XIX

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Palazzo Apostolico, Vaticano

Dentro das muralhas do Vaticano, o Papa jazia em seu leito, ao lado de Giulia Farnese, sua amante. Havia acordado um pouco mais tarde do que o habitual. Sofria de uma terrível enxaqueca. Ele levantou-se, tomando o máximo de cuidado para não acordar Farnese, que dormia como uma criança nos finos lençois e cobertas branca e escarlates. Ao se pôr em pé, calçou os sapatos e desamarrotou a batina branca, a qual usava debaixo dos trajes papais. Ele deixou o seu suntuoso cômodo e partiu para os jardins.

Ali, sozinho, começou a sua caminhada matinal, pensando. O sol o castigava, pois a manhã era quente.

- Apolo, por que me quer mal? - Perguntou, ironicamente, rindo-se.

A expressão risonha, logo, desapareceu, voltando à sua melancolia. Alguns instantes depois, uma nuvem negra enorme passou diante do sol. Quando voltou os olhos aos céus, viu outras dezenas vindo com ela.

- Uma trégua? - Disse, rindo. - Parece que São Pedro tem piedade do humilde servo de Nosso Senhor.

Ele continuou o seu caminho, a passos lentos e tímidos, observando as folhas das das árvores e flores plantadas. Ao passar por uma roseira, viu adentrar dentro dela uma abelha. Fascinado, ficou a rosa e a esperou sair. Alguns instantes depois, ela saiu e partiu, batendo as asas para outra flor. O Pontífice a seguiu, intrigado, enquanto ideias surgiam em sua cabeça.

- Interessante. - Disse o Papa, ao ver o inseto pousar numa flor amarela. - Talvez, deva fazer o meu próprio mel, no Vaticano.

Enquanto isso, alguns cardeais estavam acordados, indo ao refeitório. O cardeal Sforza acompanhava Giambattista Orsini e Oliviero Carafa, apoiadores de Rodrigo Borgia, o Papa.

- Roma está mais perigosa do que nunca. - Disse Carafa. - Um homem foi achado morto no Tibre, boiando. Acharam-no num cais abandonado.

- O Vaticano também não é seguro. - Disse Orsini. - Dois cardeais morreram, estranhamente.

- Ardicino della Porta morreu infartado em sua cama. - Disse Sforza. - Quantas vezes devo repetir?

- Diga quantas vezes quiser. Alguém o matou. Talvez, um de seus empregados tenha o envenenado.

- E por que alguém o envenenaria, Orsini?

- Não faço ideia.

- Talvez, Della Rovere tenha o matado para tentar pôr a culpa no Papa Alexandre VI. - Disse Carafa.

- Não creio nisso. Della Rovere não faria isso. - Retrucou Orsini.

- Ouvi dizer que ele tem condottieri ao seu comando: Virginio Gentile Orsini.

- O que quer insinuar, Carafa? Acha que sou alguma espécie de espia?

- Acalmem-se os dois, por favor. - Disse Ascanio Sforza. - Não precisamos de mais intrigas por aqui. Já não basta Giuliano e Basso Della Rovere em suas conspirações?

- O que faremos com Della Rovere? - Indagou Carafa. - Ele é um causador de problemas.

- Ele age dentro de seu direito canônico. Caso o infrinja, iremos tratar disso com todos os meios legais que temos.

- Há dois cardeais fora de Roma. Devemos trazê-los de volta, como fizemos com Della Porta, antes do conclave?

- Não adianta. Zeno não voltará. Giovanni de'Medici diz estar estudando, em Florença. Creio que, se pedirmos para que volte, ele voltará.

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