por sangue tornou-se incontrolável. A sede por poder mais ainda.

Os vampiros mais empáticos deram a oportunidade aos humanos de transformarem-se em um dos seus. A maioria, contudo, foi apenas sacrificada pelo desejo insaciável pelo líquido cor de rubi. Renascer como vampiro não foi tarefa fácil para esses humanos, levemente afortunados, deixados para trás para se transformarem por conta própria.

Mas quem acha que esse destino trágico foi a pior parte que a humanidade enfrentou no seu pós apocalíptico está equivocado. Depois da matança desenfreada e da eliminação da raça humana, incluindo a minoria que se escondeu em bunkers, que, de qualquer forma, vieram a morrer de fome dentro de alguns meses, afinal, a agilidade vampírica não dava trégua alguma às tentativas de deixar o esconderijo, a Terra conheceu uma espécie ainda mais mórbida. Degradante. Repugnante.

Foi quando Rennê bebeu o sangue de um humano contaminado com raiva que a mutação ocorreu. O sangue vampírico modificado em contato com o Lyssavírus causou uma mutação ainda mais grotesca nas cadeias de RNA. O resultado? Uma deformação asquerosa. Rennê foi o primeiro Zumpiro.

Os vampiros também perderam sua soberania no novo mundo. Alastrando-se como qualquer vírus altamente contagioso, os Zumpiros, extremamente ágeis como os vampiros, sedentos tanto por sangue quanto por carne, constituídos por membros em decomposição e totalmente desconstituídos de consciência, onde prevalecia apenas o instinto selvagem, tomaram o planeta como um adulto toma o doce de uma criança.

Os Zumpiros não possuíam qualquer lucidez. Agiam pelo instinto mais primitivo e cruel. Nada mais importava além do gosto da carne fresca. Do sabor ferroso do sangue. Como criaturas que seguiam sons e movimentos, dificilmente consumiam uma presa por inteiro. Dispersavam fácil, corriam atrás de outras vítimas mesmo que ainda houvesse muita carne na sua presa atual. Conclusão: a raça vampírica extinguiu-se, renascendo totalmente como Zumpiros.

Ah, se os vampiros não tivessem sido tão gananciosos...

Taquicardia e outros sintomas do medoOnde histórias criam vida. Descubra agora