Capítulo 1

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P.O.V MIRANDA

Era fascinante como a luz do sol incidia em seu rosto, deixando-a ainda mais linda, se é que isso fosse possível. Cada traço era suavizado pela claridade, como se a própria luz quisesse destacá-la em meio ao caos de Paris. E quando ela sorria... Ah, quando Andy sorria, havia uma competição silenciosa entre a radiação solar e aquela expressão. A luminosidade se espalhava ao redor dela, mas eu sabia que nada brilhava mais do que o sorriso daquela jovem aspirante a escritora.

Lembro-me perfeitamente do dia em que a conheci, ali mesmo, em Paris. Uma garota desajeitada, mas com uma paixão ardente nos olhos, uma chama que não se via todos os dias. Ela era diferente. Algo nela me chamou a atenção desde o início. Era algo no jeito que me olhava, sem medo, mas com respeito; sem idolatria, mas com admiração. Ela era uma tempestade que chegava de mansinho, mas que logo tomava conta de tudo.

E eu, que sempre fui implacável em minhas decisões, encontrei-me hesitando por um breve momento. Havia algo naquela garota que me fez parar e considerar. Talvez fosse a promessa do que ela poderia se tornar, ou talvez, fosse apenas o brilho do seu sorriso, competindo com o sol e vencendo.

O brilho e o glamour da Paris Fashion Week de 2015 não poderiam ter sido mais esplêndidos. A minha participação, como sempre, foi majestosa, inegável. Os olhares, os elogios, o reconhecimento... tudo isso parecia confirmar que eu estava no auge da minha carreira, que eu dominava aquele universo com maestria. Mas, ao voltar para minha suíte, o peso esmagador da solidão me atingiu com uma força que nem mesmo a melhor maquiagem poderia ocultar.

Eu acabara de encerrar meu terceiro casamento, desta vez com Stephen Tollinson, um homem que, por um breve momento, pensei que pudesse ser diferente. Mas ele não foi. Ele terminou comigo de forma cruel e covarde, com uma ligação telefônica enquanto eu estava a caminho de Paris, ainda dentro do avião. A frieza da sua voz ecoava na minha mente como uma sentença final, decretando o fim de mais uma tentativa fracassada de encontrar algo que se assemelhasse ao amor.

Dói saber que, em todas as minhas relações, o amor nunca foi o pilar. As parcerias eram feitas com base em interesses, em alianças comerciais, em conveniências que beneficiavam ambos os lados. Nem mesmo o pai das minhas filhas, Cassidy e Caroline, foi uma exceção. Eu, que sempre me vi como uma fortaleza inabalável, comecei a sentir as fissuras na minha armadura, a perceber que havia um vazio dentro de mim que sucesso nenhum poderia preencher.

Foi num momento de fúria e desespero que troquei os belos Louboutins por um par de tênis. O vestido drapeado da Versace que vestia, símbolo de poder e elegância, foi abandonado por um conjunto de calça e camisa jeans. E meus cabelos, tão icônicos, penteados para trás como uma coroa, perderam seu rigor naquele instante. Eu precisava me afastar da figura imponente de La Priestly, precisava me reconectar com Miranda, a mulher que eu era por trás da persona.

Sem rumo certo, saí para as ruas de Paris, buscando um refúgio longe dos holofotes. Encontrei-me num pub pequeno, escondido num bairro tranquilo, onde ninguém jamais reconheceria minha figura. Era um local simples, quase banal, mas era exatamente o que eu precisava. E foi lá, sentada no balcão, que vi uma jovem, de semblante sereno, degustando um suco de frutas.

Havia algo nela que me chamou a atenção. Talvez fosse a simplicidade, a pureza daquele momento, ou talvez fosse apenas a minha necessidade desesperada de me conectar com alguém que não soubesse quem eu era, que não tivesse expectativas ou interesses. Aproximar-me dela foi uma decisão impulsiva, mas que, por algum motivo, pareceu ser a coisa certa a fazer. Mal sabia eu que aquela jovem, estava prestes a se tornar uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Demorei para criar coragem de me aproximar de Andy. Algo em mim hesitava, uma mistura de fascínio e medo. Em vez de ir até ela, sentei-me numa mesa estrategicamente posicionada, de onde podia observá-la sem ser notada. O pub era um lugar acolhedor, mas era ela quem realmente trazia a luz ao ambiente. Seu sorriso farto iluminava cada canto daquele local, e era evidente que era querida por todos ali. Várias pessoas fizeram questão de cumprimentá-la com afetuosidade, como se ela fosse parte da família, ou talvez algo mais.

A Cinderela do All Star AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora