Puros, brandos, etéreos, perpétuos, imutáveis. Assim são os filhos de Leam em sua essência, fadados à eternidade, soberanos sobre tudo
Ao passo em que se aproximavam da sombra da Meah'Gōe o clima se tornava estranhamente mais ameno, ainda que o frio ainda permeasse na região. Era quase como se uma energia calorosa viesse da capital, se espalhando pelos seus arredores, e tal calor aos poucos entrava em conflito com a brisa fria que se aproximava, quase como se a natureza estivesse em confusão. Stella sentia o clima um pouco mais úmido, mais ao seu agrado do que o frio, e Quípor podia finalmente guardar uma das mantas de volta na mochila.
— Eu realmente não entendo o clima daqui — Resmungou o rapaz, fichando cuidadosamente a mochila, antes de voltar a carregar. — Parece até uma disputa ente os soberanos.
Stella achava o questionamento de Quípor curioso, agora se perguntando como seriam as crenças em Treferih. Imagina que passariam por pequenos templos ou altares durante sua viagem, ou até mesmo algum tipo de sacerdote, quem sabe um dos famosos oradores, mas se deu conta de que não, nem mesmo e Meari ela viu algo assim.
— Que tipo de soberanos eles seguem? — O olhar da jovem seguiu diretamente para a grande montanha, como se alguma resposta fosse brotar dali. — Não são famosos por isso?
— Não exatamente, é complicado. — Quípor continuava andando guiando o caminho por um declive em meio às rochas, quase como uma grande rampa natural. — Soube que são bem letrados em alguma coisa chamada "centelha", mas não tenho ideia do que seja.
— Centelha? Então algo como o fogo? — Stella agora mirava suas próprias mãos, tentando discretamente algum sinal de suas chamas, a tentativa apenas serviu para trazer a tona os pensamentos sobre o sonho que teve. — Algo como siíl¹?
Quípor notava o tom mais deprimido na voz da amiga, mas já estava ciente de que não era o melhor momento para conselhos.
— É bem próximo, talvez até seja a mesma coisa.
Será que os rituais deles são como os nossos? , Stella pensou consigo, comparando em sua mente as diferenças gritantes entre as vestes e construções. "Naah" deve ser só uma coincidência.
Em meio às comparações da jovem um som familiar se fez presente, aos poucos mais alto e claro. O som da água correndo e se chocando nas pedras em direção ao longínquo oceano era claro para Stella.
— Um rio! — Por um instante Stella deixava de lado sua frustração e partia em direção ao som.
— O que? Espera aí! — Um pouco perdido com a repentina mudança de direção da amiga, Quípor acompanhou seus passos apressados, cuidando para não levar um tombo.
Levaram alguns minutos para chegar, mas descoberta era um alívio para Quípor, mesmo para o jovem sob o incômodo do frio. O rio era forte, serpenteava desde o alto de uma montanha distante, passando por uma pequena depressão no monte e seguindo floresta adentro, para fora de vista. Além disso, percebiam que o frio se dissipava sutilmente conforme se aproximavam, mas para o rapaz era apenas seu corpo se acostumando com o clima.
Quípor se apressou para encher os cantis, se surpreendendo ainda mais quando percebeu que a água do rio era mesmo morna, e não era apenas impressão de que o local era mais quente.
riliatosíili ², pensou o rapaz, mirando a trajetória do rio até sua provável nascente, fixando seu olhar na montanha ao longe e teorizando consigo o que poderia causar aquilo.
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Coroa Sangrenta - Aço e Fogo
FantasiaPara alguns, não há nada mais angustiante do que mergulhar em águas desconhecidas, ainda assim, existem aqueles que, talvez por ignorância, abraçam a maré sem hesitar. Stella, uma órfã teimosa e alheia aos problemas do mundo, embarca em uma jornada...