Nápoles, 10 de janeiro
O cardeal Della Rovere chegou em Nápoles naquela manhã de janeiro. Ele havia conseguido a tão esperada audiência com o único rei da Itália. Aquele rei chamava-se Ferdinando.
O Rei Ferrante tinha uma longa história. Ele mal conhecia o seu pai. Ainda jovem, ele partiu de sua terra natal, Aragão, para a Itália, a fim de encontrar o pai, que era o Rei de Nápoles na época. Como o grande cavaleiro que seu pai o fez, lutou contra os florentinos a pedido dos venezianos. Ferrante demonstrou força e vigor tal que, não muito tempo depois, foi feita a paz entre Florença e Nápoles. Ferrante foi recebido com alegria e louvor pelos napolitanos ao voltar para Nápoles. Ferdinando era amado pelos napolitanos. Após a morte do pai, porém, mesmo sendo coroado, enfrentou diversos inimigos: o príncipe de Viana, os barões, Jean II de Anjou, o Duque de Lorena e do Papa Calisto III — nascido um Borgia —, que reivindicava o reino em nome da Santa Sé. Graças à população e aos barões, que lembraram-se da legitimidade do trono através dos Papas, proclamaram pelas ruas o nome de Ferrante; o príncipe, vendo que todos amavam a Ferrante com fervor, abandonou os conspiradores e fugiu de Nápoles em um barco.
Todavia, Ferrante queria o apoio do Papa, que tinha sido o seu mestre, o seu professor e amigo. O Rei, então, antecipou a investidura, fazendo a sua própria coroação, com um cardeal com a benção pontifícia. Todavia, Calisto estava mal intencionado. O Papa fez de Pedro Luis de Borja (irmão mais novo de Rodrigo Borgia) o Duque de Spoleto, também concedeu anistia a todos que estavam sob o jugo de Ferrante e ordenou, sob pena de excomunhão, que todos os nobres e todo o clero napolitano se recusassem a obedecer Ferrante. Além disso, Calisto declarou que o trono de Nápoles estava vago e sob controle da Santa Sé. Após a morte de Calisto, o qual Ferrante passou a odiar, conseguiu a sua investidura através de seu sucessor, o Papa Pio II, com várias condições que, na visão de Ferrante, soavam abusivas. Ele teria que pagar impostos não pagos, ajudar eternamente o Papa em tudo que lhe fosse solicitado, devolver Benevento e Terracina à Igreja e outros termos amargos ao Rei.
Mesmo derrotando o Papa através da política, os nobres napolitanos ainda cobiçavam o trono para outro: o Príncipe de Taranto, Giovanni Antonio Orsini del Balzo. Através de seus aliados, Giovanni tentou assassinar o Rei, mas falhou. Ferrante, então, declarou uma guerra contra os seus barões, incitando Jean II de Anjou, que reivindicava o trono, a descer para Nápoles. Todavia, Ferrante venceu os seus inimigos, expulsando Jean de volta para a França.
Nos anos seguintes, fez Nápoles prosperar através de sua política de casamentos. Casou seus filhos com grandes reinos e duques para assegurar-se no poder. Fez uma aliança com Milão e Florença, os Estados italianos mais poderosos de seu tempo, abaixo de Nápoles. Quando viu-se traído pelos Sforza, organizou motins em Gênova, que clamavam o seu nome, e fez uma aliança com os franceses, causando temor em toda a Itália, inclusive no próprio Papa. Várias guerras se seguiram e em todas Ferrante saiu vitorioso. Sua inteligência era impressionante, assim como a sua administração. Por isso, foi conhecido como "O Juíz da Itália."
Com Inocêncio, teve uma guerra, a qual foi excomungado. Porém, Ferrante já não se importava com Papas ou com ameaças de excomunhão. Ferrante enfrentou o Santo Padre e evitou a entrada dos franceses e de qualquer estrangeiro na Itália. As suas estratégias políticas eram perfeitas. Mesmo sendo mal visto pela Igreja, os clérigos napolitanos nada tinham contra Ferrante, pelo contrário, muitos o estimavam ou o temia. Mas não demorou muito tempo para uma nova conspiração dos barões, os quais foram aprisionados e torturados por vários meses, mas não danificando os seus corpos. A razão para isso era um projeto macabro, o qual chamou de "museu negro". Nele, seus inimigos eram conservados, mumificados para sempre, vestindo as suas roupas cotidianas. Os que visitaram o museu, não sentiam-se aptos em traí-lo, pois sabiam que o mesmo fim que levara aqueles homens, também seria o seu. Mas muitos diziam não ser verdade a tal exposição de cadáveres. Parecia fantasioso demais.

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Os Borgias
Fiksi SejarahEm 11 de agosto de 1492, subiu ao Trono de São Pedro Rodrigo Borgia, conhecido como "Il Valenciano", assumindo a alcunha de Sua Santidade o Papa Alexandre VI. Com o seu poder, fez da família Borgia uma das mais poderosas da Itália em muito pouco tem...