XVIII

5 3 0
                                    

Nas semanas que se seguiram, surtos de banditismo tomaram a cidade. O palácio de Lucrezia foi fechado. As famílias italianas dentro de Roma disputavam territórios, utilizando do banditismo para desviar a atenção das autoridades locais. As ruas e vielas estavam cheias de sangue. As praças eram espaços propícios para roubos e furtos. Alguns sequestros foram feitos, o que levou o próprio Papa a reforçar a guarda de Lucrezia, antes de dez soldados, para trinta e sete. A menina foi proibida de deixar o palácio e todos os visitantes eram revistados; porém, mais tarde, o Papa impediu que qualquer um entrasse dentro do palácio, exceto membros da família.

A situação estava tão alarmante que Della Rovere incubiu os seus mercenários a investigarem a situação, pois acreditava que aquilo era uma das obras de Alexandre VI. Rodrigo Borgia, o Papa, intimou a prefeitura de Roma a tomar medidas quanto aos crimes. Todavia, a prefeitura meramente colocou soldados insuficientes nas ruas.

Enquanto Roma era flagelada por criminosos de todos os tipos e pelas disputas das famílias italianas, Cesare e Micheletto viajavam pela Toscana, Úmbria e Bolonha. A viagem serviu para procurar os seus futuros aliados, um grupo de condottieri conhecidos apenas por Micheletto. Eram eles Francesco, de Saturnia; Lorenzo, de Dicomano; Giulio, de Castel del Rio; Vittorio, de Bolonha; Raffaele, de Ímola; e Oliverotto, de Ravena. O último deles era Zacaria, que estava em Forlì, onde governava Caterina Sforza e Giacomo Feo, o seu marido. Os condottieri foram deixados em um vilarejo próximo enquanto Cesare e Micheletto iam atrás de Zacaria. Ambos atravessaram a Porta Schiavonia, ao noroeste da cidade.

- O último dos seus amigos mora em Forlì, Micheletto?

- Não são meus amigos, Eminência. São meros companheiros de trabalho.

- Esse tal Zacaria é tão bom como você diz, Micheletto?

- Não, Eminência. Acho que o descrevi com certo exagero.

- Então o que fazemos aqui?

- Se recrutá-lo falhar, há um outro homem a quem pode agradá-lo. O seu nome é Lino. Espero que a imoralidade de Lino não o faça matá-lo, Eminência.

- De que tipo de imoralidade estamos falando?

- Imoralidade sexual, meu senhor. Digamos que ele tem uma preferência peculiar por homens.

- Entendo. Para mim, não vejo problema, desde que saiba como matar alguém com eficiência.

- Espero que não tenha desaprendido desde o nosso último encontro.

- Como conheceu toda essa gente?

- Viagens, Eminência. Por alguns anos, vaguei entre a Toscana e a Bolonha. Encontrei esses homens quando era jovem e aprendi boa parte do que sei para aperfeiçoar e me tornar muito melhor do que qualquer um deles sonha em se tornarem.

- Tem muita confiança em si próprio. Onde encontraremos ele?

- Se não estiver sendo enganado pela minha excelente memória, morava perto da abadia da cidade.

- Zacaria ou Lino?

- Ambos. Forlì foi o lugar onde aprendi a roubar e enganar. Consequentemente, aprendi a esconder-me também. Na Bolonha e na Toscana, aprendi a matar em segredo e não sentir remorso pelos meus atos.

- Ambiciona o poder, Micheletto?

- Não tenho ambição, Eminência.

- Um homem sem ambição é um homem sem propósito.

- Desejo apenas servi-lo da melhor maneira possível e obter um generoso soldo por meus serviços.

- Então não deseja marcar o seu nome na história?

Os BorgiasOnde histórias criam vida. Descubra agora