Ps: Não encare isso como uma carta de amor

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Ele abriu o envelope do papel que Anne o deu pouco depois de sair do salão onde a garota havia dado a sua 'Festa surpresa'. o papel, frio e áspero, rasgou um pouco antes de ser aberto.

E Nico leu, ansioso, a caligrafia borrada de Anne

'Nicolas, meu amado morto vivo, você deve estar me odiando agora. Tudo bem, eu entendo, eu também estou me odiando agora.

O 'quê' dessa minha 'fugida' foi que eu não quero morrer.Ponto. Mas esse não é o motivo de eu estar fazendo papel de boba escrevendo essa coisa, até por que posso dizer isso na sua cara quando eu quiser. ' Eu não quero morrer Nicolas' com certeza é mais fácil de dizer do que eu tenho pra te falar.

Estou escrevendo isso, e quero deixar bem claro, que é porque é bem mais fácil gritar pelo papel do que com palavras ao vento.

Eu sou covarde demais para dizer aquelas três palavras, sabe? Aquelas palavras que você diz quando gosta realmente de alguém. Mas acho que você vai entender quais são essas palavras e talvez, apenas talvez, eu tome coragem e fale para você no final.

Para começar, não tenho medo de você, aliás, queria aproveitar a oportunidade para dizer que você é a coisa que menos me dá medo na vida.

Queria te dizer que você é a primeira pessoa que gosta de se isolar e é tão facilmente impressionável. Não levou isso como um elogio? Bom, não sou paga para dar elogios (Aliás, nem sou paga, lembre Julie das minhas 20 pratas) e depende do modo que você encara a coisa.

As pessoas que gostam de se isolar geralmente são frias e acham o mundo uma droga, sempre chorando pelos cantos e reclamando de como a vida é ruim com eles. Mas você tem brilho nos olhos Nico, o brilho que não consigo enxergar nos outros. É a única coisa que consigo 'captar' desses seus olhos de gente doida.

Queria te dizer que desde a primeira fez no 'Lugar de Sempre', eu já sabia disso. Pois esse brilho nos olhos me fez acreditar que havia muito mais por trás desse garoto sozinho e obscuro que as pessoas te encapam, e até você mesmo se encapa. Eu cavei fundo esse buraco Nico, e descobri muitas coisas. Descobri que havia mais de você por baixo desse manto do que eu suspeitava. Tudo isso em apenas três dias. Mas, na opinião dessa pobre garota aqui, três únicos dias são mais que o suficiente quando se descobre a pessoa certa. Três dias , três meses, três séculos. Quanto tempo for preciso, tenho certeza de que o que o formigamento no estômago que sempre acontece quando te vejo seria o mesmo em um zilhão de anos.

Mas a questão é que eu não tenho todo esse tempo.

E antes que eu vá e não tenha coragem suficiente para te falar isso, quero que saiba também que você não está sozinho garoto. Para com essa paranoia de se esconder e achar que as pessoas nunca vão te entender..

Eu me lembro do dia que você me contou sua história. Você pode não acreditar, mas eu vi seu amargor e aí eu quase tomei coragem e disse que eu te amo. Eu acho que te amo.

Feliz agora?

Consegui.

Agora é a sua vez.

Só espero que tome coragem depois que eu chegue do Canadá e que não corra atrás de mim agora para...Sei lá, pedir explicações.

Com amor

Anne

ps: NÃO ENCARE ISSO COMO UMA CARTA DE AMOR '

Nico embolou o papel e escondeu no bolso esquerdo da jaqueta de aviador, absorvendo as palavras como uma esponja absorve uma ligeira poça d'água.

Aquele pequeno pedaço de papel já havia dito tudo o que ele precisava ouvir. E mais um pouco.

Como se aquele momento fosse se desmanchar em manteiga derretida se ele não fizesse isso, desenrolou a carta do bolso e foi correndo ao não tão distante chalé de Hades, colocou o bilhete onde deveriam estar os seus projetos para armas e passou ligeiramente o dedo indicador por cima do 'Com Amor, Anne'.

'Me desculpa, juro que não vou pedir explicação alguma' . Pensou ele.

e sai em disparada vendo o relógio marcar as duas horas e cinquenta e cinco minutos.

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Nico chegou ofegante ao ponto onde a sombra de uma garota com o cabelo prendendo  desajeitadamente pairava, acompanhada de Argo. Mas isso não o impediu de lhe apertar contra o peito como se quisesse que ela morasse ali.

-Fique aqui comigo.- Disse ele- Por favor.

um cacho loiro se desprendeu do coque da garota e caiu livre pelas costas.

-Você pode ficar comigo para sempre, ou pode ficar comigo por enquanto.

E dizendo isso, Nico soltou a garota, e, fingindo não notar as lágrimas que marejavam olhos dela, deixou que fosse até a vã de Argo para o Aeroporto Internacional de Nova York, com as três palavras ainda brecadas na ponta da língua, e ficariam ali por mais dois meses, até que sua dona voltasse.

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