Voltar ao Brasil foi uma das decisões mais difíceis que tomei nos últimos três anos. Quando papai e mamãe me enviaram ao intercâmbio, eu tinha certeza de que jamais voltaria, que ficaria na Austrália de vez. No entanto, a notícia do falecimento de meu pai fez com que tudo parasse no tempo. Minha mãe implorou que eu retornasse. Não tive muita escolha. Ela precisava de mim. O problema é que ainda falta um ano para que eu me forme, então, eu sou obrigada a pedir transferência de volta à faculdade que havia feito vestibular. Pensei em trocar de universidade, mas acabei optando por regressar aonde tudo havia começado. Talvez, numa esperança boba de reencontrar amigos que, com certeza, já haviam se formado. Se foi uma boa escolha regressar, eu só saberei nos próximos meses.
O apartamento de meus pais fica no bairro da Tijuca, bem próximo à praça Saens Peña. Confesso que sair de Camberra, capital da Austrália, para o Rio de Janeiro, Brasil, foi estranho. Sou brasileira e vivi a maior parte de minha vida nesta cidade, mas os três anos que passei em Camberra foram os melhores de minha vida até o momento. Senão fosse a situação de meu pai, eu jamais teria voltado.
Enfim, vida que segue. Estou em terras brasileiras saindo do Galeão, Aeroporto Internacional do Rio, com meu vestidinho cinza, meu blazer preto e meus saltos altos. Amo blazer... Uso até no verão mais quente. Quem sobrevive ao calor australiano sobrevive em quaisquer lugares com a temperatura acima da média. Só que o Rio de Janeiro, é o Rio de Janeiro.
Ao sair do saguão, o ar abafado da cidade me incomodou. A barulheira de carros parando no desembarque e a falação do povo (sempre alta) incomodaram também. Coitado de meus ouvidos. O sol estava a pino. Era quase meio dia. O voo atrasou! Era para eu ter desembarcado às 11 da manhã, mas cá estou eu... Morta de fome. Peguei um táxi e segui para Tijuca. É domingo, minhas aulas começarão amanhã e eu preciso descansar.
Ao abrir a porta do apartamento, minha mãe levantou do sofá em lágrimas e veio me abraçar. Aquela mulher linda que deixei no Brasil há três anos parece ter envelhecido uns 10. Estava abatida, sem maquiagem, magra demais e chorava copiosamente. Nosso abraço me emocionou muito. Minha mãe sempre foi muito áspera comigo. Papai era quem me acalentava e me fortalecia, mas vê-la daquele jeito me deu vontade de pegá-la no colo. Confesso que estranhei o carinho dela. Parecia outra pessoa. Abraçava forte, acariciava meus cabelos longos e beijava meu rosto em lágrimas. Eu a abracei!
....
Após um banho demorado, desci para nível inferior. Morávamos numa cobertura duplex na Rua General Roca. Meu pai era aposentado, ex-piloto da Força Aérea Brasileira e nos deixou bem de vida. Minha mãe estava aposentada também. Não tinha com que se preocupar financeiramente. Tinha sido comissária de bordo por longos anos e a pensão de papai a deixara confortável.
A mesa estava posta e tinha tudo que eu mais amava. Dos brigadeiros ao macarrão com salsicha. Isso mesmo! Macarrão com salsicha. Amava comida chiques, mas nada como meu alimento preferido da escola primária. Mamãe se lembrou e foi outra coisa que estranhei nela.
Um barulho na porta de entrada me assustou um pouco. Uma moça muito jovem, parecia ser da minha idade adentrou em casa dando boa tarde. Isso me assustou ainda mais. Olhei para mamãe que tratou de nos apresentar.
- Marissa! Venha! Venha conhecer minha filha. Esta é Yoko, minha filha que estudava na Austrália. Chegou hoje. Vocês se verão bastante. - disse entusiasmada.
- Yoko! Marissa é minha faz tudo. É estudante de Fisioterapia, mas mora e trabalha aqui em casa para poder pagar a Faculdade. Ela é do Piauí, mas já está no Rio há bastante tempo. Tudo que precisar, pode contar com ela. Marissa é um amor de pessoa. Vocês se darão bem!
Nós nos entreolhamos. Confesso que não consegui manter o olhar por muito tempo e a cumprimentei balançando a cabeça, já que estava com a boca cheia. Marissa ficou sem graça, pude perceber. Perguntou se precisávamos de mais alguma coisa. Minha mãe perguntou se ela já havia almoçado. Ela disse que sim. Saiu da sala e subiu as escadas. Pelo jeito estava em um de nossos quartos de hóspedes.
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Como amar uma Garota? - FayeYoko
FanfictionYoko retornou ao Brasil após três anos de intercâmbio. A readaptação ao país, o convívio com a mãe, a presença de uma funcionária inesperada e a descoberta de um amor 'impróprio' por sua nova professora. Muitas emoções aguardam essas personagens.