⚠️ gatilho: menção de abuso sexual ⚠️
Os dois próximos dias foram um grande borrão na minha cabeça. Eu fiz tudo no piloto automático. A morte do Samuel me abalou de um jeito irreparável e sentir culpa por tudo aquilo estava me consumindo por dentro.
No dia em que o corpo foi encontrado, quinta, eu não voltei para trabalhar, Diego ficou comigo, me fez um chá de camomila, deitou comigo, me ouvir falar, me abraçou para que eu chorasse.
Na sexta, antes de começar a trabalhar, fui encaminhado para a psicóloga. Não consegui falar muito, desabafei sobre minha culpa, mas sem contextualizar de forma correta. Chorei. Me senti patético chorando na frente de uma senhora desconhecida.
Eu não participei da coletiva de imprensa, Helô nem cogitou me chamar. Não consegui fazer nada que precisava referente ao meu trabalho sobre esse caso, Diego acabou fazendo tudo sozinho. No final do dia, fui ao velório e até agora não consigo me recuperar da imagem da mãe do meu melhor amigo chorando a sua morte.
Nesse momento, acabei de chegar em casa do enterro. Uma parte de mim foi junto e ficou apenas culpa. Eu preciso encontrar quem fez isso, esse vai ser o único jeito de me sentir minimamente melhor.
Peguei meu notebook e procurei os relatórios do caso, mas eles não estavam na pasta de sempre. Liguei para o Diego imediatamente.
– Oi
– Onde estão os relatórios do Samuel?
– Oi pra você também, Amaury
– Os relatórios, Diego
– Não estão na nuvem? Na pasta de sempre
– Não
– Então não sei
Ele estava mentindo. Eu conseguia sentir.
– Diego...
– Por que você quer ver isso agora? É sábado
– Eu preciso me distrair
– Vamos sair, tá um dia lindo hoje...
– Diego, eu acabei de enterrar meu melhor amigo. Eu não quero sair
– Eu tô indo pra aí
– Não precisa. Eu só quero os relatórios
– Eu tô indo pra aí com os relatórios
E desligou.
Menos de uma hora depois eu estava abrindo a porta para ele entrar. Seu semblante não era bom, ele não parecia ter dormido muito bem, seus olhos estavam fundos e sua olheira estava bastante evidente.
– Por que os relatórios não estão na nuvem? – perguntei enquanto ele tirava algumas pastas da mochila
– Eu queria te mostrar pessoalmente
– Por que isso, Diego?
Ele ficou em silêncio e começou a espalhar alguns papeis pela mesa de centro. Eu cheguei mais perto e comecei a tentar pegar os papeis, mas ele me impediu.
– Primeiro, eu não queria que você tivesse fácil acesso assim as fotos do seu melhor amigo morto logo depois de enterrar ele – Diego fez uma pausa e se sentou, com um papel na mão, eu sentei ao seu lado – Segundo... No relatório da perícia, há indícios de abuso de sexual
– O que? Nenhum corpo antes tinha. Deve ter sido algum erro.
– Eu sei, eu também achei que fosse um erro e pedi pra repetir, mas o resultado foi igual. Ainda tô tentando entender. Maury, eu pensei em mil teorias, mas... Acho que ele arrumou só mais uma forma de te desestabilizar
Meu coração estava tão acelerado que eu tive a sensação de que ele pararia a qualquer momento. Senti meu corpo esquentar e uma raiva descontrolada me invadir. Por que aquilo estava acontecendo comigo? O que eu fiz pra esse psicopata?
– Eu vou matar esse filho da puta, Diego. Quando a gente encontrar ele, não vai ter prisão, eu vou matar ele
– Você não vai matar ninguém. A gente vai encontrar esse desgraçado, mas você não precisa de um processo administrativo e uma acusação de homicídio nas costas
Larguei o papel que estava nas mãos e me afundei no sofá, fechando os olhos e tentando controlar a raiva que sentia dentro de mim. Minha vontade era sair agora e ir atrás desse filho da puta, mesmo sem pistas. Queria ir atrás de alguma coisa. Queria sentir que estava fazendo algo útil.
– Diego você tem noção de que ele fez isso... Isso. Justo com o Samuel
Ainda de olhos fechados, senti sua mão na minha barba e logo depois um beijinho breve na minha bochecha.
– Nada disso é culpa sua, meu bem. Nada
Abri os olhos e senti algumas lágrimas surgirem.
– Como não? Absolutamente tudo que aconteceu com o Samuel é culpa minha
Eu fitava o teto e não tinha coragem de olhar para Diego, pois sabia que estava prestes a chorar mais. Senti ele se aproximando mais, seu corpo colou na lateral do meu, seu queixo foi apoiado no meu ombro e sua mão procurou a minha, que tremia levemente.
– Obrigado por tudo isso – eu disse ainda sem olhá-lo
– Pelo quê?
– Por não me deixar sozinho nessa situação. Por se arriscar omitindo coisas por mim. Por querer arriscar a sua vida. Sem você, tudo estaria muito pior
Ele deixou um beijinho no meu ombro e voltou à posição anterior em seguida.
– Não precisa agradecer. Já disse que fico o tempo que você quiser
– Eu quero que você fique muito tempo
Senti seu corpo vibrar contra o meu quando ele riu.
– E se eu me acostumar a ficar? Quando você quiser que eu for, vai precisar me expulsar
Passei um braço pelo seu ombro e nos encaixamos de forma meio desajeitada, mas confortável.
– É mais fácil você querer ir enquanto eu ainda quero que você fique
– Por que eu tenho a sensação de que estamos falando de coisas diferentes?
– No final – segurei seu rosto e depositei um beijo rápido em seus lábios – É sobre você sendo incrível comigo na pior situação da minha vida
Ele sorriu em minha direção e voltou a me beijar.
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Lavanda - dimaury
FanfictionAmaury Lorenzo é um investigador da Policia Civil com 15 anos de experiência. Sua vida pessoal estava um caos após a separação de um casamento de 7 anos. Sua vida profissional não ficava atrás no quesito caos, uma vez que o investigador se via em um...