Capítulo 1

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Anna Júlia

Imaginem as cores mais reluzentes, fortes e neon que já viram na vida, agora multipliquem. 

Meu Deus, as letras naquele cartaz são tão exageradas que eu sinto vontade de dar meia volta e entrar no avião novamente.

"ANNA JÚLIA" em letras de forma, eu com certeza estaria mentindo se esperasse menos, por que a última vez que desembarquei aqui, ela me esperava com uma cartolina enorme, na cor rosa e o meu nome havia sido escrito com cola glitter.

É uma coisa nossa, sempre quando vamos buscar uma a outra chegando de viagem, brincamos de quem faz o mais chamativo.

-Você ficou uma gata com esse cabelo preto -foi a primeira coisa que minha amiga falou quando me viu.

Eu havia acabado de desembarcar no aeroporto, baixei o óculos escuro quase até a ponta do nariz e sorri antes de abraça-la, começamos a dar pulinhos de alegria.

-Estamos a três meses sem nos ver e é isso que você me diz? -era bastante tempo pra gente. -que saudades, Dhiovana. -apertei ela com mais força. -e você, planet? -bati meu ombro no dele. -sentiu minha falta?

-Um pouquinho -juntou os dedos e se aproximou para me abraçar. -o que achou do nosso cartaz?

-Um tanto quanto peculiar, mas eu adorei.

-Não senti sinceridade -alfinetou e eu deu de ombros sorrindo.

Eu e Fábio sempre tivemos uma boa relação, desde quando eu era criança, ele sempre me tratou como uma irmã mais nova.

Guardamos as malas e seguimos a caminho da casa, Dhiovana comentou que Gabriel ainda estava no treino. Minha relação com ele já era um pouco diferente com relação a do Fabinho, na minha infância costumava implicar comigo e com a irmã dele.

Lembro quando eu e ela tínhamos uns oito anos, em um jantar Gabriel levou a primeira namorada para conhecer a família e é claro que eu estava lá também. A garota chegou toda feliz, eu e Dhiovana enchemos a comida dela de pimenta, ele quis morrer e matar a gente, depois superou, nem deram certo mesmo.

Hoje em dia, convivemos, nunca chegamos a ser melhores amigos, mas a gente se entende.

Entretanto, mesmo com tudo, sem desentendimentos ou discussões sem pontos finais, a perspectiva de passar tantos dias na casa dele, me causa algo, é indefinido, mas sinto.

Ser praticamente da família dele, não nos torna melhores amigos, nossos diálogos são curtos e, frequentemente, nossa interação não é a mais comum, nos encaramos em silêncio por um longo tempo, é singular.

Há quase um ano não o vejo, a última vez foi no aniversário da minha melhor amiga. Quando venho ao rio, sempre fico em hotéis com o Lucas, meu namorado, que por algum motivo desconhecido, o odeia.

Inclusive, tivemos mais discussão feia quando eu decidi vir, ele pode viajar com os amigos mas eu não? E outra, ele age como se eu estivesse fazendo essa viagem para provocá-lo, simplesmente não entendo.

Me assustei quando passamos por uma curva fechada e todo mundo foi para um lado, andar de carro com o Fábio é loucura, por que ele simplesmente não está nem aí pra nada.

-E você com o digníssimo? já terminaram? -planet perguntou quando entramos na casa, toda vez que nos encontrávamos era o mesmo questionamento, chegava a ser engraçado.

-O quanto você ama meu namorado? -sorri da cara feia que ele fez.

-minha linda -Rose chegou na sala. -quanto tempo -beijou o topo da minha cabeça.

-Rose -ela tinha um cheirinho de senhora que era tão gostoso, adoro seus abraços.

-Fiz o bolo que você gosta -era o melhor de todos, cenoura com chocolate. Agradeci.

Eu e Dhiovana subimos com as malas, para colocar no quarto que seria meu temporariamente.

A casa era impecável, cada detalhe cuidadosamente planejado. O andar de cima era cercado por janelas enormes, rodeado com quadros incríveis e quartos aconchegantes. O meu ficava no final do corredor, em frente ao do camisa dez, que era o último. O quarto dele sempre foi um mistério pra mim, sabe o lugar proibido da casa? pois é, desde Santos e nós sempre mantínhamos distância.

Talvez isso tenha sido criado para assustar crianças danadas do cômodo, essa de "se você entrar lá, vai acontecer tal coisa"

Tirei a jaqueta de couro que usei durante o voo, só pra compor look, o que seria de uma calça jeans e blusinhas curtas sem uma jaqueta por cima, terminei de arrumar tudo no guarda-roupa.

Peguei o celular no bolso e avisei a minha mãe que estava bem e já havia chegado, muitas mensagens do Lucas.

Passei a mão no rosto, espero que nossa conversa não seja tão desastrosa quanto a última.

Lucas: cadê você?
Anna Júlia, tende o celular
Eu volto amanhã, tem certeza
que vai ficar por aí?
você que sabe então
Lucas: saudades, amor

Anna Júlia:eu tava no voo, Lucas. você tá bem?
saudades

Lucas:como acha que eu to?
minha namorada na casa do
cara que mais pega mulher em
todo RJ
Anna Júlia:me poupe, Lucas
se quiser conversar normalmente ótimo, se não, é melhor nos falarmos depois

Lucas:foge mesmo

Anna Júlia :estranho ouvir você
falando isso, vive fugindo de tudo

Lucas:você é louca

Anna Júlia :é o seu único argumento? tem que melhorar

Lucas:depois a gente se fala

A última mensagem foi dele, e eu nem fiz esforço para responder, sempre era isso, ele tentava reverter todas as situações, se colocando como vítima e eu sempre caía, todas as vezes.

Nem sempre foi assim, no começo era tudo mágico, o namorado dos sonhos, depois foi por água a baixo, ele podia fazer o que quisesse, mas se eu ao menos falasse em sair com amigos, era sempre o mesmo discurso "nem parece que você namora".


Primeiro capítulo pequeno, só pra
verem a chegada dela e
como é o relacionamento.

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