Capitulo 30

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Pov Maraisa.

- Carla Maraisa Pereira, por favor - o juíz diz.

Marília se levanta e empurra minha cadeira até o balcão que as testemunhas dão depoimento.

- Carla Maraisa, qual a sua versão dos fatos? - o juíz pergunta me olhando.

Olho ao meu redor e vejo Murilo rindo e olhando pra minhas pernas, sinto uma angústia muito grande por estar passando por aquilo, ele usa minha dor como chacota tornando tudo mais difícil naquele momento.

- Carla Maraisa? - Juíz diz novamente.

- Perdão excelentíssimo - respiro fundo e prossigo - aquele dia minha irmã iria pra nossa casa pra morar com a gente, ele seguiu ela, ela me ligou e disse pra eu não levar a Marília comigo por que tinha um carro seguindo ela que até então a gente não sabia que se tratava do Murilo, eu pedi para ela ir até um supermercado me encontrar e depois iríamos para outro lugar longe da minha casa, entramos no mercado pra eu ligar pra minha mulher.

- Ela é minha mulher filha da puta - Murilo se levanta e grita.

- Silêncio - juíz diz - prossiga.

- Quando saímos do mercado eu senti um objeto nas minhas costas e ouvi as seguintes palavras "mais um paço e eu atiro", ele mandou a Maiara ir embora e me colocou no carro indo pra longe no mercado, ele me bateu na barriga me fazendo perder o ar e eu não lembro do que aconteceu depois, só me lembro de acordar amarrada em um galpão, ele me espancou pra saber a senha do meu celular, disse que queria a Marília ali e enquanto eu não dizia a senha ele me batia - meu coração acelera e meus olhos enchem de lágrimas - ele empurrou a cadeira e eu bati a cabeça, não me lembro de muita coisa depois disso, só me lembro da Marília amarrada e ele estuprando ela na minha frente pra provar que ela era a "mulher dele", ele apontou a arma pra mim e disse que precisava me tirar do caminho e eu não me lembro de mais nada.

- Ele estuprou ela na sua frente?

- Ela ficou grávida depois daquele episódio, mas perdemos nossa filha por causa de uma pedra jogada no nosso quarto fazendo ela cair e bater a barriga.

Murilo olhou pra mim e olhou para o lugar onde ficava as cadeiras, provavelmente ele estava olhando pra Marília, ele abaixou a cabeça e ficou pensativo.

- Defesa, por favor - Juíz diz.

- Carla Maraisa, de quem foi a iniciativa de fugir?

- Da Marília.

- Por que tu aceitou mesmo sabendo que ela era casada?

- Ela estava sendo espancada por el-

- Senhores jurados, a vítima sabia do risco que estava correndo ao fugir com uma mulher casada e mesmo assim insistiu no perig-

- Protesto - acusação diz alto - a defesa está contradizendo a fala da testemunha sobre uma coisa que não tem nada a ver com o caso.

- Protesto aceito - Juíz diz - prossiga.

- Carla Maraisa estava ciente do risco, ela foi até o mercado sabendo do que poderia acontecer e mesmo assim não evitou - a defesa diz aos jurados - sem mais perguntas.

- Acusação, por favor.

- Carla Maraisa, ao dizer que sua mulher foi estuprada na sua frente pelo réu, ele cometeu mais algo além disso?

- Ele batia nela, de uma forma que eu não gosto nem de lembrar.

- Batia? Batia como?

- Ele dizia que ela era a mulher dele enquanto estuprava ela e dava tapas em seu rosto, além dos chutes que ele me deu quando ela se recusou a cometer aquele ato.

- Quando tu presenciou aquela situação, tu sentiu algo além de medo?

- Nojo, esse cara é nojento, ele acha que transar com alguém está deixando claro que é uma propriedade dele.

- Senhores jurados, estamos vendo que o réu não tem condição nenhuma em sair da prisão, ele está completamente fora de sanidade mental, irei entrar com um pedido de exames psiquiátricos pra ver se a sanidade mental dele está de acordo com a sociedade ou não - acusação diz - sem mais perguntas.

- Pode se retirar Carla - o juíz diz.

- Eu tenho uma coisa a declarar - Murilo se levanta.

- Por favor - o juíz diz.

- Eu sequestrei a Maraisa sim, mas foi a mando da minha sogra, Ruth Mendonça que está presente aqui - ele aponta pra ela - ela que me ligou e colocou coisa na minha cabeça pra eu matar a Maraisa e trazer a filha dela novamente pra casa, mas eu me recusei de primeira, disse que isso era um absurdo, então ela fez ameaças sobre meu filho, dizendo que eu nunca mais ia ver o rosto dele enquanto a Maraisa vivesse, então ela fez eu escolher entre meu filho ou a Maraisa vivos por que de acordo com ela, ela tiraria a vida do meu filho pra eu virar "homem".

Começa um murmurinho sobre as cadeiras e eu olho pra Marília que está olhando pra sua mãe com os olhos cheios de lágrimas.

- A pedra lançada no quarto fazendo a Marília perder o neném foi ninguém menos que um capanga que Ruth Mendonça mandou dar um suposto susto em sua filha, mas ela foi longe de mais causando o acidente da Maraisa e a deixando aleijada.

Ele segura o riso mas percebo, aquela situação dói muito e eu queria sumir dali o quanto antes.

- João Gustavo é o nome do capanga, o mesmo que foi até a prisão me obrigar a escrever um bilhete dizendo que os dias de pesadelo dela estavam apenas começando, o tempo inteiro foi a mãe dela que não aceitou ver a filha dela com uma mulher e me fez não aceitar também.

- Tu está acusando pessoas com esse depoimento - Juíz diz - guardas, levem a senhora Ruth Mendonça pra prestar depoimento na delegacia.

A mãe de Marília se levanta rápido e tenta correr mas é impedida por dois seguranças que ficavam na porta, Marília estava segurando minha mão e olhando fixamente pro chão, sinto sua mão começar a tremer e fico preocupada por que não sei se ela está com raiva ou apenas com algum tipo de ansiedade mas sei que bem ela não está.

- Amor - chamo sua atenção tirando-a daquele transe e fazendo ela me olhar - calma, eu tô aqui.

- Era ela o tempo todo - seus olhos enchem de lágrimas - ela tirou nossa filha de nós, ela te machucou dessa forma, era ela.

- Amor, calma.

- Era ela Maraisa, minha própria mãe.

- Eu sei que é difícil de acreditar, mas fica calma por favor, eu não consigo sair daqui pra pegar um copo de água pra ti então por favor, fica calma - digo segurando o choro.

Esse julgamento está ficando mais complicado do que eu pensava, aquelas revelações começaram a fazer sentido em muita coisa, mas nada tirava da minha cabeça que o Murilo estava por trás de tudo, mesmo que ele tenha confessado que foi a mãe da Marília.

- O júri vai dar uma pausa de 30 minutos pra decidir a sentença do réu, daremos essa pausa pra que possamos decidir com cautela a sentença.

O júri sai e o juíz também, Marília se levanta e empurra minha cadeira pra fora do tribunal, ela estava tremendo muito, seus olhos cheios de lágrimas, eu queria muito abraçar ela mas eu não conseguia sair daquela cadeira.

- Amor, calma por favor.

Ela não diz nada, apenas chora, chora muito, sinto sua dor pelo som do seu choro me deixando completamente sem chão pois não podia fazer nada além de olhar pra ela daquela forma.

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Amor em segredo (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora