XIII

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     Passando-se alguns dias, Cesare foi convocado pelo pai a ir diante dele. Perante o Santo Padre e de todo o consistório, o arcebispo se curvou. Com o cetro, o Papa permitiu que se aproximasse. Cesare caminhou pela passarela em frente dos cardeais. Ele subiu alguns degraus e neles se ajoelhou, beijando o anel de ouro da mão do Papa.

Nesse meio tempo, o cardeal Della Rovere cochichava com Ardicino della Porta.

— O que acha que o Papa quer com isso? — Indagou Della Porta em seu ouvido. Della Porta sentava-se ao seu lado, na primeira fileira.

— Vindo desse Papa, deve tê-lo convocado para substituir um de nós. Talvez, o falecido Gherardi.

— Já consigo ver esse maldito Borgia no nosso lado.

— A cadeira de Gherardi está na fileira de trás. Esse Borgia jamais se sentará ao nosso lado.

— Que Deus te ouça.

Cesare desceu dos degraus e aguardou o Santo Padre lhe dirigir a palavra. Após um momento de severo silêncio, Rodrigo Borgia começou a falar, assustando alguns cardeais distraídos.

— Há um blasfemador em Florença. Seu nome é Hieronymous Savonarola, um frei da Ordem Dominicana. Ele maldiz a respeito de nossa Santa Madre Igreja, diz receber visões da própria Virgem Maria e está causando desconforto na cidade de Florença. Vá para Firenze e anote tudo o que conseguir de seus discursos heréticos que aflige a Igreja Santa e Imaculada e os Medici e os traga para Roma, para a Città del Vaticano.

— Sim, Sua Santidade.

O Borgia se curvou novamente e partiu. A porta foi fechada e a guarda papal se retirou. O Papa levou a mão esquerda aos olhos e os fechou, pois ardiam muito. O consistório estava inquieto. Os cochichos o deixavam irado. Seu semblante, antes sereno, converteu-se em ira. Parecia que podia escutar o que diziam. Comentavam sobre o fato do Papa enviar o Arcebispo de Valência para resolver um problema referente ao Arcebispo de Florença, que era um Medici. Ascanio Sforza se levantou e ergueu a mão com o punho cerrado, apenas com o dedo indicador esticado para cima. Aquele gesto era utilizado pelos antigos oradores para chamar a atenção. Em vão foi o gesto.

— Cardeais. — Disse o Papa, vagamente. — Temos um assunto a tratar.

O consistório ficou quieto. Ascanio se sentou ao lado do Papa.

— Como bem sabem, a Santa Madre Igreja está com os cofres vazios e com algumas dívidas pendentes graças às guerras com Nápoles e outros Estados na Itália. Por isso,para enchermos os cofres novamente, faço um apelo à caridade de Suas Eminências através de generosas doações. Dessa forma, pagaremos as nossas dívidas com os governos seculares de nossa amada península.

— O nosso dinheiro vai pagar as dívidas ou vão custear o casamento de Lucrezia Borgia? — Indagou Della Rovere, levantando-se.

— Todo o dinheiro arrecadado pagará as dívidas criadas por Inocêncio e os Papas do passado. Apenas aquilo que nos restar será utilizado para o casamento.

— Se Sua Santidade me permite a ousadia, não sobrará muito para casar a jovem Borgia e o signore Sforza do jeito italiano.

— O casamento não será feito do jeito italiano, cardeal. Vamos fazer algo simples, como as roupas que vestiu Nosso Senhor, humilde, como foi São João Batista.

— Mas isso seria uma afronta à nobreza, Santidade.

— A menos que queira fazer uma generosa doação, cardeal, vocês, italianos, terão que se contentar com o pão e água servidos e rezar para que sejam transformados em carne e vinho.

Os BorgiasOnde histórias criam vida. Descubra agora