O ar quente da manhã do dia 28 de dezembro cortou a garganta de Anne com um espasmo, Ela abriu os olhos, esperando ver as luzes do chalé sete refletirem em seus olhos. Observou momentaneamente surpresa seu quarto no Brooklin, na casa dos pais. Estava ali desde o dia anterior, para que de manhã pudesse ir pegar os últimos exames. Os que dirão se ela estava ou não definitivamente curada.
As paredes repletas de fotos, partituras velhas de músicas e livros. Tudo ali era muito familiar e muito estranho. Ela estranhou ser tudo tão familiar, pois se passara tanto tempo que ela não acordava no quarto junto com aquela família comendo na sala e a mãe berrando para acorda-la. Ela sorriu, sentindo a nostalgia bater as asas no estomago como uma borboleta.
-Bom dia pessoal. - Disse ela para os pais.
-Bom dia. - Responderam os dois pais e Cris em uníssono. Cris adorava acordar mais cedo que ela para demonstrar que era mais adulto. O que só o tornava ainda mais infantil.
Anne estralou os pés descalços contra os pisos de madeira até a cozinha, passou manteiga em uma fatia de pão francês um tanto murcho. Anne amava pão francês. Ela colocou café quentinho em uma xícara verde com flores e partiu para a sala.
Novamente, estranhamente familiar.
-Que horas eu vou ter que pegar os exames finais?
- Daqui a uma hora e meia, então come logo. - Respondeu a mãe. - Eu iria com você, mas eu e seu pai temos uns problemas a resolver lá no jornal.
-Ei! -Disse o pai, se levantando, deixando o peso da barriga se sobressair. - Todos nós sabemos o resultados dos 'Exames finais.' - James bagunçou os cabelos da filha adotiva, começando a cantar música country bem alto.
>>>>>>><<<<<<
O celular tocou. O toque não era nem sequer uma música, mas um conjunto de campainhas tocando em sintonia.
Nico fechou a mão sobre o aparelho no bolso. Ele e Anne tinham conversado horas e horas pelo celular desde a última vez que tinham se visto, há quatro dias na festa de natal dos Pierce. Anne sempre jogada na beliche do chalé sete e ele jogado na cama de casal do 13. Ela já tinha gastado um bom dinheiro mortal em crédito para o telefone. Ontem à noite Anne foi para a casa dos Pierce no Brooklin, para poder 'facilitar' sua ida ao médico para pegar os últimos exames.
Nico abriu o velho aparelho e apertou o botão com um pequeno telefone verde desgastado.
-Oi. - Disse a voz do outro lado da tela. Apesar de já ter conversado muito via telefone com ela, ainda ficava surpreso com o chiar a voz, ás vezes o eco o fazia olhar para os lados esperando ver alguém ai. Nico preferiu achar que era culpa do aparelho ser velho do que ele ser antiquado.
-Oi! Dá pra ouvir?!Ta chiando um pouco! Um, dois, três, testando...
-Nicolas! Não precisa gritar. Eu estou te ouvindo.
-Ok...Ok...Aconteceu alguma coisa? Qualquer coisa? Tipo, você está bem?
Ele a ouviu rir do outro lado da linha, teve que afastar o ouvido por causa do chiado.
-Sim. Pelo jeito você percebeu o... O fato que o dia de hoje marca.
Nico suspirou.
-28 de dezembro. - Disse.
-5 meses contados.
-É hoje.
-Vou pegar meus exames, e vamos ver se tudo isso ainda valeu a pena. - Desta vez, ela suspirou. - Eu te liguei pra...Nem eu sei porque te liguei... Eu só...- Dois segundos se passaram, Anne suspirou mais uma vez. - Entende?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Dias contados
Novela JuvenilAs pessoas alegam Nico di Angelo de ser o 'Cara sozinho que senta na beira do lago e fica observando, só observando'. Bom, ele é assim mesmo. Acha o amor uma coisa que não se deve preocupar, pois... Sei lá, é fútil. Mas Anne, uma cidadã anônima d...