Abro os olhos, fria e morta. Eu, que sempre fui cética quanto à vida após a morte e, principalmente, a fantasmas, estou aqui hoje presenciando meu próprio funeral. Quero correr para os meus pais e falar que estou bem, quero fazer meu namorado parar de chorar. Estou bem, gente! Mas ninguém me vê ou ouve. Talvez a morte não seja assim tão ruim, talvez seja pior para quem fica. Será que sempre foi assim? Será que vovô também viu essa cena com um nó na garganta e uma dor profunda na alma por não poder consolar quem amamos? Será esse um castigo por termos nos deixado morrer? Não que eu tenha deixado, muito menos tentado... Eu não queria morrer, mas aqui estou.
Ainda vejo minhas formas, mas às vezes sinto que sou apenas um lampejo de luz, acho que minha existência nesse plano está próxima ao fim. Na verdade, acho que isso é uma despedida, uma última olhada - num dos piores momentos da vida - de quem amo. E também é um castigo, não posso intervir em nada, ninguém me ouve, ninguém sente minha presença. Assisto calada a despedida. Ou talvez seja um presente este momento... Uma chance de dar um último adeus a quem deixarei para trás, para seguir meu caminho, seja lá qual for.
Um calafrio percorre meu corpo. Até então não havia pensado no que viria a seguir, ao término da despedida. Seria a morte a quebra das correntes dessa vida, a libertação? Ou seria o pior dos nossos pesadelos? Céu, inferno, limbo, tudo isso existe ou apenas vagarei eternamente pelo mundo? Não tem ninguém aqui para me dizer e, por incrível que pareça, sinto um frio absurdo.
Não tenho lágrimas para chorar, mas deixo um beijo voar até as pessoas que amo, pois a despedida terminou. Queria dizer tantas palavras, mas aceito ficar muda. Um clarão surge à minha direita, e sei que devo seguir a luz, foi o que ouvi em muitos filmes de pós-morte que assisti tarde da noite, acompanhada das amigas, do namorado ou até mesmo sozinha. Nunca me senti mais sozinha do que agora.
Caminho até a luz e percebo que, a cada passo, um pouco de mim se apaga. Acho que só a minha alma chegará até a luz, meu corpo é materialização apenas deste mundo. Este é o meu adeus. Coloco os pés no clarão e, então, perco a consciência...
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Taquicardia e outros sintomas do medo
HorrorRespiração ofegante, frequência cardíaca cada vez mais elevada, boca seca e amarga, calafrios por todo o corpo, pelos eriçados, pernas que parecem pesar toneladas. Às vezes, o medo causa um pico de adrenalina que lhe permite correr para longe. Contu...