A música que Anne cantou ficou em sua cabeça por uma noite inteira. Talvez porque ela cantava apenas uma parte e errava e aí repetia, mas ficou ali. Latejando e latejando.
O próximo dia seria seu aniversario de 17 anos. E então ele se lembrou. Lembrou-se de tudo o que não gostaria de se lembrar.
Bianca estava sentada no sofá do hotel onde ele e sua mãe ficaram hospedados pouco antes da tragédia que levou os garotos ao Cassino Lótus. Seus cabelos negros sobre a boina verde escura, ela usava um vestido marrom com um laço preto. Aquele era o vestido favorito dela, mas Bianca não gostava de usar os vestidos, que, na época, eram obrigatórios nas garotas de 12 anos. As lembranças fazem lágrimas caírem no travesseiro branco do Nico de 16 anos e meio.
- Você lembra que dia é hoje? - Disse ela para sua mãe, sorrindo sem querer e tentando disfarçar.
-Não. Um dia como qualquer outro. - Respondeu a mãe. Sua voz ainda era familiar para Nico. Ele nem sabia se aquela em sua lembrança era mesmo a voz de sua mãe, pois as memórias sobre ela já haviam o deixado. Sua mãe... Devia ter sido uma mulher fantástica, para amolecer o coração do grande e poderoso Hades.
Nico sabia que dia era aquele, afinal, era seu aniversário. E ele esperava que todos lembrassem, gostaria também de um presente e uma rara visita do papai.
- Mãe. - Disse o pequeno Nico com lágrimas nos olhos- Você se esqueceu do meu aniversário?
Maria sorriu.
- Seu aniversario não foi ano passado Nicolas.
-Ah... Mas...
- Bom, então sorte sua que eu comprei isso aqui. - Disse ela, Bianca trouxe uma caixa branca cujo conteúdo balançava de um lado para o outro e depositou em cima da mesinha de centro. Um bolo pequeno com glacê azul escrito 'Feliz aniversário Nico!' de um jeito borrado pelo balance de Bianca.
Nico sorriu imensamente. Poucos meses atrás, perguntara a Bianca se existia algum tipo de comida azul. 'Se você jogar tinta azul em qualquer tipo de comida, ela passará a ser uma comida azul Nico.' Respondeu a irmã com o tom que todos os irmãos mais velhos tendem a responder á perguntas bobas dos mais novos.
Sete velinhas colocadas pela mãe deram inicio a festa no salão do hotel, tudo estava tão bem...
As portas do salão se abriram e tudo ficou frio. Até as velas estremeceram com a chegada de Hades.
O pai de Nico usava um terno preto que realçavam seus olhos também pretos como a loucura. Ou a morte, se preferir. Seu rosto era pálido e fino, e aparentava um coveiro bem vestido. Se não fosse pelo sorriso imperceptível em seu rosto.
-Papai!- Disse Bianca. E correu até o pai. Hades, no entanto se limitou a um pequeno abraço.
-Olá Bianca. - Disse ele.- Você cresceu desde a ultima vez que nos vimos.
- Já faz um ano e meio pai. - Disse ela
-Nico...- Disse Hades, indo de encontro ao filho, que lhe deu um abraço forçado.
O Nico de 16 anos chorou. Não queria chorar, chorar demonstrava fraqueza. Só queria poder parar de lembrar, dormir. Mas as olheiras dos seus olhos demonstravam que não era tão fácil.
- Te trouxe uma coisa do meu... Trabalho. - Disse o homem. As lembranças voavam como um filme.
Hades tirou um pequeno cachorro feito de ossos de uma fenda do chão do hotel. Ele deu uma voltinha em busca do próprio rabo de ossinhos.
- O nome dele é Perseu.
-Ele é feito de ossos, as pessoas não vão estranhar?
-Elas não vão nem, sequer notar filho. Lembra-se da história de Perseu?
-Lembro. Não gosto dessa história. Tem mortes demais.
Nico se lembrou do sorriso irônico do pai. E de que nunca o vira sorrir outro dia.
As imagens pararam por ali.
'Já se passaram 10 anos' pensou ele. 'Não. Já se passaram noventa anos....Noventa anos.'
Nico não sabia se queria ver mais, ou se parava por ali.
Só sabia que aquele garoto de 7 anos se fora. E que sentia falta dele.
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Nota:
Quebrei corações?
hahahaha
a fic está apenas no começo.......
hahahha
quem está lendo, comente para eu possa postar o próximo capítulo!
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Dias contados
Novela JuvenilAs pessoas alegam Nico di Angelo de ser o 'Cara sozinho que senta na beira do lago e fica observando, só observando'. Bom, ele é assim mesmo. Acha o amor uma coisa que não se deve preocupar, pois... Sei lá, é fútil. Mas Anne, uma cidadã anônima d...