Duas semanas se passaram e eu estava me sentindo melhor, de forma geral. Intensifiquei a terapia, tendo duas consultas por semana agora. Consegui fazer com que Diego parasse de falar sobre o seu plano de ser isca. E falando em Diego... Eu não sabia mais o que era estar sozinho e eu gostava disso. Ele estava comigo o tempo todo. Não me deixava afundar em culpa, em tristeza, em raiva. Me incentivava a compartilhar o que estava sentindo sempre, me ouvia. Ele realmente deixava tudo mais fácil.
Patrícia ressurgiu semana passada com a desculpa de ver como eu estava com a morte do Samuel. Dessa vez, sua chegada foi anunciada pela portaria e eu a deixei subir. Era de manhã e Diego estava dormindo no quarto quando ela entrou pela porta e se sentou no sofá. Eu agradeci a preocupação, mas deixei claro que ela não precisava ter vindo pessoalmente. Quando um celular despertou no quarto e logo depois o barulho cessou, eu sabia que Diego apareceria em breve. Tentei fazer com que ela fosse embora e evitar toda aquela situação meio constrangedora, mas ela insistia em falar sobre algum assunto que eu não conseguia me concentrar ou interromper. Só parou de falar quando Diego entrou na sala, vestindo apenas um shorts, e me chamando de "meu bem".
Algumas horas após isso, ela me mandou mensagem dizendo não entender o que eu estava fazendo com "aquele lá". Bloqueie seu número sem falar nada e deixei avisado na portaria que, caso ela aparecesse, não precisava me interfonar, poderia dizer que ela não estava autorizada direto.
E agora é terça-feira à noite e eu estou no meio de um supermercado empurrando um carrinho com algumas compras. Diego me obrigou a fazer compras para a minha casa, disse que eu precisava me alimentar como uma pessoa normal. Combinamos de nos encontrar aqui e ele já estava atrasado. Andei por alguns corredores por mais um tempo, escolhendo alguns produtos, esperando que ele ligasse ou mandasse mensagem.
Por um segundo, pensei ter ouvido a voz dele e confirmei que era logo depois, quando entrei no corredor de congelados. Lá estava ele, de costas para mim, no fim do corredor, conversando com um homem de cabelos castanhos e lisos, mais ou menos da minha altura. Eu reconheci sua mochila de longe. Diego parecia inquieto, seu pé direito batia freneticamente no chão e, mesmo de costas pra mim, eu conseguia ver como ele mexia no seu boné sem parar, como se não soubesse o que fazer com as mãos.
Me aproximei devagar e o homem que estava com ele falava baixo, consegui ouvir poucas coisas, mas uma delas com certeza foi "você sabe que nunca vai conseguir...", quando meu carrinho praticamente encostou ao lado deles, eu tenho certeza que ouvi "você é patético" vindo do homem desconhecido.
Diego, sentindo a minha presença, desviou seu olhar para mim e pude ver seu rosto pálido, sua boca sem a cor de sempre e lágrimas acumuladas em seus olhos, quase caindo.
– Pensei ter ouvido a sua voz e vim conferir se era – falei segurando sua mão, que tremia, e o puxei para o meu lado
O medo vindo dele era quase palpável.
– E-eu... E-e-eu
Sua voz tremia tanto quanto a sua mão.
– Diego, o que aconteceu? – eu segurei seu rosto e limpei a única lágrima que caiu de seus olhos – Meu bem, fala comigo
Olhei para o lugar que o homem desconhecido por mim deveria estar e ele não estava mais lá.
– Quem era esse homem, Diego?
Eu o puxei para um abraço e seu corpo tremia contra o meu.
– Eu preciso que você fale. Ou eu vou atrás dele agora
Ele apertou o abraço, talvez querendo me impedir de sair dali.
– É meu... Meu ex namorado. Não vale a pena ir atrás
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Lavanda - dimaury
FanfictionAmaury Lorenzo é um investigador da Policia Civil com 15 anos de experiência. Sua vida pessoal estava um caos após a separação de um casamento de 7 anos. Sua vida profissional não ficava atrás no quesito caos, uma vez que o investigador se via em um...