Pra sempre.

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6 anos depois.

A chuva fria caia e molhava seus sapatos e jaqueta. Apesar do guarda-chuva, os cabelos negros grudavam no rosto. Ele suspirou fundo. Sabendo que tudo aconteceria novamente, sempre a mesma rotina em 6 anos.

Os mesmos rostos, as mesmas rosas vermelhas, as mesmas lágrimas...

A mesma pedra de mármore com o nome dela.

Nico não queria isso, nunca quis. Mas aconteceu. E o que ele faz em todo o dia 28 de dezembro era o mínimo que ele poderia fazer por cada um dos cinco meses contados. Por muito mais do que aqueles míseros cinco meses contados.

Ele caminhou até o mausoléu, sentindo as folhas de grama se esmagarem sobre os sapatos. Quando fechou o guarda-chuva, deixou os pingos que molhavam o tal caírem livres sobre o chão. O lugar era feito de mármore e pequeno, mármore branco e aparentemente caro, que família de Anne não podia pagar sem a ajuda do pai biológico da garota.

A lápide estava empoeirada, mas ainda dava para ler claramente ' Anne Pierce, 2000 – 2016 ' entalhado sobre uma cruz.

O mármore era gelado, ele passou a mão sobre para retirar a poeira e as imagens do velório vieram como tapas na cara. Ele não queria lembrar, ele queria fechar os olhos e apenas... Respirar. Mas não conseguiu, obviamente.

Anne foi velada em um dia de chuva. Parecia que o Sol também estava de luto. Considerando o fato de o Sol ser o pai dela, isso se torna... Conclusivo.

Os pensamentos dele corriam como os pingos de chuva fora do mausoléu. Imprecisos. Nico não sabia sobre o que estava pensando, só sabia que pensava em 700 coisas ao mesmo tempo. Seus olhos estavam tão tempestuosos quanto os de Annabeth.

Havia flores – Margaridas – Presas sobre o cabelo cacheado e pela primeira vez, cuidadosamente penteado e espalhado sobre o forro do... Caixão.

Ela vestia um vestido branco e leve, que parecia ondular e tremular mesmo que sem vento algum. As marcas vermelhas na pele ainda mais clara não eram mais visíveis. E ele se lembrou do que o pai tinha lhe dito logo após a noite em que ela se foi 'Ela não parou de te amar. Você não parou de ama-la. As parcas não se sentiram satisfeitas com o término de vocês. Foi como prender um quadrilheiro e deixar a porta da cela aberta.'

Nico se lembrou de ter socado o reflexo do pai com todas as forças, se perguntando o motivo de não ter lhe dito aquilo antes. Ele teria dado um jeito.

Nico, agora com 23 anos, respirou fundo e encarou a pedra com o nome dela, deixando os olhos circularem pela cruz. Uma frase apareceu e piscou em sua mente como um pisca-pisca de natal.

'Ela está em um lugar melhor.'

E de fato estava. Em um lugar onde nenhum namorado louco e esquisito podia ir encher o saco dela.

-Oi. – Sussurrou ele. -Como... vai? Espero que esteja bem. Esses 6 anos foram uma loucura sem você. Principalmente com esse negócio de 'Conselheiro do Acampamento'. Mas... Disso você já sebe. Eu te contei ano passado. Esse ano foi um ano comum. Crianças novas no acampamento, atividades novas no acampamento, pégasus fedorentos novos no acampamento... Minha vida está se resumindo no acampamento. Pelo menos eu ainda tenho alguma coisa para me distrair.

Ele respirou e contou até três em seguida. Nos três primeiros anos, ele sabia que Anne respondia. De um jeito ou de outro. Ás vezes escrevendo na poeira sobre o mármore, ás vezes cochichando, a ás vezes até ele até á ouvia rindo. Mas só nos três primeiros anos, agora era tudo vazio. Como se estivesse falando com o mármore.

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