Capítulo 11

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Anna Júlia

A entrada do condomínio estava abarrotada, com a mesma fumaça do estádio invadindo o espaço. Não se enxergava outra coisa além do vermelho e preto das camisas, uma onda de energia que tomava conta do ar.

Gritos, flashes e batidas nos vidros dos carros; "O Gabigol voltou, O Gabigol voltou!" era só o que se escutava. A euforia era palpável, uma explosão de felicidade que parecia não ter fim.

O porteiro acionou a segurança do condomínio para controlar a multidão, impedindo que qualquer um passasse, exceto os convidados. A agitação estava fora de controle.

Gabriel desceu do carro, causando alvoroço antes mesmo de entrar em casa. Foi recebido por uma verdadeira multidão. Como cabia tanta gente aqui dentro? Era impossível não sentir que aquilo era mais do que uma simples chegada, era o retorno do príncipe da nação.

Ao pé da escada, três seguranças impediam a passagem para o andar de cima, deixando claro que só os moradores e seus acompanhantes – como eu, no caso – poderiam subir.

Chegamos em carros separados. Dhiovana e eu voltamos no do Fábio, enquanto o camisa dez, que havia ido com o dele, retornou da mesma forma. Mas agora, ele estava acompanhado. Bella Campos estava ao seu lado, Gabriel segurando sua mão. Ela sorria, como se estivesse carregando um troféu, e na outra mão, segurava uma garrafa de whiskey, no qual ele já tinha virado várias vezes.

Pedi um pouco de espaço para subir. O som da festa diminuía à medida que eu me aproximava do quarto. Meu corpo pedia um banho. Com um sol de quarenta graus e uma tarde inteira no Maracanã, não era para esperar menos.

Sentei na cama, ainda em estado de êxtase. Lembrei dos gritos do primeiro gol, a explosão dos últimos dois, Gabriel Barbosa incendiando o estádio, como sempre fez. Tudo aquilo ainda parecia vibrar dentro de mim.

De roupão, de frente para a penteadeira, aproveitei meu momento pós-banho. MPB suave tocava no celular, enquanto o funk lá embaixo quase fazia a casa tremer.

Terminei de secar o cabelo e encarei o guarda-roupa à minha frente. Short jeans curto e uma blusinha tomara que caia branca, nada muito elaborado, mas quem se importa? Não importa se tem muita gente e todos estão "bem" vestidos. Estou em casa.

Coloquei minhas Havaianas e passei perfume antes de sair do quarto e descer. Fui direto para a cozinha, onde Rose sempre deixava nossa jantinha pronta.

O cômodo estava vazio. Não se permitia transitar por ali durante as festas, até porque, nessas ocasiões, nem todo mundo era conhecido.

Peguei um prato do porta-louças e comecei a montar: arroz, purê e franguinho assado, a comida favorita do Gabriel. Ela sempre fazia tudo com tanto carinho.

Me encostei no balcão de mármore e empurrei meu corpo para o banquinho giratório. O cheiro de bebida e cigarro estava tão forte que se espalhava por toda a casa, invadindo outros cômodos. Terrível.

Tirei o celular do bolso e o coloquei sobre minha coxa, me arrependendo no instante seguinte. Coloquei-o em cima do balcão, já que o corte pequeno e feio que eu tinha na coxa, causado por uma cadeira no estádio, ainda estava dolorido. Eu o havia coberto com um band-aid, mas ainda sim, existia uma sensação de incômodo toda vez que tocava.

Assisti os dois lados da porta da cozinha serem abertos, Gabriel entrou, abanando o próprio corpo com o boné que estava na mão, a camisa já havia sido tirada. Seu olhar encontrou o meu, e por um segundo, tudo ao redor pareceu se silenciar. Ele vinha em minha direção, e eu... bem, eu já sabia que o que aconteceria aqui não seria tão tranquilo.

-Oi, olhos lindos -as portas fecharam atrás dele. -tá muito antissocial. -se aproximou de mim.

-Eu fui tomar banho -justifiquei.

-Ta cheirosa mesmo -não deixou que eu concluísse minha fala e enrolou uma mecha do meu cabelo com o dedo. -sempre está cheirosa.

-Depois desci e vim jantar -continuei. -na intenção de ir pra lá quando terminasse.

-Eu to morrendo de fome -pegou um prato e começou a se servir. -isso é a convivência com você, sua fome veio pra mim. -sentou no outro banquinho que tinha ao meu lado.

-Você deveria estar lá, não é bem a melhor recepção do mundo o dono da casa abandonar a festa.

-Já distribui muita simpatia -fitou do meu rosto até as minhas pernas. -você tá linda. -saiu naturalmente, passou o polegar na manchinha da minha barriga, ele parecia adorar, meu corpo todo ficou em alerta. -blusa legal -o cantinho do lábio dele curvou em um meio sorriso.

Olhei para baixo, blusa branca, corpo em alerta, sem sutiã, vou me jogar desse banco.

-Tá com vergonha? que bonitinha -apertou minha bochecha.

-Para com isso -continuei comendo.

-Fiquei chateado contigo -franzi o cenho. -nem me deu parabéns pelo jogo.

-você é tão sensível -coloquei o cabelo para trás que até então estavam caídos sobre os meus ombros. -todo mundo te deu parabéns.

-Menos você -tocou o band-aid na minha perna, passando levemente o polegar por cima.

Terminei de comer e afastei o prato, colocando o braço no balcão e apoiando a cabeça, fitando a parede branca a nossa frente.

Meu perfil queimava e eu tinha receio de virar, por que sabia que ele estaria me observando e isso me deixava tão vulneral, mesmo que não sendo de uma forma ruim. Notei o toque dele no meu queixo, virando meu rosto meu rosto calmamente. -me olha nos olhos, Anna Júlia, para de ficar procurando outro ponto pra focar.

-Vem cá -encarei ele. -o que você quer de mim, em?

-Achei que tinha sido claro, mas pelo visto não -espalmou as mãos uma em cada perna minha, o rosto ficou muito próximo. -To dando em cima de ti, só quero que me fale se tem alguma chance de rolar, se não, parou por aqui.

-você veio com uma garota pra cá -constatei. -certo que você não é bem o tipo de homem que gosta de criar vínculos e mantê-los, mas deixar ela lá não é legal.

-Isso foi insensível -fingiu estar afetado. -a gente ficou, ela veio com papo de dormir aqui, nem rola -fez careta. -isso de dividir minha cama é demais pra quem não tem nada. -ao menos ele foi sincero.

-Ai ela foi embora e você veio falar comigo?

-Para de ser complicada, eu ein -segurou a minha mão, estremeci quando ele beijou o dorso. -antes eu achei que fosse pelo namoro, mas mesmo solteira você continua querendo destruir corações -a voz um pouco mais baixa agora, como se a situação tivesse se tornado mais séria, o encarei, em momento algum tentei me desvencilhar da mão dele.

-Como você sabe?

-Me humilhei pra Dhiovana e nada saiu, nem o fofoqueiro do Fábio descobria -achei graça. -você não me contou, tive que me virar.

-Então aquilo de perguntas ontem era só pra me ouvir dizer o que você já sabia? -negou. -quando descobriu?

-Hoje de manhã, percebi sua mão sem aliança, juntei tudo, não foi tão difícil, eu que fui lerdo demais.

-Você foi o primeiro que notou algo errado, por que?

-Não me entenda mal, olhos lindos. Mas o cara te namora, vocês saem e ele pensa em outra coisa a não ser chegar em casa e fazer amor a noite inteira contigo, é maluco.

Forcei um sorriso nervoso, a pressão nas palavras, a provocação no olhar, definitivamente não sei como reagir diante dele.



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