Capítulo 4

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O caminho da minha casa até a cena do crime não era tão longo, mas com Diego completamente inquieto ao meu lado, pareceu eterno. Ele não parava de mexer a perna e fazer um barulho contínuo da sola do sapato batendo repetidamente contra o chão do carro e ele não percebia, mas estalava os dedos com frequência quando estava nervoso. Quando chegamos ao local, ele quase pulou do carro. Conseguia sentir toda a sua agitação, quando ele tocou brevemente meu braço para me guiar no espaço pouco iluminado, eu senti sua mão gelada.

Já haviam algumas viaturas no local e policiais andavam por todo canto, procurando o assassino. O local do corpo já estava isolado, ultrapassamos com cuidado as fitas, olhando o chão para não pisar em nada que pudesse ser minimamente uma prova, as duas lanternas iluminando tudo. Diego apontou sua lanterna diretamente como o rosto da vítima. Ele era negro. Todos os anteriores eram homens brancos.

– Ele...

– É preto – eu completei a frase

– O maluco da lavanda tem vários modus operandis, mas ele não tem nenhum critério em relação à aparência, né? Basta ser homem

– E LGBT – eu falei cobrindo o nariz e não suportando mais aquele cheiro

A lanterna de Diego passou por todos os detalhes que a gente já sabia que estaria ali. O corte na garganta, as roupas arrumadas e limpas, as mãos grudadas...

– A calça é preta – Diego falou quase para si mesmo

– Quê?

– A calça desse é preta. Todos os outros a calça era cinza

Busquei na memória e ele tinha razão. Porra, como ele pode lembrar das coisas assim tão rápido?

– Precisamos analisar depois se é igual às outras, sem etiqueta de loja e precisamos pedir uma busca da imagem da calça na internet. Seria muita sorte se encontrássemos algo em alguma loja...

– Seria mais uma pista – agora ele estava mais afastado do corpo e mais próximo de mim, que me mantive longe para dar espaço para ele olhar – O cheiro não é tão incômodo.

– Eu achava isso no primeiro corpo também

Fomos interrompidos e expulsos do local pela equipe de legistas e saímos novamente do espaço isolado pela fita.

– Já passou da meia-noite, minha adrenalina tá lá em cima. Acho que não consigo dormir essa noite mais

– Nem eu. Muita coisa junto, né? A questão da pista, um novo corpo... Não vou conseguir parar de pensar – eu me encostei no meu carro e puxei o maço de cigarro do bolso, oferecendo para ele em seguida

– A gente podia ir pra DP, né? – Diego me olhava enquanto eu acendia o cigarro e estendia o isqueiro para ele logo depois

Ri um pouco abafado.

– Você é viciado em trabalho

– A gente pode analisar as imagens da câmera na frente da boate, vai que o assassino tava lá, olhando o Alexandre. E pode ter seguido ele, deixando pra abordar no metrô...

– Pode ser, mas agora...? Vai pra casa, Diego. Amanhã a gente vê isso. Amanhã de manhã deve sair um primeiro relatório do IML e a gente pode ir pra DP.

– Vai pra casa você. Eu vou pra DP

Diego se afastou como se não estivesse ido até lá comigo e houvesse outra forma de ir embora rapidamente sem depender de mim. Eu chamei sua atenção com um "psiu" e apontei pro carro.

– Eu te levo


***

Lavanda - dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora