XXII

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Alguns dias depois, Cesare atravessou a Porta del Popolo, construída pelo Papa Sisto IV para o Jubileu de 1475 sobre um antigo portão romano parcialmente enterrado conhecido como Porta Flaminia, que dá nome a uma estrada de mesmo nome. À frente do grupo estava Cesare e Micheletto; logo atrás, vinha Francesco, Giulio e Vittorio; na retaguarda, vinha Lorenzo, Raffaele, Oliverotto e Zacaria. Atravessando a Piazza del Trullo (hoje, a Piazza del Popolo), o arcebispo foi bem recebido pelo povo, com saudações e reverências. O gesto do povo, de certa maneira, afagava o ego do jovem Borgia, que ambicionava o poder.

Continuaram o caminho pela Lungotevere in Augusta, às margens do Tibre. Passaram diante de um grande edifício circular, o qual era o Mausoléu de Augusto, um grande imperador romano. Aquele era o seu suntuoso túmulo, onde o seu corpo e espírito poderiam repousar em paz eterna. Continuaram seguindo o curso do rio até chegarem à Ponte di Sant'Angelo, em frente ao Castello di Sant'Angelo. Os condottieri estavam maravilhados perante as grandes muralhas e bastiões. À foz do rio, ao lado da ponte, estava sendo construída uma torre de vigia. Cesare havia decidido mostrar a eles o castelo.

Atravessaram os portões, que estavam sob a guarda papal. Depois que lhes foi permitida a passagem, deixaram os cavalos do lado de fora e adentraram a entrada ornamentada de figuras de santos misturada com a antiga arquitetura romana. Assim que adentraram o lugar, Cesare mostrou-lhes os túmulos de Adriano e seus filhos. Mostrou as suas tumbas e cinzas. Mostrou as cinzas dos imperadores de Roma.

- O que diabos significa isso? - Disse Lorenzo, receoso.

- Nos trouxe a um cemitério, Cesare Borgia? - Indagou Vittorio, confuso.

- A fortaleza é um mausoléu. O Mausoléu de Adriano. Os seus filhos e vários imperadores estão enterrados. Deveriam sentir-se honrados de estarem diante do falecido Adriano. - Respondeu-lhes.

Continuaram o caminho para uma passagem, a qual era um corredor não muito largo. Oliverotto percebeu que havia pequenos orifícios nas laterais da passagem.

- O que são esses buracos? - Indagou, curioso.

- Servem para iluminar o lugar e fazer com que o ar circule dentro do castelo. Caso contrário, morreríamos, uma vez que não há muitas janelas por aqui.

Ao chegarem no andar acima, Cesare os conduziu aos andares acima. Nele, havia prisioneiros encarcerados, podendo alguns serem vistos pelas celas à vista do pátio.

- Alguém, por favor! - Gritava um dos condenados. - Ajude-me! Eu não fiz nada! Eu não fiz nada. Eu não fiz nada...

Os homens o ignoraram e continuaram o seu caminho. Algumas reformas pareciam estar sendo feitas do outro lado do pátio, do outro lado das masmorras. Os infelizes, pelo caminho, clamavam por misericórdia, a qual todos ignoravam. Homens de todos os tipos estavam ali. Antes de continuarem o seu caminho para o andar seguinte, Cesare mostrou Il Palatoio, onde os prisioneiros eram interrogados e torturados.

No andar acima, o Pátio dos Anjos, Cesare os conduziu mais rapidamente. Não desejava lhes mostrar os suntuosos apartamentos papais nem absolutamente nada. O pátio era cercado pelas paredes do mausoléu e pelas acomodações dos guardas da parte superior do castelo. Havia um salão, chamado Salão de Apolo, o qual Cesare os levou a conhecer. Ao adentrarem o salão, não haviam nada de mais, exceto os afrescos pagãos, que contavam a vida do deus grego e lunetas nas paredes representando as artes liberais, além do maravilhoso teto abobadado. Após contemplarem o lugar, Cesare os levou ao pátio, os levando para um jardim acobertado semelhantemente ao mausoléu. Aquele espaço servia para apresentações teatrais. Os jardins não pareciam estar recebendo o devido cuidado há um ou dois anos. Talvez, Alexandre VI estivesse ocupado demais para visitar os seus jardins no Castello di Sant'Angelo. Tornaram a subir ao próximo andar pelas escadarias.

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