Bodies

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— Nathan, qual foi a última vez que você passou no psiquiátrico? — A doutora na frente de McCarthy e Nathan ajeitou os óculos enquanto digitava rápido no computador. 

Nathan bocejou olhando para um dos objetos em cima da mesa da mulher com curiosidade. McCarthy logo atrás percebeu como Nathan estava disperso e mostrando-se desinteressado naquela avaliação rápida psicológica. 

Só o que faltava! – McCarthy pensou encarando Nathan. 

— Nathan! — McCarthy chamou a sua atenção. 

O detento soltou um suspiro pesado e se ajeitou na cadeira de rodas e olhou para a doutora. 

— Eu sei lá, alguns dias antes do meu julgamento provisório. — Ele bocejou novamente fazendo seus olhos lacrimejar. 

— E o que deu nessa análise? — Ela sorriu tentando ser simpática. 

— Transtorno bipolar, despersonalização, quadro sério de depressão, estresse pós-traumático e transtorno de personalidade antissocial. — A voz de Nathan saiu com um misto de desinteresse e tediosa. 

Mas na ficha criminal dele apenas alega o transtorno bipolar, despersonalização e sociopatia. Ele está aumentando ou não colocaram o restante dos dados na hora da digitação? Vou mandar a vagabunda da Felicity investigar isso também. — McCarthy franziu o cenho, pensando nas possibilidades. 

A doutora, sem alterar sua expressão amigável, continuou digitando rapidamente enquanto Nathan falava. Ela fazia anotações meticulosas, ajustando ocasionalmente os óculos que pareciam escorregar um pouco. 

— Entendo — respondeu ela, mantendo o tom suave. — Você poderia descrever como esses diagnósticos afetam seu dia a dia, Nathan?

Nathan revirou os olhos, demonstrando uma mistura de cansaço e desdém. Ele olhou para o teto, como se as palavras estivessem penduradas lá.

— Ah, eu sei lá. É complicado. Tem dia que é um inferno. Tem hora que nem sei quem eu sou ou o que estou fazendo. Às vezes, só quero ver o mundo queimar, sabe? — Ele riu, um som seco e amargo, enquanto seus olhos se estreitaram. — Mas isso aqui... — Ele fez um gesto vago com a mão para o ambiente ao seu redor. — Isso não ajuda em nada. Só piora. Vocês profissionais da saúde se acham os bonzão mas no final vocês não ajudam ninguém. 

McCarthy observava a interação com uma expressão dura e séria. Seu olhar afiado nunca deixava Nathan, atento a qualquer mudança em seu comportamento. Era como se estivesse tentando decifrar um enigma complexo. A doutora ajeitou a postura pelo comentário, e olhou nos olhos de Nathan e disse: 

— Nathan, — a doutora continuou, mantendo a paciência na voz. — Você mencionou vários transtornos. Algum deles tem se manifestado mais fortemente ultimamente?

Nathan deu de ombros, visivelmente entediado com a linha de questionamento.

— Depende do dia. Tem dia que acordo me sentindo o próprio diabo. Outros, sou só um fantasma, vagando por aí sem rumo. E a depressão? Essa é a única constante. É como um manto pesado que eu nunca consigo tirar. — Ele fez uma pausa, parecendo refletir sobre as próprias palavras, antes de lançar um olhar desafiador para a doutora. — Por que quer saber? Você vai fazer alguma coisa? Vai apagar todas as minhas doenças mentais? Já sei que vai ser a fada madrinha terapêutica e fazer alakazam e sumir com todos os meus traumas e problemas. Me poupe doutora… — Se inclinou para ler o crachá dela. — Isabel.

A doutora manteve o sorriso tranquilo, mas uma linha de tensão passou por seus lábios por um breve momento. McCarthy sentiu uma pequena vontade de rir pelas comparações de Nathan, aquilo soou mais engraçado do que desrespeitoso. 

Sombras da PrisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora