VII

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Vaticano, 20 de novembro

Após conseguir as informações e registrá-las por tanto tempo, Cesare foi para o Vaticano para trocar a dignidade da irmã pelos planos de Della Rovere e os nomes dos seus apoiadores. Aquela seria a única maneira de se conseguir manter a virgindade da irmã, pelo menos até a noite de núpcias. Ele foi ao quarto do pai. No corredor, encontrou-se com o cardeal Ascanio Sforza, que carregava uma pilha de papéis nos braços.

— Cardeal Ascanio Sforza. — Chamou Cesare. — Onde está o Santo Padre?

— Está em seu escritório desde ontem. Siga-me. Vou levá-lo até ele.

Ambos caminharam pelos corredores e salões por algum tempo. Por fim, chegaram a uma sala aberta, por onde entraram. Naquela sala, havia várias mesas, uma delas, a maior, muito bagunçada, vários homens dispostos em mesas analisando papéis e fazendo anotações, e um plano num cavalete, analisado pelo Santo Padre. O Papa estava diante do cavalete, alfinetando broches nele. Os presentes foram dispensados por Cesare. O Sforza deixou os papéis e saiu, fechando a porta. O barulho fez o Pontífice olhar para trás. Ao ver o filho, sorriu.

— Venha cá, meu filho. — Chamou o velho homem.

— O que é isto?

— Isto é um esboço da organização dos convidados do casamento de sua irmã, mas estou tendo dificuldade para alocá-los. Poderia me ajudar com isso?

— Talvez mais tarde. Tenho informações para trocar com Sua Santidade.

— Se me ajudar assim que acabar... Bem, diga o que veio me dizer.

— As suas suspeitas de uma conspiração estavam certas.

— Continue.

— Antes, Sua Santidade deve prometer censurar a consumação do casamento público. Se ainda é o pai amoroso que era antes dessa Mitra, livre-a disso.

— Eu não posso, Cesare. Duas testemunhas precisam estar presentes. Isso é imutável. Talvez eu consiga adiar, mas tudo depende do noivo. Se violar os seus interesses de consumá-lo, o casamento pode ser cancelado. Não posso fazer muita coisa.

— Promete ao menos tentar convencer meu futuro cunhado, Santo Padre, a não consumá-lo publicamente?

— Prometo, meu filho.

Cesare suspirou, olhando-o nos olhos.

— Della Rovere trama depô-lo desde o dia da coroação. Basso, D'Aubusson, Cibo, Medici, Costa e Piccolomini estavam com ele.

— O jovem Medici? Eu lhe dei a permissão de estudar em Florença... Ingrato! Todos falsos. Ao menos, Cibo mudou de lado, mas é tão inconsistente que ficará com Della Rovere no final das contas. Eles ainda são a minoria nesse Colégio de Cardeais. Não se pode confiar nos italianos. São como serpentes escorregadias. Precisamos expurgar esse Colégio. Menos italianos e mais pluralidade leal. — Ele fez uma pausa. — Alguma ideia de onde o causador de problemas está agora?

— Eu arriscaria Óstia, onde tem uma fortaleza, Santo Padre.

— Não. Ainda é muito perto. A mãe de todas as serpentes da Cidade Santa deve ter se rastejando para o sul, para Nápoles, ou talvez tenha ido para a coxa da perna da Europa, que calça esta maldita bota chamada "Itália", o Ducado de Milão e Florença, ou pode ter se esgueirado e ido para a sua virilha, a velha Gênova, próxima do fedor das genitálias da Europa: a França.

— Quer que o traga para Roma?

— Ele voltará. Tenha fé. Agora, ajude-me com os convidados, sim?

Cesare hesitou em ajudá-lo, mas, por fim, cedeu à sua insistência. Parecia ter feito o desejo da irmã. Cumpriu com o seu dever com Lucrezia. Aquilo lhe parecia um bom acordo para manter a dignidade da irmã.

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