𝙄𝙍𝙍𝙀𝙎𝙄𝙎𝙏Í𝙑𝙀𝙇, 𝘼𝙉𝙉𝘼 𝙅Ú𝙇𝙄𝘼 | 𝙂𝘼𝘽𝙄𝙂𝙊𝙇

Capítulo 12

Gabriel Barbosa

Três e meia da manhã quando fechei a porta para o último convidado, Fabinho dormia sentado no sofá da sala e Dhiovana estava jogada no tapete fofinho, voltaremos a infância, eu tendo que pegá-la no colo assim como fazia todas as vezes que marcávamos de assistir um filme e ela dormia assim que a pipoca acabava, mas dessa vez era diferente, ela dormiu por causa do álcool e não conseguiu dar conta de acabar com tudo.

Que péssimo irmão, meus pais me matariam de soubessem disso, sei ser o irmão chato, mas hoje eu quis ser o maneiro, estávamos em casa.

Voltei a sala de jogos, copos espalhados pelo chão, garrafas de bebidas vazias e uma Anna Júlia quase cochilando em cima da mesa de sinuca.

-Finalmente voltou -desceu e caminhou na minha direção. -precisamos recolher essas coisas.

-Não precisa, amanhã vão limpar tudo.

-E vai te doer juntar ao menos os descartáveis? -eu até tentaria fazer ela esquecer isso, mas era a Anna Júlia, cara birrenta e sempre ganhava uma discussão.

Bati o pé antes de pegar uma sacola e começar a catar todas as coisas que estavam no chão, não demorou tanto.

Peguei minha irmã no colo enquanto Anna cutucava o Fábio e tentava acordar ele com toda delicadeza do mundo.

-Dar um grito no ouvido dele logo -sugeri impaciente.

Ela passou a mão no cabelo dele e chamou baixo novamente, quase agradeci por ter dado certo, Fabinho levantou desnorteado, subimos as escadas juntos, ele seguiu para o quarto e Anna Júlia me acompanhou até o quarto da minha irmã, entrei colocando-a na cama e fechando a porta devagar.

O silêncio da casa parecia mais pesado, Anna Júlia estava encostada na parede me esperando no corredor, e mais uma vez naquela noite foi inevitável não reparar tudo que tinha a minha frente, todas as coisas nela pareciam ter sido pensadas milimetricamente, passei tempo demais olhando, percebi ela me observar com aqueles olhos enormes, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. E o pior: ela sabia. sabia de tudo.

Ela estava tão... ela, as roupas, o jeito despreocupado, como se cada movimento fosse calculado, perfeito, e eu
queria aprender como lidar com tudo isso, com ela.

Não era só o que vestia ou a maneira como se postava. Era o conjunto todo, a aura que tinha. Como se tudo em volta dela tivesse sido esculpido para provocar, para te prender de alguma forma. E, por mais que tentasse me controlar, me vi observando cada detalhe com mais intensidade do que eu deveria.

Tenho certeza que ela podia notar a confusão, o desejo, a tentação que eu não estava fazendo nenhuma questão de esconder. Como se tivesse uma visão clara do que eu queria, de tantas coisas a mais que nunca ousei admitir.

-Pensei que já tivesse ido dormir -a voz saiu mais baixa do que o esperado.

-To te esperando, já que nós somos vizinhos de quarto. -bateu o ombro no meu.

As palavras "nós" e "quarto" na mesma frase, algumas doses de álcool no sistema, não o suficiente para estar bebado, mas tudo se tornava mais tentador, o ar mais escasso. Estou me desafiando a resistir e não avançar, mas o cheiro dela me prende tanto, que eu só quero estar mais próximo e sentir melhor.

Respirei fundo, tentando afastar o calor crescente no meu corpo. Ela estava tão perto, tão linda, tão terrivelmente gostosa.

-mas iai, qual o motivo do seu término? -também encostei na parede, ao seu lado.

Queria entender, saber o que havia mudado, o que aconteceu entre ela e engomadinho que não soube ver o que estava bem na frente dele.

Anna Júlia encostou a unha no cantinho da boca suspirando e sorriu sem graça.

mas que caralho.

-você -respondeu soltando o ar pelo nariz.

Eu não sabia o que fazer com isso. Não sabia se deveria sorrir, se deveria recuar, ou se, finalmente, devia dar o passo que vinha adiando há tanto tempo.

-Terminaram por minha causa? -perguntei.

Anna Júlia ficou quieta por um momento, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse decidindo se devia continuar a conversa ou se simplesmente deveria ir embora. Mas ela não foi. Ela ficou.

-Lucas afirmou que estávamos tendo um caso -riu pelo nariz. Inacreditável. -por que nenhum amigo olhava para o outro do jeito que você me olhava. -eu nunca falei que queria ser amigo dela, tinha um instinto protetor por todo o contexto, ela cresceu junto a minha irmã, seria estranho se fosse diferente.

Mas era em vão falar que não sentia toda essa tensão que pairava entre nós, ela também sentia isso, sabia que não era de agora.

Entretanto, nada do que ele disse fazia sentido. Anna Júlia sempre foi fiel a ele, sem hesitação. Ela podia sentir o que fosse com relação a mim, podia nutrir essa confusão interna, mas nunca, nunca insinuou qualquer coisa que fosse. Nunca deu um passo em falso.

Vou quebrar a cara desse engomadinho.

-Seu ex é um moleque -não era segredo pra ninguém o que eu achava. -e você passou tempo demais com ele.

-Tem noção que ele duvidou de mim? Nem mentir eu sei -o tom era leve e descontraído, mas eu sabia que ela estava magoada.

A minha mão foi até o braço dela, os dedos tocando suavemente a pele quente.

passei o polegar em círculos em sua bochecha, a cabeça inclinou um pouco com o gesto.

-Você é doce demais pra ele -Anna Júlia não era só exageradamente linda, tinha também o fato de ser a personificação de tudo o que alguém deseja.

os olhos transmitiam inocência, ao mesmo tempo que uma malícia pesada pairava, quando ela suspirava, mordia o lábio ou até mesmo jogava o cabelo para o lado.

Quase gemi de satisfação só por tê-la na minha frente, tão próxima a mim.

-E pra você não? -se remexeu em cima do banquinho giratório.

-Talvez... mas não deveria me comparar a ele, por que eu nunca terminaria com nenhuma namorada por suposições que eu mesmo criei, e outra -aproximei a boca do ouvido dela. -eu nunca deixaria você ir sem antes te foder a noite inteira do jeitinho que você merece, seria nossa despedida. -reparei o movimento que a garganta dela fez, estávamos tão juntos agora que eu podia sentir a respiração dela, quente e irregular, tocando a minha pele.

Naquele momento eu entendi que era o começo de algo que ambos sabíamos que seria complicado, mas inevitável.

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