O fim

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Cinco por cento de chance para sobreviver.

'Cinco por cento é um número grande em uma escala de 0 á 5' ele pensou tomando outro gole. 'Mas pequeno em uma escala de zero á dez. Menor ainda em 0 á 100...'
Cinco por cento.

A garrafa de uisque esvaziou. Ele pegou mais uma das que estava ao lado da cama.

Uma dor de cabeça latejante tomou conta do crânio de Nico já havia um tempo. Ele fitava o teto do chalé, enquanto bebia mais um demorado gole do conteúdo da garrafa.

- Ela é como café frio de manhã / Eu estou bêbado de úisque e coca da noite passada. - Cantarolou ele. - Ela me faz tremer sem aviso prévio/ E me faz rir como se eu estivesse dentro da piada.

Sua voz era desafinada, arrastada por causa da bebida. Seu estomago estava revirado, e ele sentia que precisava botar o que tinha ali dentro para fora o mais rápido que pudesse.

Tomou outro gole da bebida.

-Você poderia ficar comigo para sempre/ Ou você poderia ficar comigo por enquanto. - As lágrimas que escorriam em vertical molhavam o cabelo e o travesseiro. - Diga-me se eu estiver errado, me diga se estou certo /Diga-me se você precisa de uma mão amorosa para ajudá-la dormir esta noite/ Diga-me se eu souber, me diga se eu faço/ Diga-me como se apaixonar da maneira que você quer... Ah, droga! Pare de chorar!

Nico tapou o rosto com as mãos e prendeu o cabelo que colava no rosto entre os dedos. Ele simplesmente não conseguia parar de chorar. Estava bêbado e triste demais para isso.

'Triste' não é a palavra certa. A palavra certa seria 'Quebrando'. Foi como se alguém tivesse fuzilado uma parede de vidro.

Nico suspirou fundo.

'Lá está o filho gay de Hades.' pensou ' A criança que gostava de mitomagia e perdeu todos os que amava, foi obrigado a crescer rápido demais. E agora está jogado no acampamento meio-sangue chorando em posição fetal por uma garota.'

O que havia acontecido com ele? Como tudo foi virar de cabeça para baixo tão bruscamente?

Ele se lembrou do que Will Solace o disse uma vez ' Se a vida lhe der limões, seja mais criativo e faça uma torta.', Nico respondeu que a vida nunca lhe daria limões por que a vida não era uma pessoa física. 'Olha, Di Angelo, quem você pensa que é para ditar as regras sobre como a vida deve ser? E se ela quiser, por acaso, ser física ou não? O que você faria? Mataria a vida só porque você acha que ela não deveria ser física e sim um termo para tudo o que já existiu? ' Ele discursou mais um tempo sobre o assunto.

Pensar em Will o fazia sorrir.Quando ele morre.. Bom, foi um pouco diferente do que ele estava sentindo agora. Menos... Literal. Além disso, era melhor do que pensar em Anne e seus cinco por cento de chance de sobrevivencia.

Cinco meses para a morte, cinco por cento de chance de sobrevivência, cinco dias em coma... Aquilo só podia ser algum tipo de pegadinha sacana das parcas. De qualquer modo, Nico desenvolveu um odiosinho pelo número.

Ele sentiu a bile tomar conta da garganta e ir subindo. Correu para o banheiro e pôs tudo o que tinha para fora.

Aquele lugar já fedia. Muito. Cinco dias completamente podre e sujo de vômito.

Nico observou o rosto no espelho em cima da pia do banheiro.

O cabelo estava grande demais e molhado na região perto das orelhas, o suor estava grudando o mesmo no pescoço, os olhos estavam pequenos embaixo das pálpebras inchadas e o estomago se contorcia. A cinco dias ele só vinha a sobreviver de bananas que ele gradava no chalé.

Dias contadosOnde histórias criam vida. Descubra agora