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A noite caiu. A chuva tornou-se tempestade. Relâmpagos cortavam os céus, iluminando as ruas e becos escuros do gueto de Trastevere e as ruínas do antigo Império. Vultos aproximavam-se ao Palazzo di Santa Maria in Portico, cruzando o Portico d'Ottavia, que servia como entrada para um templo romano. Caminhavam pela rua adjacente a Chiesa di Sant'Angelo in Pescheria. Os vultos marchavam em trinta e oito homens. Eram mercenários, armados com espadas embainhadas ao lado. À frente do grupo estava Piero, aquele a quem diziam ser responsável pela crise de banditismo na cidade.

Debaixo da entrada do palácio, havia um guarda, o qual tremia de frio.

- Maldito seja esse maldito tempo. Não posso entrar antes daquele bastardo do Papa voltar.

Diante dele, via um homem caminhar pela noite escura em sua direção. Apreensivo quanto às suas intenções, firmou as mãos na haste da lança para defender o palácio.

- Quem vem lá? - Indagou, não obtendo respostas.

O vulto parou, cerca de vinte passos de distância da entrada. Enquanto isso, dois homens subiram as casas ao redor com bestas.

- Lucrezia Borgia está? - Perguntou Piero, depois de um tempo.

- Quem quer saber?

- Ela está, soldado?

- Olha aqui, seu idiota, quer mesmo se meter com um guarda papal? - Disse o soldado, aproximando-se dele, irritado.

O homem sorriu, abrindo o peito, estendo os braços. Ele deu um passo para trás antes de unir os pés.

- Sim. E não apenas isso. Quero fazer muito mais que isso.

Confuso, o homem decidiu avançar contra ele. Todavia, antes que desse o primeiro passo, ambas as bestas foram disparadas: uma seta atingiu-o no peito e outra na cabeça, na cavidade dos olhos. A força do disparo o lançou para trás.

Piero se aproximou dele e ajoelhou-se ao seu lado.

- Não se acha tão forte agora, não é? - Disse, sorrindo.

Ao se colocar em pé, passou pela entrada, que estava entreaberta, junto com os seus homens. Os dois besteiros permaneceram em posição.

Uma vez nos jardins do palácio, outros guardas acabaram os percebendo e indo contra os mercenários. Rapidamente, mataram os jovens e inexperientes guardas sonolentos. Piero não teve baixas, exceto alguns homens feridos, que permaneceram nas loggias do jardim.

Os condottieri forçaram a entrada arrombando a porta. Os guardas da casa foram surpreendidos com mercenários invadindo o lugar.

- Estamos sendo atacados! - Disse um deles, que comandava a defesa. - Despertem Lucrezia Borgia e a tirem daqui!

Para o azar de Piero, os homens da casa eram mais treinados e a luta acabou durando um pouco mais do que estavam pensando.

Enquanto a batalha acontecia dentro do palácio, os homens de Della Rovere estavam agindo. Os besteiros foram neutralizados. Marcello Constantini, líder da busca por Piero, estava adentrando os jardins do palácio com oito mercenários. Ao pisarem os pés na propriedade, os homens de Piero, que estavam um pouco feridos, vieram contra eles. Constantini deixou que seis de seus homens cuidassem deles e seguiu para dentro. Ao chegar, viu os invasores dominarem a batalha. Não tendo escolha, teve que unir-se ao lado dos defensores para tentar cumprir com a sua missão.

Por sua vez, Piero estava no andar acima com dez espadachins. Em meio ao caos, Lucrezia saiu de seu quarto para ver o que estava acontecendo. Ao abrir a porta viu um vulto no corredor. Embasbacada, não conseguiu mover-se. O vulto se aproximava com velocidade. Quando tornou à razão, tentou fechar a porta, porém era tarde demais. O condottiere já havia enfiado a mão entre a porta e o batente. Lucrezia tentava empurrar a porta com o corpo, mas parecia ser inútil.

Os BorgiasOnde histórias criam vida. Descubra agora