Doze

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O que seria um oráculo se não o representante em carne da vontade divina? Quem saberia decifrar todas as mensagens ocultas em suas frases? Poderia alguém imaginar como é espiar os desejos alheios, acima de quaisquer filtros? Seriam os oráculos meros mortais? 


Trazendo não mais do que um fino casaco de linho, a mulher caminhava pelos corredores do palácio, não carregava mais do que cinquenta aniversários, mas seus semblante estampava a sabedoria dos anciãos e os cabelos negros contrastavam alguns fios alvos. Sua passada era despreocupada, aérea ao que acontecia e ao mesmo tempo totalmente ciente de qual caminho seguir naquela espécie de labirinto. Seus olhos acinzentados vagavam de parede a parede, por cada quadro e decoração que deixava para trás, quase como se enxergasse mais do que realmente era. Não demorou para que o pequeno jardim estivesse sob seu olhar, assim como os jovens inquietos que cochichavam algo entre si, sem sequer a perceber. Atrás dela, lorde Rígoris carregava um sorriso leve, em silêncio, e assim permaneceu o lorde, esperando atentamente a uma distância razoável. As sentinelas abriram caminho, como se sequer estivessem estado ali. Stella logo se deu conta de que havia chegado alguém, e em seu âmago sabia não ser qualquer pessoa.

— Sem surpresas por agora, Stella. — A voz suave preenchia o local de imediato. — Talvez num futuro próximo.

Seu caminhar era estranho, e o corpo esguio contrastava o vestido pouco mais largo, atraía os olhares como uma espécie de encanto, e foi assim até que a mulher se sentou num banco próximo à jovem bastarda. Stella receou a aproximação, mas por algum motivo não recuou, deixou que a mulher lhe tocasse o rosto e analisasse seja lá o quê.

— Quem é você? — O olhar de Stella era de alguma forma atraído, e a garota se via forçada a esperar pacientemente por uma resposta.

— Você saberá no tempo certo. — Com um sorriso a mulher respondeu, e estendeu as mãos. — Estou aqui para algo esperado há muito.

Stella não soube muito bem como reagir, mas havia segurado as mãos finas da mulher misteriosa antes mesmo que se desse conta, e por um pequeno instante sentiu o peito arder.

— Katherine fez bem em me solicitar... — Não havia emoções naquela voz que pudessem ser entendidas, e seus olhos pareciam ir bem além da garota sentada a sua frente. — ... você...

Stella soltou as mãos do oráculo logo que um calafrio subiu pelas costas, esteva de pé logo em seguida, incapaz de compreender o que havia acontecido.

— Seu futuro é incerto, menina. — A mulher pontava para Stella, se mantendo sentada e calma. — Você é chama, e a chama consome vorazmente tudo que toca.

Katherine? Chama? O que diabos está acontecendo?! O semblante de Stella refletia bem as perguntas que se fazia, mas o que realmente valeria a pena perguntar, se é que obteria resposta melhor que "Você saberá".

— Quanto a você, rapaz... — Seu dedo agora mirava Quípor, surpreso por ter sido notado tão subitamente. — Seja firme, logo menos haverá um fardo pesado... talvez pesado demais.

Não houve resposta, Quipor não só não sabia o que responder, como estava cansado de estar ali. O ar era incômodo para ele e sentia estarem constantemente na mira de uma lâmina, totalmente indefesos.

— Bem, imagino que não tenha mais o que lhes dizer. — A mulher logo estava de pé, chamando Rígoris para mais perto com um acendo de mão.

— Podemos? — Respondendo ao chamado, o lorde fez um gesto breve, apontando o caminho de volta aos corredores, mas não sem antes uma piscadela rápida aos dois jovens. — Temo que minha irmã esteja ficando angustiada com o dia de hoje.

Coroa Sangrenta - Aço e FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora