-Quando você pretendia me contar isso?- Disse Nico, o quebrar das ondas era frequente e alto demais para ele.
Anne estava morrendo. Cada dia mais. Ela usava casacos para esconder manchas avermelhadas na pele, toucas para disfarçar a falta de fios louros na cabeça e tossia sangue suficiente para fazer uma empousa satisfeita.
-Não sei. Não queria te deixar preocupado.
-Preocupado. -Disse Nico com um sorriso debochado. - Você está piorando e não queria me deixar preocupado?
-Você falando assim qualquer coisa parece idiota. Tenho a absoluta certeza de que faria o mesmo se tivesse no meu lugar. Além do mais, você mesmo me deu a noticia dos 'Cinco meses contados'.
-O que quer dizer com isso? Que eu devia estar preparado? Não. Eu nunca estou. E olha que já passei por isso antes.
Anne não sabia o que dizer. Queria passar as mãos sobre os cabelos como sempre fazia quando estava aflita, mas tinha medo de que esses fios se soltassem.
-Encontrei Apolo. - Disse ela tão baixo que sua voz quase foi coberta pelo barulho das ondas. Nico ficou surpreso por um dos olimpianos se importar com a filha.
-O que ele disse?
Hades. Ela estava chorando. Estava com o nariz tão vermelho quanto a da rena do papai-noel. Encarava o horizonte, séria, como se o mundo tivesse congelado e o único movimento que ele poderia fazer era o cair das lágrimas da garota. Nico já tinha visto Anne chorar antes, quando ela descobriu os 'Cinco meses contados'. Mas era um choro de desespero. Agora ela chorava como se falasse 'Ok. Desisto. Não posso ser forte o tempo todo. '
- Ele disse que era te deixar antes que eu morresse. Pois minha morte é inevitável e você vai ficar aqui sofrendo e blá,blá... Então resolvi te perguntar, eu não vou deixar você se não quiser ser deixado. Pode ficar comigo por enquanto, ou pode me deixar ir e...
-Não vou me atrever a xingar Apolo, mas eu xingaria. Não. Fique aqui do meu lado e não saia nunca mais.
Anne queria rir. Mas sabia que seu nunca mais estava muito próximo.
Cara, ela estava dramática e depressiva demais. Precisava de fones de ouvido e música alta. Urgentemente.
-Seu pedido é uma or...- Anne tossiu muito. Procurou o pano vermelho no bolso do casaco, mas não achou, consequentemente, segurou o sangue dentro da boca. O gosto de ferro a invadiu. Ah! Merda. Não podia cuspir sangue na frente do seu namorado fofinho.
Ela levantou o dedo indicador pedindo um segundo e foi até um canto onde Nicolas não poderia vê-la. E cuspiu em um canto o sangue leucêmico que invadiu sua boca.
Que nojo. Pensou.
Anne verificou suas roupas. Tinham respingos de sangue do momento em que tossiu. Seus dentes provavelmente também estariam manchados. Limpou-os rapidamente, e tirou a blusa de frio para esconder os respingos na calça. Deixando expostas manchas vermelhas no braço e no pescoço.
Não tem como esconder.
Uma mão ossuda pousa em seu ombro.
-Ei. -Nico diz tentando não encarar a mancha vermelha na areia. Ele desamarrou com cuidado a blusa da cintura de Anne, limpou alguns respingos vermelhos da bochecha da garota e segurou o casaco que ele mesmo deu para ela em um dos braços. Por fim deu um beijinho na testa dela, que fechava os olhos com força para não chorar de novo. Não podia chorar. Não ali.
-Como pode olhar para mim desse jeito?- perguntou ela.
Nico examinou Anne. A pele pálida, os lábios que apesar de tudo continuavam rosados, olhos azuis claros e brilhantes que já permitiam lágrimas escorridas, as maças do rosto acentuadas e as manchas vermelhas que não deviam estar ali.
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Dias contados
Roman pour AdolescentsAs pessoas alegam Nico di Angelo de ser o 'Cara sozinho que senta na beira do lago e fica observando, só observando'. Bom, ele é assim mesmo. Acha o amor uma coisa que não se deve preocupar, pois... Sei lá, é fútil. Mas Anne, uma cidadã anônima d...