Capítulo 42

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Janja acordou com uma pontada na lombar. A dor estava começando a ser uma companheira constante à medida que a gravidez avançava, e naquela manhã, parecia particularmente incômoda. Ela olhou para Luiz, ainda dormindo ao seu lado, o rosto relaxado e tranquilo. Sentiu uma mistura de carinho e leve irritação — ele dormia tão profundamente enquanto ela mal conseguia encontrar uma posição confortável na cama. Tentando não incomodá-lo, Janja se levantou devagar, esfregando as costas e caminhando lentamente até a sala.

Assim que se acomodou no sofá, suspirou de alívio. Seus pés estavam inchados, e a barriga, agora bem grande para o sexto mês de gestação, a deixava ainda mais cansada. Ela ligou a TV, mas mal prestava atenção ao programa que passava. Paris logo percebeu que a dona estava acordada e pulou no sofá, deitando-se com a cabeça no colo de Janja, pedindo carinho. Janja sorriu, distraída, e começou a acariciar o pelo da cachorra.

"Você tem que deitar na sua caminha", murmurou, os olhos voltados para a tela, mas sem realmente ver.

Pouco tempo depois, Janja ouviu passos vindos do quarto. Paris, sempre atenta, saiu do colo dela e correu até Luiz, que vinha na direção da sala. A cachorra pulava animada ao redor dele, exigindo atenção. Ele sorriu e fez um carinho na cabeça de Paris antes de seguir até Janja.

"Bom dia, linda," disse Luiz, a voz rouca de sono, ao se aproximar do sofá.

Janja sorriu de volta, mas seu corpo pesado a mantinha presa àquela posição confortável. "Bom dia, amor."

"Por que você acordou tão cedo?" Luiz perguntou, sentando-se ao lado dela.

Ela suspirou e passou a mão pela barriga, sentindo os pequenos movimentos da filha. "Sua filha não quer me deixar dormir. Ela está bem ativa hoje."

Luiz sorriu com carinho e imediatamente colocou a mão na barriga dela. "Deixa eu ver se eu consigo sentir também." Ele ficou quieto por um momento, concentrado, até que os pequenos chutes foram sentidos contra sua palma. "Ela está mesmo agitada, hein? Já tem a energia do pai," ele brincou, piscando para Janja.

"É... ou a teimosia da mãe," Janja retrucou, com um sorriso cansado.

Luiz se inclinou e beijou suavemente a testa dela antes de se levantar. "Quer alguma coisa? Um café, um suco?"

"Não, tô bem. Mas a Anielle vem aqui à tarde pra gente acertar os detalhes do chá de bebê de domingo. E meus pais chegam no sábado, você consegue ir buscá-los?"

Luiz coçou a cabeça, um olhar ligeiramente preocupado no rosto. "Vou tentar. A empresa está uma loucura agora, mas vou fazer o possível."

Janja assentiu, mas o desânimo era visível em seus olhos.

"Simone também ligou ontem. Ela marcou o ensaio fotográfico. Vai ser na sexta," diz Luiz, não muito animado, já que odiaria ver sua namorada de Bikini na frente de outras pessoas, e janja também não parecia animado, o brilho nos olhos de Janja estava um pouco apagado. "Você não parece muito empolgada."

Janja deu de ombros, desviando o olhar. "Estou... só cansada, acho. Além disso, você anda tão ocupado com o trabalho que... sei lá, me sinto meio deixada de lado."

O silêncio pairou por um momento. Luiz suspirou profundamente e se sentou ao lado dela de novo. "A gente já falou sobre isso, Janja. Agora que a empresa é minha, tem sido difícil. Tem muita coisa pra resolver, muita pressão."

"Eu sei," ela disse, apertando os lábios. "Mas isso não muda como eu me sinto. Só queria mais tempo com você, sabe? Parece que você está sempre correndo de um lado pro outro e... eu fico aqui, sozinha."

Luiz passou a mão pelo cabelo, claramente frustrado, mas não queria discutir de novo. Na semana passada, já tinham brigado sobre isso. Ele segurou a mão dela, suavizando o tom. "Escuta, depois do ensaio com a Simone, que tal a gente tirar uns dias pra nós dois? Fazer uma viagem curta, só pra descansar."

Os olhos de Janja se iluminaram com a ideia, e ela sorriu pela primeira vez desde que ele acordou. "Sério? Eu adoraria."

"Claro. Vai ser bom pra gente. Desligar de tudo por um tempo e focar só em nós dois... e na nossa filha." Luiz se inclinou para beijar a testa dela novamente, com carinho. "Prometo que vou compensar esse tempo todo."

Janja assentiu, sentindo-se mais leve. "Eu vou cobrar essa promessa," disse, meio brincando, meio séria.

Luiz riu, beijando-a suavemente nos lábios. "Eu não duvido disso."

Janja suspirou e passou a mão pela barriga, observando Luiz com um olhar mais suave agora. "A gente também precisa decidir o nome da bebê até amanhã."

Luiz arqueou uma sobrancelha e sorriu, inclinando-se um pouco para frente. "É mesmo? Tá achando que eu sou rápido com essas coisas? Tenho que pensar com calma" Ele riu, mas logo parou ao ver que ela estava falando sério.

Luiz se recostou no sofá, esfregando o queixo enquanto pensava. "Eu gosto do nome Elis, era o nome da minha avó."

Janja franziu a testa, meio surpresa. "Elis?"

"É," Luiz respondeu, animado. "Minha avó era uma mulher guerreira, de luta. Gostaria que nossa filha tenha o nome dela."

Janja sorriu com carinho. "É bonito, eu gosto também de Maria."

"Maria?" Luiz olhou para ela com uma mistura de curiosidade e dúvida. "Por que Maria? É um nome tão comum."

"Porque me lembra da música do Milton Nascimento," Janja respondeu, um brilho nostálgico nos olhos. "Ele é o meu cantor favorito, e essa música... é tão forte, tão cheia de significado."

Luiz inclinou a cabeça, tentando lembrar da música. "Qual música?"

Janja sorriu e começou a cantar suavemente:

"Maria, Maria é um som, 
Uma certa magia, 
Uma força que nos alerta. 
Uma mulher que merece viver e amar 
Como outra qualquer do planeta."

Luiz a observava com um sorriso nos lábios, o carinho transparecendo em seus olhos.

"É linda mesmo," ele admitiu. "E você canta muito bem, sabia?"

Janja riu, desviando o olhar com um toque de timidez. "Eu sempre amei essa música. Maria é um nome que carrega tanta força, sabe? Ela é mais do que um nome simples. É uma mulher que resiste, que ama, que vive intensamente... E acho que nossa filha também merece isso."

Luiz passou a mão pelo cabelo, pensativo. "Elis é forte. Maria também. Difícil escolher." Ele olhou para ela, ainda com aquele sorriso travesso no rosto. "Que tal a gente pensar nisso com calma à noite? A gente pode fazer isso juntos... talvez com um vinho, ou, no seu caso, um suco." Ele piscou para ela.

Janja riu baixinho e balançou a cabeça. "Vai tentar me enrolar até o último segundo, né?"

"Não, não! Eu prometo que vamos decidir." Luiz levantou as mãos em rendição, mas seu sorriso continuava ali, brincalhão. "Eu só acho que a gente devia curtir o processo. É o nome da nossa filha, afinal."

Ela suspirou, mas seu coração já estava mais leve. "Tá bom. Mas a gente tem que decidir mesmo, viu? O baby chá é domingo."

"Fechado," ele concordou, levantando-se do sofá. "Agora, que tal você descansar um pouco enquanto eu preparo algo pra gente comer?"

"Descansar? Se eu deitar agora, sua filha vai começar a fazer festa de novo." Janja sorriu, passando a mão pela barriga, onde sentia leves chutes.

Luiz se inclinou e beijou a barriga dela com carinho. "Tá vendo, filhota? Dá um tempinho pra sua mãe, tá bom?" Ele se levantou e piscou para Janja. "Vou na cozinha. Fica aí relaxada, que eu cuido de tudo."

Janja sorriu, observando-o sair da sala com Paris logo atrás. Ela suspirou, passando as mãos pela barriga e se recostando no sofá.

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