23 de fevereiro, Roma
O Sagrado Colégio de Cardeais ainda estava em luto pelo falecido cardeal Della Porta. Para o consolo de Della Rovere, o seu mercenário respondeu a carta. Ao menos, isso afagou o seu coração, que estava destruído pela morte do cardeal. Na madrugada desse dia, iria reunir-se com o seu mercenário principal, o mais habilidoso de Molinari, segundo ele.
Enquanto Della Rovere ansiava pela noite, Lucrezia estava novamente em seu palácio na companhia de Giulia Farnese e Adriana de'Mila, responsáveis pela sua criação. Estavam nos jardins, ouvindo o canto dos pássaros naquele dia nublado e tristonho.
— Desde que o cardeal morreu, o céu está fechado. — Disse Giulia.
— Sim. O céu está tão triste quanto a mamãe. — Disse Lucrezia, suspirando.
— Roma é um lugar muito perigoso. Ainda bem que partiremos daqui muito em breve. — Disse Adriana.
— Diz isso como se fosse algo bom.
— E é bom. Imagine o quão belo deve ser Pesaro, minha querida.
— Pesaro é muito distante da minha família. Além disso, serei forçada a me casar com alguém com o dobro da minha idade.
— Não pense assim, Lucrezia. — Disse Giulia, consolando-a. — Nem todo esposo é ruim.
— Ouvi dizer que os Sforza são ruins.
— Apenas porque alguém diz não significar ser verdade. Além do mais, o nome não define quem somos. Por acaso, Ascanio Sforza, o amigo de seu pai, é ruim?
— Eu... Eu acho que não.
— Vê? A sua família é difamada pelos Colonna e pelos Orsini. É uma pessoa ruim, Lucrezia?
— Não. Tem razão. Acho que estou sendo muito pessimista.
— Como consegue ter uma conversa normal com essa menina? — Indagou Adriana, rindo. — Essa menina sempre me afronta.
— Estabelecemos uma conexão, Adriana. Apenas isso. — Respondeu Giulia, sorrindo. — Onde está o seu irmão, minha querida?
— Numa viagem. Ele viaja muito.
— Onde está agora?
— Disse que estava em uma missão em Pisa. Mas, eu suspeito que essas "missões" sejam outras coisas.
— O que acha que são, minha querida? — Indagou Giulia; Adriana ficou atônita.
— Acho que ele deve estar se encontrando com alguma mulher em outra cidade.
— Por que acha isso?
— Ele parece muito mais feliz do que o habitual e tem deixado de me ver tanto quanto costumava. Além disso, eu já o vi com mulheres algumas vezes, embora nunca tenha visto nada de mais... mas aquele sorriso não me engana. Eu conheço o irmão que tenho.
— Acho que deve estar confundindo os seus irmãos. Cesare não tem essa conduta. Já Giovanni...
— Eu sei do que estou falando, prima Adriana. Cesare está se encontrando com alguém. Eu sei disso. E eu vou descobrir. Juro que vou descobrir.
— Tem ciúmes do próprio irmão? — Disse Giulia, rindo.
— Não são ciúmes. Eu só não quero deixar o meu irmão ficar com qualquer mulher que apareça. Muitas delas iriam querer aproveitar-se dele.

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Os Borgias
Ficção HistóricaEm 11 de agosto de 1492, subiu ao Trono de São Pedro Rodrigo Borgia, conhecido como "Il Valenciano", assumindo a alcunha de Sua Santidade o Papa Alexandre VI. Com o seu poder, fez da família Borgia uma das mais poderosas da Itália em muito pouco tem...