XI

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Forlì, 20 de janeiro

O cardeal Ascanio Sforza, o vice-chanceler, foi novamente à Forlì. O seu intuito era dizer sobre as mudanças no casamento de Lucrezia pelo Papa Alexandre VI. Ele havia decidido dar à filha o direito de escolher as testemunhas. Sua missão era convencer Giovanni Sforza a aceitar as mudanças, porém, iriam se reunir com Caterina Sforza, a qual ele sempre temeu.

Ao adentrar a fortaleza, viu arsenais de guerra e muitos soldados, que praticavam esgrima uns com os outros. Caterina gostava de ter sempre um contingente armado dentro de sua fortaleza. Ascanio não fora tratado como um cardeal. Os guardas o conduziram como se fosse um simples camponês: o empurraram para acelerar o passo e, por vezes, tinha o seu corpo apalpado em cada corredor para garantir que não carregava armas. Enfim, chegou a uma sala, onde Caterina estava sobre um trono ao lado de seu marido, chamado Giacomo Feo, o qual casara apenas para evitar mais intrigas políticas de reivindicações. O cardeal curvou-se diante da Senhora de Forlì e Ímola, de seu marido e de Giovanni Sforza, que estava no canto da sala e vinha se aproximando do clérigo.

- O que quer, cardeal? - Indagou Caterina.

- Vim trazer novas de Vossa Santidade, o Papa Alexandre VI.

- Diga então.

- Em razão do descontentamento da sua filha, o Santo Padre decidiu dar a ela a escolha das duas testemunhas da consumação do casamento. Todavia, ele pede ao noivo que conceda a ela tal direito, a fim de que consigam estabelecer uma relação duradoura e amorosa previamente entre as partes.

- Eu já estou sendo forçado a me casar pela sua política, Ascanio. - Disse Giovanni. - Deixá-la escolher todas as testemunhas me põe em situação desfavorável. A qualquer momento o casamento pode ser anulado.

- A sua noiva é bonita e amável. O que lhe pedi não me parece um sacrifício.

- Por mais bela que seja, ainda é uma Borgia. Não vou me deitar com uma valenciana judia, uma marrana. Se esse maldito casamento der um fruto sequer, eu o mato ainda dentro dela e você será culpado disso!

- São apenas boatos. Uma judia não teria aquele tom de pele.

- Boatos ou não, eu tenho um nome a zelar. Apenas a alta nobreza é digna de um Sforza, não valencianos com ascendência judia, como tem os Borgias.

- Que nobreza é maior que a do próprio Vigário de Cristo, meu amado primo?

- Desde quando reconhecemos o Papa? O seu pai o colocou na Igreja apenas para evitar disputas com Ludovico Il Moro, ou para se livrar de você. Você é a ovelha negra da família. O único que se curva diante daqueles velhos que se dizem santos e representantes de Deus na terra apenas por serem eleitos por um bando de mulherzinhas vestidas de escarlate.

- A consumação dessa forma significa que o casamento pode ser anulado para arranjar outro mais favorável ao Papa. - Disse Caterina, pensativa. - Sabe a posição de Rodrigo Borgia sobre Nápoles?

- Ele casará seu filho com Nápoles e outro com uma aragonesa.

- Aquele cão sarnento vai nos trair se conseguir isso! O seu Papa é tão cobiçoso e desgraçado quanto foi Inocêncio VIII. Aquele velho e maldito Papa Cibo se mancumunou com os Medici e o cardeal Riario para me derrotar eusurpar o meu lugar como Senhor de Forlì e Ímola. Envenenaram o meu marido e sequestraram s meus filhos para tentar me enfraquecer e me fazer ceder a minha posição. Mas não contavam com os exércitos Sforza massacrando a sua inútil conspiração. Os Orsi foram achados junto com outros conspiradores e os enforquei junto com as suas famílias. Desde então, Lorenzo nem o seu filho, Piero de'Medici, nem o Papa ou o cardeal algum, tentaram tomar o que me pertence. Desde aquele dia, cardeal, cardeal, eu odeio os Papas. Nenhum devasso de Roma irá nos trair. Antes disso, ele será destruído.

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