Capítulo 34

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O silêncio na suíte de Miranda era acolhedor. A luz suave de um abajur pintava a cena em tons de dourado e âmbar, enquanto Miranda e Andrea se aninhavam no sofá, após um longo dia. Seus corpos estavam relaxados, mas havia uma tensão emocional no ar. Andrea parecia distraída, mordendo levemente o lábio inferior, como se estivesse ponderando uma pergunta que não conseguia mais guardar. Ela se mexeu, buscando os olhos de Miranda, e depois de um momento de hesitação, finalmente falou.

— Miranda... Posso te perguntar uma coisa? — A voz de Andrea estava suave, mas carregada de curiosidade e apreensão.

Miranda levantou uma sobrancelha, virando o rosto em sua direção, seus olhos atentos e brilhantes, sempre prontos para desvendar o que Andrea queria. Mesmo em momentos de vulnerabilidade, a intensidade de Miranda nunca parecia diminuir.

— Você pode perguntar o que quiser, meu bem. — respondeu Miranda, sua voz baixa e tranquila, mas com a firmeza característica de alguém que sempre estava no controle.

Andrea respirou fundo, se preparando para o que sabia ser uma questão delicada, algo que estava presa dentro dela desde que se reconectaram.

— Depois daquele dia, no PUB, em Paris... — começou Andrea, observando atentamente a reação de Miranda. — Quando nos vimos pela primeira vez, eu... bem, éramos apenas duas desconhecidas. Mas você... você pensou em mim? Durante todos esses anos? Eu era só aquela garota no PUB. Nada mais.

Miranda ficou em silêncio por um momento, os olhos azuis observando Andrea, como se estivesse pesando cada palavra. Ela inclinou-se um pouco mais para frente, seus dedos roçando suavemente a mão de Andrea, criando uma conexão palpável entre elas.

— Você era muito mais do que isso para mim — começou Miranda, sua voz carregada de uma intensidade que Andrea raramente ouvia fora do escritório. — Você pode ter sido, naquela noite, apenas uma garota de All Stars amarelos para o mundo, mas para mim... — Miranda pausou, seus olhos escurecendo com a lembrança. — Você foi uma das memórias mais vívidas que eu carreguei durante todos esses anos.

Andrea sentiu seu coração acelerar com a resposta de Miranda. Era como se as palavras que ela desejava ouvir estivessem finalmente sendo pronunciadas. Mas ela precisava saber mais. Precisava entender o que havia se passado na mente e no coração de Miranda durante todos aqueles anos de silêncio.

— Mas como? — Andrea insistiu, tentando conter a urgência em sua voz. — Eu não entendo. Nós só nos vimos uma vez, trocamos poucas palavras. Você nem sabia meu nome. Como alguém pode deixar uma marca tão profunda com tão pouco?

Ela respirou fundo, desviando os olhos por um breve segundo, como se estivesse se permitindo reviver aquele momento. Quando ela voltou a olhar para Andrea, seus olhos estavam brilhando com uma sinceridade crua e rara.

— Não foi *pouco*, Andrea. Eu sei que pode parecer, mas para mim, foi tudo menos insignificante. — Miranda parou por um momento, deixando as palavras assentar antes de continuar. — Eu lembro de cada detalhe daquela noite. Do som do pub, da música, do cheiro da chuva que começava a cair lá fora. Mas, acima de tudo, lembro de você. De quando entrei e te vi sentada naquele balcão, usando aquele vestido florido e aquele All Star amarelo vibrante, com uma confiança que eu achei cativante. Eu não conseguia tirar os olhos de você. Naquele instante, algo em mim se acendeu. Fiquei por minutos à fio ensaiando como me aproximaria de você, tomada por uma timidez que nem sabia que tinha.

Andrea se mexeu na cama, surpresa pela intensidade das palavras de Miranda. O silêncio entre elas ficou mais denso, carregado por algo que elas ainda estavam descobrindo juntas.

— Você se lembra do meu All Star amarelo? — Andrea riu levemente, não conseguindo esconder sua surpresa. — Eu sempre me perguntei o que você poderia ter pensado de mim naquela noite.

— Ah, querida... Eu me lembro de muito mais do que isso. — Miranda deixou escapar uma risada suave, cheia de ternura. — Eu lembro da forma como você sorria para as pessoas ao seu redor, de como parecia confortável em ser quem você era, e de como havia algo intrigante nos seus olhos, algo que me fez querer saber mais... mesmo que eu nunca tenha tido a chance.

Andrea estava boquiaberta. Não podia acreditar que, todos esses anos, Miranda havia guardado uma memória tão precisa dela. Uma noite que, para Andrea, havia sido cheia de sonhos jovens e distrações, para Miranda, tinha sido algo mais.

— Mas o que aconteceu depois? — Andrea perguntou, querendo entender como Miranda lidou com esses sentimentos. — Quando fomos embora... você simplesmente me esqueceu?

Miranda balançou a cabeça, com um leve sorriso nos lábios.

— Não. Eu tentei, mas você estava lá, na minha mente, de forma teimosa, como algo que eu não podia controlar. A cada vez que via um par de All Stars — especialmente amarelos —, eu me lembrava de você. E ao longo dos anos, sem nem saber seu nome, você se tornou uma espécie de lembrança agridoce. Eu me pegava pensando em você, imaginando onde estava, o que estava fazendo, se um dia nossos caminhos se cruzariam de novo.

Andrea ficou em silêncio por um momento, absorvendo a intensidade de tudo o que Miranda acabara de confessar. Era quase inacreditável que, depois de uma única noite, uma mulher como Miranda Priestly pudesse ter guardado tantas lembranças dela. Andrea tocou suavemente o rosto de Miranda, traçando a linha de sua mandíbula com os dedos.

— E aqui estamos — sussurrou Andrea, seus olhos marejados pela emoção. — Depois de tantos anos. Eu nunca imaginei que aquela noite teria esse impacto em você.

— Nem eu — Miranda admitiu, sua voz baixa e cheia de emoção. — Mas você entrou na minha vida como uma tempestade, mesmo sem saber. E agora que finalmente a encontrei de novo, não pretendo deixá-la escapar.

Andrea sorriu, seu coração aquecido por aquela revelação. Ela inclinou-se para beijar Miranda, e quando seus lábios se tocaram, o peso dos anos de separação pareceu desaparecer, deixando apenas o presente – e a certeza de que, de alguma forma, seus destinos sempre estiveram entrelaçados, desde aquele primeiro encontro no PUB em Paris.

Quando se afastaram, Andrea descansou a cabeça no ombro de Miranda, fechando os olhos e se entregando àquela sensação de plenitude. O futuro ainda era um mistério, mas agora, com Miranda ao seu lado, ela sentia que estava exatamente onde deveria estar.

— E pensar — murmurou Andrea com um sorriso — que tudo começou com um All Star amarelo.

Miranda riu baixinho, beijando o topo de sua cabeça.

— Um All Star amarelo, sim. E uma mulher que eu nunca fui capaz de esquecer.

A Cinderela do All Star AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora