Miranda desembarcou em Hartford com uma expressão estoica, mas internamente sentia o coração apertado. A despedida no aeroporto, com Andrea, Caroline e Cassidy, ainda estava fresca em sua mente. O breve beijo que dera em Andrea e os abraços apertados de suas filhas haviam sido suficientes para marcar sua partida de Nova York com uma saudade que não esperava sentir tão cedo. Mesmo sabendo que seriam apenas alguns dias, a ausência de sua família e de Andrea começava a pesar.
Assim que chegou ao local do evento, uma conferência de moda de alto perfil, foi recebida com a habitual reverência por todos. O burburinho de vozes ansiosas e olhares atentos aguardavam sua presença para dar início às reuniões e discussões importantes. Ela cumprimentou os anfitriões de forma profissional, com sorrisos controlados e gestos calculados, mas logo algo fora do planejado a atingiu em cheio: a notícia de que não voltaria no dia seguinte, como havia previsto. Uma alteração na agenda faria com que sua permanência em Hartford fosse estendida por mais dois dias.
O sangue de Miranda ferveu de imediato. Não era o tipo de mulher que aceitava mudanças de última hora, especialmente quando tais mudanças interferiam em sua vida pessoal. Tentou manter a compostura, mas Nigel, que a acompanhava, percebeu o aperto na mandíbula de Miranda e o olhar predatório que agora varria o ambiente. Ele sabia o que viria a seguir — a tempestade silenciosa de Miranda Priestly.
— Está tudo bem, Miranda? — perguntou Nigel com seu tom sarcástico, tentando descontrair o momento, mas claramente preocupado.
Miranda o olhou de relance, os olhos brilhando com irritação.
— Claro que não está, Nigel — respondeu, com a voz baixa e controlada, mas cada palavra era como uma navalha afiada. — Eles alteraram minha agenda sem sequer me consultar. Dois dias a mais aqui, quando eu deveria estar de volta amanhã. Não preciso dizer o quão incompetente isso é.
Nigel sabia que não era apenas sobre o evento ou a mudança na agenda. Ele já havia notado como Miranda estava mais inquieta desde que Andrea voltara para sua vida. A presença de Andrea e das meninas parecia ter reconfigurado algumas das prioridades de Miranda. E Nigel, com sua astúcia, sabia que o verdadeiro motivo da frustração de Miranda era a saudade das filhas e, claro, de Andrea.
— Talvez seja um bom momento para respirar, relaxar um pouco. — Nigel sugeriu, tentando suavizar o golpe. — Podemos aproveitar que estamos aqui, jantar tranquilamente e conversar. Quem sabe isso não ajuda a aliviar um pouco dessa raiva justa?
Miranda suspirou, claramente não convencida, mas ciente de que explodir naquele momento não resolveria nada. Além disso, Nigel sempre conseguia arrancar dela uma resposta, mesmo nos piores dias.
— Muito bem — disse ela, finalmente cedendo. — Jantar. Mas se você mencionar essa bagunça de agenda novamente, juro que vou fazer você dormir no aeroporto.
Nigel riu baixinho, aliviado por ter conseguido ao menos uma leve mudança no humor de Miranda. Ele sabia que, mesmo sob toda a frieza, ela precisava de um espaço para desabafar — e talvez, só talvez, ele pudesse ser essa válvula de escape.
O restaurante escolhido era discreto, elegante, do jeito que Miranda preferia. Assim que se acomodaram, Nigel pediu o vinho mais sofisticado da casa, enquanto Miranda permanecia pensativa, mexendo distraidamente em seus talheres.
— Então, o que realmente está te incomodando? — Nigel perguntou, após alguns minutos de silêncio. — Sei que a mudança na agenda foi inconveniente, mas há algo mais. Quer falar sobre isso?
Miranda olhou para ele, com aquela expressão indecifrável que ela usava quando ponderava sobre o quanto revelar. Finalmente, inclinou-se um pouco para a frente, como se estivesse prestes a compartilhar algo importante.
— Nigel... esses dois dias longe de Nova York são mais do que um contratempo. — A voz de Miranda estava mais baixa, mais íntima. — Estou com saudade das meninas, claro. Mas... é Andrea. Eu mal saí de Nova York e já sinto falta dela de um jeito que não sei como descrever.
Nigel, sempre o amigo sensível, assentiu, compreendendo a profundidade do que Miranda estava confessando.
— Você realmente está apaixonada por ela, não é?
Miranda piscou lentamente, como se estivesse processando aquela afirmação. Era raro ela admitir esse tipo de vulnerabilidade, mesmo para si mesma, mas, com Andrea, as coisas eram diferentes. O impacto emocional que a jovem tinha sobre ela estava cada vez mais evidente.
— Sim — disse Miranda, quase num sussurro. — E é assustador o quanto isso me afeta.
Nigel sorriu, um sorriso suave e de apoio.
— Isso é ótimo, Miranda. Você merece alguém que te faça sentir assim. Andrea sempre foi especial, e vocês duas... bem, vocês se entendem de uma forma que ninguém mais conseguiria.
Miranda ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras de Nigel. Sabia que ele tinha razão, mas lidar com esses sentimentos era algo novo e desafiador para ela. Desde que Andrea voltara para sua vida, sentia que uma nova dinâmica surgia, uma que Miranda não estava acostumada — e era exatamente isso que tornava tudo tão intenso e, ao mesmo tempo, assustador.
— Eu só queria voltar para casa logo — confessou, finalmente se permitindo relaxar um pouco. — Dois dias longe de Andrea e das meninas... parece uma eternidade.
Nigel levantou sua taça de vinho em um brinde simpático.
— Aos reencontros, então. E à paciência até lá.
Miranda ergueu sua taça e brindou com ele, com um leve sorriso nos lábios. Ainda que estivesse enfurecida com o atraso em sua volta, saber que Andrea estaria esperando por ela ao final desses dois dias tornava tudo um pouco mais suportável.
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A Cinderela do All Star Amarelo
FanficO destino, em sua trama invisível, resolveu entrelaçar os caminhos de duas mulheres que, embora separadas por tempo e circunstâncias, estavam predestinadas uma à outra. Seus encontros, antes meros acasos, agora se revelam como partes de um plano mai...