Flashback - 9 anos atrás...
O relógio marcava por volta das 2 horas da madrugada. Os passos curtos do sargento ecoaram na sala enquanto ele se aproximava da pequena mesinha de centro no canto do cômodo. McCarthy parou diante de cada quadro fotográfico, removendo as luvas de couro das mãos, e deixou seus olhos percorrerem cada imagem. Sua atenção se fixou na foto no canto direito. Com um gesto cuidadoso, ele tocou a camada fina de poeira sobre a moldura e a pegou em suas mãos.
A foto mostrava um casal sorridente em frente a uma casa grande com um design um pouco antiquado. A placa de "à venda" ao fundo indicava que haviam acabado de adquirir o imóvel. O sorriso amplo em seus rostos capturava a alegria do momento, mas algo estava errado naquela fotografia. Entre as pernas do casal, uma pequena criança estava presente, segurando um ursinho de pelúcia marrom, sujo e parcialmente desfeito. O garoto olhava fixamente para a câmera, com uma expressão de tristeza evidente, seus lábios curvados para baixo e os olhos marejados, quase chorando.
Os dedos de McCarthy deslizaram sobre o pequeno urso de pelúcia, acariciando-o com um toque sutil. Um sorriso nostálgico e melancólico surgiu em seus lábios rachados, machucados pelo frio. Ele sabia exatamente quem era aquele garoto choroso na foto: ele mesmo.
— Fluffy... — sussurrou, fixando os olhos no ursinho que havia sido seu melhor amigo até o dia em que se alistou nas forças armadas. Fluffy era perfeito aos olhos de McCarthy, mesmo deformado por tantas brincadeiras e anos de uso. O dia em que teve que se livrar dele foi um misto de prazer e dor. Ver seu amigo derretendo no fogo, deformado e consumido, foi o momento em que McCarthy se despediu de uma parte crucial do seu passado.
As lembranças daquela época voltaram como uma assombração, trazendo uma avalanche de emoções que ele sempre tentou evitar. Usava qualquer tipo de droga que tivesse ao alcance para esquecer, mas a cocaína naquela noite tinha um efeito diferente. Em vez de apagá-las, fez com que revivesse cada momento com intensidade aterrorizante. Sentia tudo o que a criança na foto sentia.
Cada sensação do quarto sujo e frio, as surras sem motivo, as noites abraçado a Fluffy em sua cama dura e desconfortável, e a última noite, quando um policial o resgatou dos pais que haviam falecido, tudo voltou em um desfile de imagens.
O olhar para o casal da foto provocou uma onda de adrenalina e raiva em McCarthy. Suas bochechas tremiam, um sinal claro de que ele estava fora de si. Virou o quadro e o apoiou sobre a mesa empoeirada, retirando a foto e segurando o pequeno papel. Com o isqueiro em mãos, acendeu o papel, que imediatamente se incendiou.
A chama amarelada brilhava diante de seus olhos, como se pudesse consumir também suas memórias. McCarthy sorriu com uma crosta de espuma se formando no canto da boca e sussurrou:
— Shii, não chore. A nossa ajuda chegou... eu cheguei...
Os murmúrios abafados do casal, com mordaças na boca, ecoavam atrás dele. Ele olhou para seus tios envelhecidos, com cabelos brancos e fracos, e seu sorriso se tornou sádico e cruel, a boca espumando pelos efeitos da cocaína. Cada lembrança daquela maldita casa estava mais viva do que os próprios demônios que habitavam seus cantos escuros.
Puxando a pistola do coldre e colocando o abafador, McCarthy apontou para a cabeça de sua tia. As lágrimas de arrependimento escorriam, e o marido tentava gritar, sem sucesso. Colocando o dedo no gatilho, McCarthy respirou fundo e disse:
— Primeiro as damas...
McCarthy olhou fixamente para sua tia, sua expressão cruel e deturpada pela cocaína. O sorriso sádico nos lábios parecia estar congelado em seu rosto, refletindo a frieza de suas intenções. Seus tios, amarrados e amordaçados, estavam paralisados de terror. Cada pequeno tremor nos corpos deles apenas alimentava a satisfação do sargento.

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Sombras da Prisão
HorrorGiovanni McCarthy Sargento das forças tática sombrio e perigoso. Foi designado para ser agente penitenciário, para lidar com um detento ardiloso. A história segue sua jornada por uma prisão de segurança máxima enquanto ele luta contra seus próprios...